O pastorputado e os
radialistas loquazes
Aos poucos, vamos nos convencendo
de que nada mais nos surpreende,
como diz a netinha de 5 anos do meu querido Marco Lemos. Nem mesmo a
fala, com uma pose de bom orador, do pastor Marco Feliciano, o deputado
presidente da Comissão de Direitos Humanos ao assumir uma medida drástica.
Parênteses: não tenho
preconceito vocabular. Aceito bem expressões como preto, gordo, velho,
magricela, aleijado, cego, puta e viado (não é veado, que este é o animal;
viado é síncope de “desviado de conduta” – um conceito antigo e vencido).
Na quarta-feira, o pastor
deputado presidente mandou a polícia parlamentar – um grupo de brutamontes
pagos com nossos impostos para dar segurança a parlamentares que só precisam
disso porque agem contra os preceitos democráticos – prender um “senhor de
barba que me chamou de racista”. Minutos depois, num outro auditório à prova de
povo, ele pronunciou que às vezes é preciso adotar “medidas áusteras”. Nossa!
Faltou lembrar que não é contra gays, apenas se comporta como um homem
“púdico”.
Para legitimar a eleição do
deputado mais bem votado da história, fizeram até arguição com o Tiririca; acho
que deviam fazer o mesmo com os demais, pois os repórteres debochados do CQC,
aquele programa jornalístico cheio de humor da TV Bandeirantes, já demonstraram
que nossos parlamentares são ruins de Português, de Geografia, de História e de
Matemática. Deviam voltar para a Escola de Primeiro Grau.
Mas as bobagens ditas na
tevê não vêm só do populacho ou dos nossos “legítimos” representantes
políticos. Atores, apresentadores, repórteres e comentaristas, de ambos os
gêneros, repetem à exaustão “há anos atrás”, falam em “risco de morrer”
(tentativa esdrúxula de corrigir a expressão “risco de vida”), “e nem”, “a
pessoa que eu gosto”, “perdeu do adversário” e muitos outros disparates – os
esportivos, então, que dizem ser os que têm maiores salários, são campeões na
violência à língua.
Não se trata de exigências de
uso da chamada língua culta; gosto muito da linguagem coloquial e defendo mesmo
que seja esta a usada nos noticiários de rádio e tevê. Mas há que se preservar
o acerto; não posso aceitar erros de ortografia, regência e concordância – isso
é fundamental. Mas temos de considerar o linguajar do povo, inclusive das periferias urbanas e do meio rural, bem
como conceitos regionais – como chamar mandioca de macaxeira no Nordeste e de
aipim no Rio de Janeiro; é inaceitável, para mim, que padarias das grandes
redes de supermercados ponham na etiqueta “bolo de aipim” se em Goiás isso se
faz de mandioca, e que o nome da quitanda (iguaria, para nós) seja “mané
pelado”.
Mas na mesma quarta-feira em
que o pastorputado (sim, inventei: um modo abreviado de dizer pastor deputado)
Marco Feliciano inventou “áusteras”, um comentarista famoso da CBN, comentando
a intervenção no Estádio João Havelange – o popular Engenhão – disse que havia
dois riscos: o risco de a cobertura cair e o risco de não cair, e o prefeito
escolheu o risco de cair, daí a intervenção”.
Gente! (dia desses, Henrique
Morgantini comentava esse nosso modo goiano de falar; como sou bom goiano, vou
repetir):
– Gente! Que beleza de
estilo, hem?! Tanto jornalista bom desempregado ou ganhando uma merreca por mês
e um bem-pago do sistema Globo verbaliza uma coisa dessas! Se o pastor Marco
fosse diretor de jornalismo por lá, devia tomar uma medida “áustera” e demitir
o fulaninho. Mas haverá sempre algum “linguista” de plantão para legitimar o
que o “abençoado” jornalista falar; e, como era comum de se ouvir nos anos 50
do século passado, “se o locutor falou assim, assim deve ser o certo”.
Volto ao início para
repetir: nada mais nos surpreende; e sendo assim, voltarei ao assunto sempre que
necessário – ou oportuno.
* * *
3 comentários:
É um grande prazer ler suas crônicas.
Aprendo muito com elas. Gostei da palavra "pastorputado" que retrata como nunca o Deputado em comento.
Um abraço.
Ludovina
Xará!!!!!
Como sempre amigo você se superando!
Esta é muito melhor que as anteriores!!!!!!
Você consegue contradizer a lei do cada vez pior!!!!!!! Kkkkkkk.
Muito boa mesmo!!!!!
Parabéns!.
Luiz Antônio Ungarelli.
Uma chuva de bons conceitos em busca de derrubar os preconceitos de Marco Feliciano. Ele está tão ocupado com a fama, que se esqueceu que é limitado verbalmente. Sobre o risco de morrer, infame, diga-se, sempre impliquei que em Medicina é risco de vida, de perder a vida. Risco de morte é risco de perder a morte? Aqui vou colocar uma bem coloquial: povo besta.
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