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sexta-feira, novembro 08, 2013

Duros. E sem ternura



Duros. E sem ternura


Desde a década de 80, camisetas com um retrato estilizado de Ernesto Guevara, com a frase “Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás”tomou conta da juventude. Das juventudes, porque os jovens daquele tempo já emplacaram 50 anos. E há quem diga que o Chê nunca pronunciou tal frase – ela foi cunhada sobre sua biografia e aplicada num cartaz que se tornou tão popular quanto propaganda de coca-cola. (Alguém aí, confira se acertei na grafia; nunca estudei castelhano).

Horário de Verão, essa chatice (será chatura?)  instituída por Getúlio Vargas e que foi, algumas vezes, deixado de lado, continua a infernizar-nos a vida; Lula, quando presidente, prometeu acabar com isso, mas sua ministra de Minas e Energia convenceu-o do contrário; sendo assim, enquanto aquela ministra for presidente da República, ou enquanto o PT governar, não nos livraremos desse incômodo.

O argumento de Dona Dilma refere-se a uma enorme (!) economia de energia; mas os números citados por ela são muito menores dos que atingimos naquele apagão de 2001 apenas com campanhas de racionalização. E como acontece todos os anos, quando da vigência desse malfadado horário, os abusos continuam; e principalmente em Brasília; e notadamente em edifícios públicos, como o Congresso Nacional, os ministérios, o Palácio do Planalto e os palácios da Justiça – quer dizer, em todos os poderes. Pelo que disse nesta sexta-feira, 08/11, Alexandre Garcia (telejornal Bom Dia, Brasil, da TV Globo), somente os prédios dos ministérios da Defesa e das Minas e Energia cumpriam o ritual de economizar energia.

Mas, hão de me dizer, poder é isso. Poder é isso de mandar sem dar exemplo.

Falam em estimular o uso de bicicletas como alternativo do transporte e instrumento de exercícios, mas aplicam nada menos que 41% de impostos sobre as “magrelas”.

Empenham-se os organismos de segurança, de educação e de saúde (os mais citados pela população, do Cabo Brando à nascente do Rio Moa; do Monte Caburaí ao Arroio Chuí), mas mantém-se uma burocracia capaz de absorver grande parte dos gastos com esses segmentos fundamentais. Orgulham-se das nossas safras astronômicas, mas mantêm as rodovias mal construídas e mal conservadas, intransitáveis, e os portos obsoletos, retardando o escoamento da produção e aumentando também astronomicamente os custos de transporte.
O quotidiano da comunicação instantânea, a trivial Internet, proporciona-nos as redes sociais, pelas quais nos integramos ao mundo como jamais sonháramos há vinte anos. Mas essas tais redes, formalizadas em grupos institucionalizados nos espaços etéreos, acima das nações e de suas leis; e sobretudo acima dos conceitos de bem e mal – como bem define minha amiga Sueli Soares, mestra e causídica.

Vêm-me à mente as frases iniciais da Declaração Universal dos Direitos do Homem, datada de 1948. E recordo, também do noticiário televisivo, impresso e radiofonizado, o escândalo da espionagem dos ianques contra o resto do mundo, especialmente contra líderes de países amigos. O comandante de uma agência de espionagem do tio-sam estranha a bronca de nossa presidente e da primeira-ministra alemã; ele alega que nós – brasileiros e alemães, também espionamos os EUA.

Tempos árduos, duros, implacáveis. Tempos em que o jogo político, aliado ao poderio econômico, ignora solenemente o Homem. A ternura foi para a caçamba de lixo e o respeito ao próximo não aparece mais nem mesmo como figura de retórica.

Com tudo isso, resta-nos ainda o que nos fortalece: o retorno ao nosso restrito grupo de amigos (aqueles à antiga, não os “amigos” de redes sociais apenas) e à família. Ou perdemos de vez a capacidade individual das nossas ternuras.


* * *


Um comentário:

Beatriz Tupá disse...

Li e gosti. Parabens pela verdade explicita no seu texto.