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quinta-feira, março 28, 2013

O pastorputado e os radialistas loquazes


O pastorputado e os radialistas loquazes


Aos poucos, vamos nos convencendo de que nada mais nos surpreende,  como diz a netinha de 5 anos do meu querido Marco Lemos. Nem mesmo a fala, com uma pose de bom orador, do pastor Marco Feliciano, o deputado presidente da Comissão de Direitos Humanos ao assumir uma medida drástica.

Parênteses: não tenho preconceito vocabular. Aceito bem expressões como preto, gordo, velho, magricela, aleijado, cego, puta e viado (não é veado, que este é o animal; viado é síncope de “desviado de conduta” – um conceito antigo e vencido).

Na quarta-feira, o pastor deputado presidente mandou a polícia parlamentar – um grupo de brutamontes pagos com nossos impostos para dar segurança a parlamentares que só precisam disso porque agem contra os preceitos democráticos – prender um “senhor de barba que me chamou de racista”. Minutos depois, num outro auditório à prova de povo, ele pronunciou que às vezes é preciso adotar “medidas áusteras”. Nossa! Faltou lembrar que não é contra gays, apenas se comporta como um homem “púdico”.

Para legitimar a eleição do deputado mais bem votado da história, fizeram até arguição com o Tiririca; acho que deviam fazer o mesmo com os demais, pois os repórteres debochados do CQC, aquele programa jornalístico cheio de humor da TV Bandeirantes, já demonstraram que nossos parlamentares são ruins de Português, de Geografia, de História e de Matemática. Deviam voltar para a Escola de Primeiro Grau.

Mas as bobagens ditas na tevê não vêm só do populacho ou dos nossos “legítimos” representantes políticos. Atores, apresentadores, repórteres e comentaristas, de ambos os gêneros, repetem à exaustão “há anos atrás”, falam em “risco de morrer” (tentativa esdrúxula de corrigir a expressão “risco de vida”), “e nem”, “a pessoa que eu gosto”, “perdeu do adversário” e muitos outros disparates – os esportivos, então, que dizem ser os que têm maiores salários, são campeões na violência à língua.

Não se trata de exigências de uso da chamada língua culta; gosto muito da linguagem coloquial e defendo mesmo que seja esta a usada nos noticiários de rádio e tevê. Mas há que se preservar o acerto; não posso aceitar erros de ortografia, regência e concordância – isso é fundamental. Mas temos de considerar o linguajar do  povo, inclusive das periferias urbanas e do meio rural, bem como conceitos regionais – como chamar mandioca de macaxeira no Nordeste e de aipim no Rio de Janeiro; é inaceitável, para mim, que padarias das grandes redes de supermercados ponham na etiqueta “bolo de aipim” se em Goiás isso se faz de mandioca, e que o nome da quitanda (iguaria, para nós) seja “mané pelado”.

Mas na mesma quarta-feira em que o pastorputado (sim, inventei: um modo abreviado de dizer pastor deputado) Marco Feliciano inventou “áusteras”, um comentarista famoso da CBN, comentando a intervenção no Estádio João Havelange – o popular Engenhão – disse que havia dois riscos: o risco de a cobertura cair e o risco de não cair, e o prefeito escolheu o risco de cair, daí a intervenção”.

Gente! (dia desses, Henrique Morgantini comentava esse nosso modo goiano de falar; como sou bom goiano, vou repetir):

– Gente! Que beleza de estilo, hem?! Tanto jornalista bom desempregado ou ganhando uma merreca por mês e um bem-pago do sistema Globo verbaliza uma coisa dessas! Se o pastor Marco fosse diretor de jornalismo por lá, devia tomar uma medida “áustera” e demitir o fulaninho. Mas haverá sempre algum “linguista” de plantão para legitimar o que o “abençoado” jornalista falar; e, como era comum de se ouvir nos anos 50 do século passado, “se o locutor falou assim, assim deve ser o certo”.

Volto ao início para repetir: nada mais nos surpreende; e sendo assim, voltarei ao assunto sempre que necessário – ou oportuno.


* * *


3 comentários:

LUMAR disse...

É um grande prazer ler suas crônicas.
Aprendo muito com elas. Gostei da palavra "pastorputado" que retrata como nunca o Deputado em comento.
Um abraço.
Ludovina

Luiz Antônio Ungarelli disse...

Xará!!!!!

Como sempre amigo você se superando!
Esta é muito melhor que as anteriores!!!!!!
Você consegue contradizer a lei do cada vez pior!!!!!!! Kkkkkkk.
Muito boa mesmo!!!!!
Parabéns!.

Luiz Antônio Ungarelli.

Mara Narciso disse...

Uma chuva de bons conceitos em busca de derrubar os preconceitos de Marco Feliciano. Ele está tão ocupado com a fama, que se esqueceu que é limitado verbalmente. Sobre o risco de morrer, infame, diga-se, sempre impliquei que em Medicina é risco de vida, de perder a vida. Risco de morte é risco de perder a morte? Aqui vou colocar uma bem coloquial: povo besta.