Caldas Novas: o fim do Balneário
Minha cidade natal, Caldas
Novas, tinha poucas referências: três ruas, tendo a avenida Coronel Bento de
Godoy como principal e duas paralelas – as que limitavam a Praça da Matriz, a
Sul e Norte; e umas oito ou dez transversais, de pequeno porte. Quando dos
trabalhos de asfalto (1966), alguns becos desapareceram e surgiram novas ruas –
tudo dentro do plano de urbanização que, décadas antes, fora elaborado pelo sr.
Juca de Godoy, engenheiro e poeta.
Bem, eu falava das
referências. Uma delas era a Praça da Matriz, que já se chamou também
Presidente Vargas (a ditadura não gostava de homenagens ao caudilho gaúcho) e
agora é Mestre Orlando – homenagem justa ao tabelião que foi, também,
mestre-escola e cujas filhas, todas, eram professoras normalistas.
Havia poucos veículos. Lembro-me
bem do caminhão da prefeitura – um dos três emplacados na cidade; as placas,
amarelas (particulares), vermelhas (de transporte) e a branca (oficial), tinham
os números 1-75-xx (xx era suprido por 01 a 99, ou seja, previa-se o limite de
99 veículos na cidade). Bem: um dos caminhões era da prefeitura, os outros eram:
um, do transportador Joaquim Chofer; e o outro, do fazendeiro Pedro Tupá.
Duas outras referências
fortes: o Tamburi, uma imensa árvore que foi criminosamente derrubada. Ficava
no terreno onde hoje há um parque de diversões, bem em frente ao quartel da PM,
o prédio construído por injunção do deputado (em 1960) Eliezer Penna (era a
gestão do prefeito Oscar Santos; ou de João Ala – não estou bem certo). Para
quem estava na Praça, em frente ao bar ao lado do cinema, olhando para o
Tamburi sabia-se que, logo além, na beira do córrego das Caldas, ficava o
Balneário.
Era um casarão, com a
entrada bem centralizada; nas duas alas, dois corredores com cinco banheiros
(não eram sanitários, mas salas de banho) de cada lado, perfazendo vinte
banheiras. As temperaturas variavam de 37ºC a 42ºC, com as misturas possíveis,
pois cada uma das três minas de coleta tinha graduação diferenciada.
Desde 1910, quando foi
construído pelo Major Vitor Ala (pai de André e João Ala), o balneário
tornou-se o atrativo maior para os turistas de saúde que buscavam os banhos
“milagrosos” que curavam reumatismo e alguns incômodos da pele, segundo
contava a tradição oral. Aqueles eram banhos reconfortantes; relaxantes por um
lado, estimulantes por outro – detalhes que poderei comentar noutra ocasião.
O triste, hoje, é ver o
antigo casarão secular, que passou por reformas em 1935, 1940, 1950 e daí outras mais. Num dado momento da história
da cidade, um prefeito não nativo (hoje, 90% da população “nativa” da cidade é
filha de forasteiros atraídos pelo fluxo turístico inaugurado lá por 1970)
decidiu “doar” as minas que alimentavam as banheiras da secular casa de banhos.
Preciso dizer mais? Ah, sim!
É lamentável que, além de “matar” um pedaço da nossa história, o prefeito em
questão agrediu a memória do fazendeiro Pedro Tupá, que, por lei municipal,
cede seu nome, postumamente, ao velho balneário. Ainda no ano passado, recebi
da professora Beatriz Tupá, filha do saudoso Pedro (já citado), um histórico
resumido e o desabafo ao final:
“O atual prefeito Evandro
Magal, não tem se interessado para reativá-lo, pois a água quente que jorrava
sem ser bombeada foi cedida para o clube da Asmego, e aí como reaver a água
quente, quem toma dos juízes? Assim, estamos perdendo o único patrimônio
histórico de Caldas Novas que sobrou. Os atuais vereadores não respeitam nossas
raízes, pois, são forasteiros e também estão derrubando leis anteriores e fazem
outras. Temo que o mesmo aconteça com o Balneário”.
Com
a palavra, o prefeito Evandro Magal.
* * *
5 comentários:
Puxa vida, amigo Luiz de Aquino! Lamentável a situação descrita na sua crônica de hoje! O que acontece com os governantes atuais? Será que imaginam que surgiram do nada? Que não houve história antes deles? É muito desrespeito explícito! Estarei em Caldas Novas de 15 a 19 de dezembro e gostaria muito de visitar o balneário (se ainda estiver lá)! Quiçá, um lapso de recobrança de consciência atinja o atual prefeito e prevaleça o senso da preservação histórica... Abraço da Pérola.
Fico encabulada com a limpidez das suas memórias. Jamais seria capaz de falar sobre coisas de antigos tempos em minha cidade, embora a ame tanto quanto você a sua. Faz bem em denunciar aos que deformam e destroem o patrimônio público, em geral em nome do "progresso", ainda que não saibamos muito bem o que esta palavra significa.
Luiz de Aquino,
Sua crônica sobre o Balneário me fez recordar quando era criança e meu pai
sempre ía lá tomar seus banhos relaxantes... ele adorava aquelas águas de Caldas.
Quantas vezes íamos na Pousada... era tão fácil ir lá... agora... tudo tão caro...
Mas.. adorei a crônica, foi uma viagem no tempo.
Abraços.
Nairte
A Prefeitura de Caldas Novas, em um compromisso histórico de resgate da identidade cultural da cidade, convida V.Sa., amigos e familiares para a reinauguração do Balneário Municipal.
Dia 30/06, às 17h.
Obrigado, Gabriela Azeredo Santos! Fico feliz com este desfecho! Foram-se 32 meses desde a minha crônica, que só agora tem resposta - e resposta feliz, de sua parte (pessoa que merece meu carinho, meu respeito! Lamento não poder dizer o mesmo de "outros envolvidos", rsrsrs). Tão logo possa, irei ao Balneário Pedro Tupá! De novo, meus parabéns!
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