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Mãos de trabalho e afeto - ou protesto. Linguagem universal, sempre. |
Zerar a conta
Acho que fui um bom menino este ano. Até que enfim! Há
muitos anos eu sonhava sentir-me assim – desde que nasci, eu acho; ou, ao
menos, desde que fui “conscientizado” de que é preciso, ao termo de cada ano,
avaliar o que se fez. Nos meus tempos de bancário, cheguei a acreditar, como a
quase totalidade dos colegas, que um bom ano era aquele que, ao seu fim, tínhamos
todas as contas quitadas. Acho que vem daí o titulo destas linhas.
Enquanto me desdobrava entre vários empregos, em prejuízo
do lazer e do aprendizado, tentando alcançar um orçamento compatível,
limitei-me ao conceito supra dito acerca de “um bom ano”. Quando me distanciei
do ideal dos números para, sem qualquer sentimento de culpa, fixar-me no ideal
dos sonhos, tornei-me mais feliz. Não que eu tenha conseguido dar conta de
todas as obrigações a tempo, mas aprendi que as contas a pagar são títulos que
mesmo nos balanços de grandes empresas e governos são um registro constante.
Sofrer menos, ao menos! Adiar o que for possível, realizar
o que puder. Mas para sofrer menos (ao menos), aprendi que os sonhos se
completam dia a dia, passo a passo. Um sonho que se realiza de chofre, sem
muito empenho e sem as realizações gradativas tende a decepcionar-nos. Benditas
sejam, pois, as dificuldades! Vencê-las é a grande vitória!
Foi pensando nos tempos e conceitos de bancário e cidadão
comum, empenhado em alcançar um pouco de paz – material, ao menos; de barriga
vazia é difícil fazer um pacto com a felicidade – e estar pronto para novas
realizações no tal de Ano-Novo, ou “ano que vem”, foi que balanceei minhas
principais ações deste 2012 que já se afasta lá perto da esquina, dando adeus,
todo sorridente.
Lembrei-me que escrevi pelo menos oito prefácios, este
ano, quase todos para escritores novos, estreantes na vida livresca. Fui
editado em duas antologias – a primeira, de ex-alunos do Colégio Pedro II, lançada
no Rio de Janeiro (não pude comparecer, que pena!); a outra, uma belíssima edição
coordenada pelo confrade Hélio Moreira, médico e escriba, que, gentilmente,
convidou-me a discorrer sobre meu muito querido e saudoso padrinho literário
Anatole Ramos.
Proferi palestras em escolas públicas. Conheci professores
que se tornaram amigos queridos, gente capaz de invadir minha alma e eu lhes
agradeço por isso. Conheci alunos maravilhosos, alguns ainda no começo da
adolescência, produzindo poemas que, a despeito do domínio da técnica,
revelam-me novos modos de pensar e de viver, de encarar o mundo.
Conheci novas pessoas que, de repente, começaram a fazer
parte do meu quotidiano de leitura, de produção e crítica literária, ou ainda
do trivial diário em ambiente de trabalho, de lazer e troca de conhecimentos e
experiências.
Bem, se eu falei em balanço, e só coloco aqui meus créditos,
quero dizer-lhes que tive, sim, alguns débitos. Poucos, mas talvez pesados o
bastante para equilibrar a balança, como convém a um bom balancete. Mas...
pensando bem, foram pecadinhos perdoáveis, eu acho. Algumas mentirinhas inevitáveis
(quem não as comete é um grande mentiroso!), um avanço de sinal ou um
estacionamento atrevido e corrido em área proibida – é possível.
E por saber, com rigorosa certeza, de que está lá fora
toda uma humanidade viva e bisbilhoteira para apontar meus erros, fico por
aqui. Espalho beijos e sorrisos por todos os quadrantes de uma rosa-dos-ventos
em três dimensões, rogando aos céus que as luzes de Jesus se espalhem sobre
todos os mortais – humanos, vegetais e animais. E, parafraseando Vinícius de
Morais, “Se bênçãos ainda lhe restarem, abençoai-me também a mim”. Amém!
* * *