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sábado, janeiro 19, 2013

Na ponta dos dedos...



Na ponta dos dedos...


Lá pelos idos da minha adolescência, sofri com a exigência de ter de praticar datilografia. Praticar não é bem o termo, era preciso aprender certo, as mãos abertas sobre o teclado, cada dedo incumbido de tantas e tais teclas. Os exercícios começavam com o notório asdfg e continuava, a cada dia uma nova sequência, até que começássemos a escrever algumas palavras, depois frases, sempre na colocação adequada, o corpo bem assentado diante da mesa miúda de datilógrafo, o papel a copiar à minha esquerda, os pés posicionados assim etc. O desafio era fazer o mínimo exigido nos concursos – 150 toques por minuto. Tudo bem: nas escolas de datilografia exigiam-nos 180 toques por minuto, isso daria margem favorável...

Não tinha paciência para a disciplina dos treinamentos, queria começar escrevendo frases, não apenas copiando textos. Conscientizei-me da técnica e passei à etapa final, e em poucas semanas de trabalho ganhei a destreza necessária para não fazer feio diante das letras de fôrma que martelavam a fita que tingia o papel colado ao cilindro de borracha.

A máquina elétrica, com corretivo,
que  troquei por um carro...
As esferas IBM - cada uma com
um tipo variado.
Encantei-me das máquinas eletrônicas e tornei-me íntimo dos modelos da IBM, com aquelas esferas mágicas! Gostei tanto que adquiri, em prestações pesadas, uma dessas máquinas que, um dia, troquei por um Maverick com quatro anos de usado. Depois, comprei uma Facit em que os tipos eram numa margarida. E essa máquina, dei-a de entrada para comprar o primeiro computador, um 486, última palavra em tecnologia em 1993.

A Remigton 30 hoje é minha.
Tem perto de 100 anos.
Desde aquela Remington 30 que Dona Joana Lopes (Deus a tenha... Que coração belíssimo o de Dona Joana!) oferecia para eu treinar (tenho essa máquina comigo, adquiri-a de seu filho Hélio, que foi prefeito em minha Caldas Novas) até este computador Mac que me serve há quatro anos, sempre fui um datilógrafo/digitador razoável. Desses teclados ora mecânicos, ora eletrônicos, saíram mais de 90% dos meus textos publicados em livros, jornais e revistas – e, inevitavelmente, na Internet.



No meu blog, penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com, e nas postagens das redes sociais (Orkut e Facebook, especialmente) são milhares os comentários sobre meus textos e sob eles. Isso me enche de alegria, sejam falar favoráveis, sejam críticas severas em confronto às minhas ideias. Destes, os mais recentes vieram de Flávia Lélis, minha querida colega jornalista, destacando algo como a minha imparcialidade num conflito de opiniões sobre gestão de saúde em Goiás, qualificando-me como “coerente e responsável”. O outro veio de um estimado ex-aluno do meu inesquecível Colégio Pedro II, Liberato Caboclo, destacando o bucólico em uma crônica recente. Liberato é irmão mais velho do meu querido e saudoso colega de turma Roberto Caboclo, que se foi sem despedida, deixando uma lembrança áurea em meus sentimentos.


Ah, meu Deus! Ah, leitores! Perdoem-me por estes devaneios! Ao acarinhar por horas a fio estes teclados, em pelo menos cinco décadas de escrita mecânica, entendo que, assim como as pessoas, as ferramentas do trabalho merecem, também, o meu afeto. É que, ao agir assim, acarinho-me como gosto de fazer às amadas, aos amigos e até mesmo a algumas pessoas que reagem com indiferença.
É a vida...



Foi fácil adaptar-me ao computador e não sou conservador a ponto de ignorá-lo.


* * *

4 comentários:

Sueli Soares disse...

Dedicar afeto às ferramentas de trabalho é inalienável direito seu.
Não há porque perdoá-lo! Acompanho seu trabalho desde 2009 e quero
continuar a fazê-lo. Parabéns, mais uma vez!

Agda Santos, profa. disse...

Boa tarde Luiz!

Tudo bem com você, amigo? Espero que sim.
Olha, acabei de ler a sua crônica desse domingo (20/01/13). Gostei muito. Apenas o tenho achado um pouco saudosista ultimamente. rsrs...
O engraçado é que me identifiquei com sua descrição em relação ao curso de datilografia e também à máquina de escrever. Eu também fiz dois desses cursos na minha adolescência e fui assistente admistrativa no escritório da EMATER-GO aqui em Nerópolis por 8 anos (passei em um concurso público Estadual).
Foi divertido lembrar-me daqueles tempos em que tinha que "datilografar" tantos textos, projetos, relatórios... até que um dia chegou o meu primeiro computador. Aí tive que me atualizar. Fui para o SENAC (Goiânia) fazer um curso básico de informática. Claro que os cursos de datilografia me ajudaram muito. É por isso que atualmente sou até uma digitadora razoável, como você mesmo se considera.

Mara Narciso disse...

Meu pai era um grande datilógrafo, pois além de contador, era maníaco por falar e escrever certo, e não largava o dicionário. Lembro-me de que ele tinha uma máquina de escrever do tipo dessa mais antiga da foto. Meu irmão tentou, mas eu não fiz datilografia. Com o início do uso do computador, no comecinho de 2000, postei três dedos sobre o teclado e cá estou. Adquiri habilidade e velocidade. Erro muito, mas retorno e conserto. Bonito não é, mas dou meu recado. Acho lindo quem conhece a técnica.

Deveras disse...

Também comecei nas pesadas alavancas das máquinas de escrever: por conta disso em meus primeiros tempos de digitador, destruí vários teclados... Gostei do texto, que nos resgata de outros tempos, quando as coisas pareciam bem mais simples.

ficanapaz

Cristiano Deveras

P.S. O "Maveco" era V-8? Sonho com um desses...