Reeleição e
chapa única
As entidades classistas,
associativas ou representativas costumam renovar suas diretorias em períodos
estabelecidos em seus estatutos; em geral, um mandato centra-se em dois ou três
anos, e a troca tem por propósito a renovação dos quadros diretivos,
obviamente. Só que há uma prática muito comum nessas entidades, sindicatos e similares: a reeleição. Presidentes
(mais que os outros, já que vices, secretários e tesoureiros costumam ser
pretendentes, também, ao cargo máximo) sempre se apegam à cadeira e, às
vésperas da chamada para a eleição alegam “é direito meu” e lançam-se
candidatos; os companheiros de diretoria, constrangidos, tendem a respeitar
esse direito – que é, sim, um direito; mas não é obrigação.
O que um presidente que
pretende reeleger-se deve fazer é atuar, ao longo de todo o mandato, com
dedicação e eficiência, mostrando resultados a cada passo. É ser simpático e
acolhedor – mas isso não consiste tão-somente em postura, mas sobretudo em
procedimentos que promovam a união dos pares e o atendimento presto e
igualitário.
Um presidente em vias de
reeleição age como na prática genérica em política: arregimentar, novamente, os
membros de sua diretoria para constituir a nova chapa; com isso, provoca
constrangimentos a prováveis concorrentes, mantendo-os sob seu comando. Nessas
condições, tende a despertar mal-estar na equipe e alguém que lhe tenha sido
leal durante o mandato poderá modificar sua postura no mandato subsequente.
Não gosto de reeleição; nem
de chapa única. Reeleição e chapa única sempre me parecem golpe. Aceito esse
instituto no ambiente dos três níveis de governo, mas isso em entidades
setoriais é algo que me parece sempre suspeito. Não é preciso olhar longe: aqui
mesmo em Goiânia, alguns sindicatos de trabalhadores têm – ou tiveram – como
presidentes pessoas que permaneceram no cargo por décadas! A prática atinge
também instituições culturais. Como acontecia (não sei se ainda é assim) na
União Brasileira de Escritores em Goiás, por exemplo, porque uma chapa era
constituída de tantos membros que não sobravam nomes de associados interessados
para haver disputa.
Na mesma UBE de Goiás, entre
1960 e 1990, o estatuto permitia uma reeleição; e, curiosamente, em
raríssimas ocasiões apresentaram-se pessoas interessadas em competir. De
repente, e por conta de uma alteração estatutária, tirou-se da regra o limite
de dois mandatos na presidência e passou-se a ter característica de cartório.
Na Academia Goiana de
Letras, houve casos de presidentes que mantiveram-se no cargo até a exaustão,
por longos períodos. Essas missões tornam-se árduas, mormente por ser notória a
penúria financeira. Mas, convenhamos, é função que dá destaque social e
respeitabilidade política.
Atualmente, porém, a
renovação ou perpetuação de uma pessoa no posto máximo é vista de modo menos
positivo. Até mesmo o golpe militar de 1964 evitou a mesma pessoa no topo da
pirâmide – tivemos cinco presidentes sem votos populares num período de 21
anos.
* * *
5 comentários:
Excelente, meu caro Dom Luiz de Aquino! Ainda bem que estarei viajando no dia da eleição e, mesmo que não tivesse, não compactuaria com essa direção que nada fez. A AGL está acéfala. O presidente nunca está lá. Se precisar dele, é um sacrifício encontrá-lo. Tem de se trabalhar para que aquele prédio seja construido e nada se fez nesses dois anos. Estou inteiramente desencantado com a AGL. Nem o problema dos funcionários foram capazes de resolver, que dirá o prédio. Desencanto.
Outros comentários do professor e acadêmico José Fernades, lá no Facebook, sobre este texto meu:
“ Ait, dom Luiz de Aquino! Nam gratitudo, ut Cicero, ait pro Planco, virtus est non solum maxima, sed etiam mater virtutum omnium reliquarum”. Para os desavisados, isto é Latim; então, pedi-lhe que traduzisse, o que ele fez de pronto:
osé Fernandes TRADUÇÃO: "Na verdade, a gratidão, como disse Cícero, para Plancus, não é apenas a maior das virtudes, mas o pai de todas as outras virtudes." Mas, na verdade, eu coloquei essa frase só para dizer que, quando alguém fala o que se deve falar com propriedade, como fez Dom Luiz de Aquino, nessa crônica, eu digo: AIT, que quer dizer: disse! Se ait, disse, não não há mais o que discutir. A frase, entretanto, é ótima! Grande abraço, Dom Luiz!
E se corrige, dom José Fernandes: "Aliás, no lugar de pai, deve ser mãe, mater!".
Você sabe o que penso sobre reeleição: é legítima, especialmente, se houve boa gestão; do contrário, torna-se ridícula, e o melhor é bom senso e humildade. De chapa única, não gosto, pois a competição, dentro da ética e da lealdade, é saudável, mas, também, é exercício democrático ninguém se habilitar à candidatura, seja pelo motivo que for. Não democrático é tolher o direito de alguém, é ser impositivo no processo eleitoral, o que não é o caso. A disputa está aberta...
Também prefiro a não releição, em todos os níveis. Até para sindico de prédio. O problema é que pessoas dispostas a trabalhar sem ganhar são minoria. Ainda assim, esforços devem ser feitos dentro das instituições para criar pretendentes convictos, que lutem pelo espaço, e assim evitar que uma pessoa, na qualidade de presidente, se torne dono do lugar.
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