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Padre
Reginaldo Veloso, em 26 de
junho, na passeata promovida pelos estudantes no Recife, capital de Pernambuco.
Foto: Priscilla Aguiar/Site Pernambuco de A-Z
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O Brasil que
nunca dormiu
Quantos de nós, da geração
de meninos que vimos o golpe em 1964, viemos às linhas de jornais contar de
nossas vivências quando a grande mídia (jornais, revistas, rádios e tevês)
sacudiram o Brasil e o mundo com as notícias dos movimentos de ruas, nas
últimas semana? Quase todos! Exaltamos os moços que sacudiram-se do marasmo das
digitações aos celulares, saboreamos suas coragens de vir à rua, de dizer o que
pensam, de estabelecer seus critérios: “Sem partidos! Sem violência! Sem
vandalismo!”). E, melhor ainda, não tentamos ensinar nada.
Na segunda metade da minha
década de 60, recordei com saudade as bolinhas de gude lançadas nas ruas para
derrubar os cavalos dos soldados; recordei as caminhadas de braços dados,
estudantes e professores caminhando pela Rua 10 rumo à Catedral. Às primeiras
bombas e tiros, refugiamo-nos na igreja; os soldados entraram montados em seus
cavalos e atiraram, ferindo a bala o jornalista Telmo Faria e a estudante de
Arquitetura Lúcia Jaime, um coronel careca chamado Pitanga comandava, feito
moderno Átila (dos hunos), “corajosamente”, aquela horda armada contra jovens
idealistas cheios de vontades e sonhos de dignidade e liberdade.
Como tantos outros da minha
faixa – boa parte mais velhos; grande parte mais jovens – aceitei a metáfora do
“Brasil que acorda”; e fui sacudido pela foto do Padre Reginaldo Veloso que, em
passeata no Recife, na última quarta-feira (26 de junho), exigiu o cartaz: “O
Brasil que nunca dormiu saúda o Brasil que acordou”.
Isso mesmo, Padre Reginaldo!
O Brasil não dormia; os jovens, sim, despertaram. Como nós fomos despertados ao
nosso tempo. Recordei que em 1958, antes de completar 13 anos, estudante do
primeiro ano ginasial no glorioso Colégio Pedro II, passeatei pelas ruas do
Centro, no Rio de Janeiro, contra o aumento das passagens de bonde. Naquele
dia, era eu quem “acordava”, porque os meninos do colegial e os moços das
faculdades estavam despertados desde o começo da década de 50; seu
“despertador” foi, certamente, a campanha “O petróleo é nosso”.
Entre os goianos, jamais
dormiram Carlos Alberto Santa Cruz, Batista Custódio, Telmo Faria, José Sizenando
Jaime (pai da citada Lúcia) e seus filhos Bizé e Luiz, Marcantonio Dela Corte,
Paulo Silva de Jesus e seu irmão Ismael (assassinado aos 18 anos num quartel do
Exército), Fausto Jaime, Renato e Mirinho Dias Batista e seu irmão Marco
Antônio (“de aquele
menino), James Allen, os irmãos
Olga e Allan Pimentel e muitas dezenas de outros – entre estes, Nelson Guzzo
(há quatro décadas vivendo em Goiânia, foi líder estudantil no CPII dos meus
tempos), parceiro de inúmeras passeatas. saparecido” aos 15 anos; os militares que o
prenderam e deviam temer
Chega! Já se falou muito
sobre isso. Só quero mesmo, hoje, divulgar mais ainda a foto que Marcos Cirano,
de Recife, publicou no Facebook e que traduz muito bem este momento histórico.
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