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domingo, agosto 11, 2013

Importante como vestir




Importante como vestir



Era 2009; Iuri Rincon, amigo de algumas décadas, jornalista e escritor, com frequência marcante no meio  publicitário, na pesquisa histórica e tantas outras pétalas de muitas cores num mesmo leque, editava para mim um livro de crônicas. Conversávamos ao nosso modo habitual, e eu citava excrescências costumeiras nas vozes de locutores e nos textos de jornalistas e professores, sem me esquecer de advogados e executivos.

Ríamos, divertidos, e em meio a isso Iuri lembrou-me: “Isso pode dar um livro, hem?”. Sim, pode! – concordei eu. E, sem perda de tempo, corri para casa e pesquisei meus arquivos – tenho uns poucos milhares de crônicas publicadas; não foi difícil juntar algumas sob o mesmo tema e “fechar” um livro de 136 páginas – recheado também de nomes esdrúxulos. Esse livro só foi publicado em 2011.

Foi assim que surgiu “Ah, língua brasileira!”. E muita coisa acontece, todos os dias (e em todos os jornais, em todas as revistas e todas as emissoras de tevê e rádio, com os profissionais abusando do direito de se mostrarem desleixados e desrespeitosas com o idioma que, em síntese, é a sua principal ferramenta de trabalho.

Professores, advogados e jornalistas (de todos os segmentos da Comunicação), mais do que outros profissionais, são considerados referências pelo grande público; sendo assim, é bom que cuidem melhor do que falam – e do que escrevem.

Intriga-me ouvir no rádio “muito bom dia”, como se possível ou costumeiro fosse desejarmos um “mau dia” ou, ao menos, “um dia mediano” aos nossos ouvintes, não? E os economistas e jornalistas que repetem à exaustão a palavra “subsídio” como se, em lugar do S, tivéssemos Z: “subzídio”(ora: sabemos que o S, precedido de qualquer consoante, tem o seu som sibilado, ou seja, como em “aniversário”).

Os paulistanos teimam e a “coisa” está pegando em todo o território nacional (a tevê é muito forte!): as vogais, em seu “estado” puro e original, têm som aberto: a, e, i, o, u... Mas paulistas pronunciam “ê” em lugar de “e”(aberto); e exigem que, para pronunciá-la aberta, deveria ter acento. Sendo assim, o mesmo se aplicaria ao “a”e ao “o”. E eu pergunto: por que, então, eles mesmo mudaram o som de “extra” para “éstra”, hem?

Bem, meu espaço está no fim; isso é conversa boa para muito tempo – e muitas linhas escritas – mas, estou certo, podemos sempre voltar ao tema. Resumo minha opinião num exemplo indiscutível: a língua, escrita ou falada, pede elegância, também; e elegância não é, sempre, extravagância – é possível haver elegância em trajes simples, desde que de boa qualidade, sem que se recorra ao luxo; na língua a situação é a mesma.

Um executivo, político, artista, jornalista etc. que trate com desdém a própria língua esquece-se de que comete como que uma gafe ante seus interlocutores. Falar é como vestir-se, e não basta ostentar ricas logomarcas se não se sabe combinar cores e acessórios.

Em caso de dúvida, sempre podemos recorrer a alguém que nos oriente.


* * *


4 comentários:

Escrever é Pensar disse...

Gostaria que falasse mais sobre os "pecados" dos paulistas/paulistanos no que se refere as vogais abertas, Luiz.

Abraço

Luiz de Aquino disse...

Não qualificaria, seriamente, como pecados, mas como características do linguajar paulistano; a Língua é dinâmica e, claro, regional. Ou chamaríamos de pecados também as pronúncias portuguesas para as vogais (em muitos casos, o A é falado como E; e em outros, o E assume um tom tão aberto que beira o som de A, por exemplo). No Centro-Oeste e no Nordeste (suponho que também no Norte), Costumamos abrir mais as vogais (ex.: có-ração) em muitos casos e fechar em outros (tumar, em lugar de tomar; cumer, em vez de comer... ). Portanto, não existe uma regra absoluta para a pronúncia, mas o dominante em cada região, concorda? O que chamamos de carpete (aquele tapete fixado, que cobre todo o piso num ambiente) o curitibano diz ser "carpê", e penhoar, para eles (de Curitiba) é "penoar"...
Gosto de saber dessas variantes e divirto-me com as diferenças.

Tetê Lacerda disse...

Querido primo,

As barbaridades que vemos, escritas e faladas, atualmente, refletem muito bem o padrão de ensino do país, nossa representatividade parlamentar em todos os níveis governamentais e a falta de seriedade e revisão nos meios de comunicação escrita, e na falada, pelo menos ao vivo, é altamente ilustrativo disto tudo. Bjs. Teresa

Mara Narciso disse...

O que tem o tema de interessante tem de interminável. É bom ler sobre isso, e eu gosto dos seus vastos conhecimentos sobre o assunto. Aos poucos vou procurando errar menos no falar e no escrever, mas as dúvidas sempre existirão para mim.