A vaga de
Mauro Borges na AGL
Passada a primeira semana do
falecimento de Mauro Borges, começaram os movimentos dos possíveis candidatos à
Cadeira 15 da Academia Goiana de Letras. Como se sabe, os membros eleitos das
academias de letras têm presença vitalícia nessas entidades, condição
estabelecida pela Academia Francesa, criada em 1635. Sob o seu modelo, criou-se
no Rio de Janeiro, então Capital Federal, a Academia Brasileira de Letras, em
15/12/1896. As academias regionais de cada unidade federativa seguem o exemplo
da “mater” nacional.
A ABL, idealizada por Lúcio
de Mendonça e que teve Machado de Assis como seu primeiro presidente, adotou um
dístico com a expressão latina “Ad Imortalitatem” (à imortalidade). Lendo isso,
um cidadão carioca abordou o poeta Olavo Bilac na Confeitaria Colombo, “point”
dos boêmios e literatos cariocas daquele final de século: “Quer dizer que vocês
são imortais? Como é isso?”, ao que o autor de “A flor do Lácio” respondeu:
“Sim, sou imortal, pois não tenho um couro em que cair morto”.
A “imortalidade” é uma
característica – metafórica, felizmente – dos membros das academias de letras
que seguem o padrão da “Brasileira”, como a chamamos com certa “familiaridade”.
Voltando ao propósito: a
Cadeira 15 está sem ocupante e brevemente o presidente Getúlio Targino Lima, ao
término da Sessão da Saudade, a declarará vaga, anunciando o prazo para
inscrição de candidatos. Os que se inscreverem – apresentando currículo,
provando sua condição de goiano nato ou de morador no Estado por pelo menos
cinco anos e comprovando sua condição de autor de livro – serão avaliados por
uma comissão, que confirmará ou não a candidatura; em seguida, e de acordo com
as exigências estatutárias da Academia, haverá a eleição.
Entre a segunda-feira, dia
8, e a manhã de sexta-feira, dia 12, recebi quatro telefonemas de possíveis
candidatos. Contam-me que há movimento de pelo menos outros três autores de
livros – obras literárias e técnicas, em áreas diversas. Não me comprometi,
pois espero a manifestação de dois autores com quem já me comprometi em pleitos
anteriores.
Sabe-se que costumo
proclamar com antecedência o meu voto. Não o farei mais, a partir deste evento.
É que, na penúltima eleição para novo membro, anunciei meu voto, empenhei-me na
consolidação da opinião de alguns confrades e conseguimos eleger o poeta
candidato; pois este, tão-logo se viu laureado com os votos, e antes mesmo de
empossar-se na Cadeira, cochichou a um notável jurista desta terra (seu amigo,
é claro) e este espalhou um conceito sobre mim: “É desonesto”.
Sim, devo sê-lo: afinal,
convenci alguns pares em dúvida quanto ao voto de que ele, aquele poeta, era o
melhor candidato. Por isso, sou obrigado aqui a desculpar-me ante o público
afeito às lides literárias e sobretudo ao candidato por ele derrotado. Sempre
manifestei-me com preferência para os literatos, mas errei feio naquela
ocasião.
Doravante, só declaro voto
ao candidato que me sensibilizar com seu currículo, sua obra e seu
comprometimento com a causa das letras. É que, para mim, a Academia Goiana de
Letras é o relicário onde os afeitos às letras literárias devem abrigar-se. Os
demais, que se instalem nos sodalícios de seus ofícios primordiais.
* * *
Um comentário:
Houve um tempo em que eu, afoitamente imaginava que as academias fossem meros cultos a personalidades. Embora haja muitos ciumes, o cerne principal delas é o convívio de pessoas que têm em comum o gosto pelas letras e a elas dedicaram boa parte da sua vida. É que as pessoas, quando veem atendidas as suas necessidades básicas, buscam nas letras e outras artes o crescimento espiritual. A cultura literária é um alimento civilizatório primordial. As academias acalentam não apenas os criadores literários, mas também incentivam a formação de públicos leitores, mais afeitos às coisas do espírito. E que seja escolhido um imortal comprometido com essa arte.
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