Desconstrução
e ódio
Desde aquela Cartilha do
Politicamente Correto o desacato total à Língua Portuguesa virou instituição;
motivados pelo irônico – ou cínico
– “todas e todos” e suas variantes incontáveis (desde as “sábias” falas de Sarney),
as “autoridades” inseriram
“presidenta”, em nome de um atendimento espúrio ao movimento feminista;
na esteira, vieram coisas piores, como “oficiala” (tenho comigo um documento de
cartório em que aparece tal título) e o que me deixou perplexo: “bacharela” – este,
imposto por assédio moral a dirigentes de faculdades: mulheres formadas
receberam diplomas com essa qualificação e muitas, felizes com a excrescência,
assim assinam sofríveis artigos em jornais).
Nos programas eleitorais,
Iris Rezende fala “serão” (Futuro do Indicativo do verbo ser) e aparece na
legenda “seram”; ele fala “quilômetros” e na legenda surge “kilômetro”. E aí, fazer o
quê? A "recandidata" gaguejou sistematicamente para falar “previsibilidade”.
Surpreendi-me com outra
palavra: desconstrução. Usada à
exaustão pelos marqueteiros e militantes de Dilma, refere-se não a demolição,
mas a desmontagem. Aplicada como se pratica da atual campanha de ódio e
vale-tudo, a palavra se reveste dos conceitos da calúnia, do denuncismo
(neologismo político) e, em alguns casos, da injúria e da difamação. Aécio
disse que Dilma teria afirmado: “Em campanha a gente faz o diabo”; deve ter
dito, porque ela não o desmentiu (no debate da Band, esta semana).
Lamento que a nação, quase
trinta anos após o fim da ditadura, tenha de viver isso. A presidente Dilma teria
usado ponto eletrônico no debate na Band; tudo bem, não fosse assessor, falando
“em off”, valer-se de palavras pouco freqüentes no vocabulário dela, como
“previsibilidade”.
Foi então que entendi porque
Dilma não conseguiu defender sua dissertação de mestrado. Para se ser Mestre,
há que se ler e escrever; se não sabe falar, como escreveria? Como leria um
texto diante da banca, texto esse que poderia ser escrito por qualquer um,
mediante paga ou não; mas, ao ler, teria de pronunciar corretamente, ou seria
desmascarada.
Votei em Lula no segundo
turno de 1989; votei nele em todas as eleições subseqüentes; e por sua
indicação, votei em Dilma, a desconhecida; agora que a conheço, não voto mais.
Meus amigos petistas têm respeitado a minha postura; mas os conhecidos que não
são meus amigos agridem-me verbalmente quando percebem, por eu dizer ou por
meus atos, que não votarei na economista que não soube conduzir a economia (não
entendo: ela podia ter mantido o Henrique Meireles no governo, mas...). Não
voto naquela arrogância nem no ódio que ela impôs à militância que,
estranhamente, defende-a como ídolo, quando deveria desprezá-la por prejudicar
o partido.
Respeito os amigos, os
conhecidos e os estranhos que militam, que ostentam a estrela e a sigla PT, que
admirei quando defendia a ética e a dignidade (agora tão estranha). Respeito-os
por escolherem dentro de seus conceitos e princípios, como eu faço minhas
escolhas. Não respeito os detentores do ódio, similares a torturadores do arbítrio
– não têm, hoje, a oportunidade; se lhes dessem a ocasião e os apetrechos, teriam
prazer em prender e arrebentar.
É isso: eu não comungo com o
ódio; se fosse generalizado, eu anularia o voto pela primeira vez, justo nesta
que é a minha última eleição obrigatória.
* * *
4 comentários:
Concordo com você amigo. Não tolero o ódio e pessoas iradas!
Concordo com você amigo. Não tolero o ódio e pessoas iradas!
Essa campanha mais se parece com briga de inimigos. Falam mal do adversário, como se campanha não fosse para mostrar o que de melhor se pode fazer pelo País. Devido a todos os atos praticados pelo PT, voto em Aécio Neves.
O ódio começa entre os candidatos e varre por entre os eleitores. Eu mantenho o meu respeito a todos, até mesmo aos que não o merecem. Entendo seu desencanto, Luiz, mas não acho Dilma despreparada para pensar ou falar. Não tem o poder oratório de Aécio, que é uma máquina de discursar. Voto Dilma, mas não sou petista há nove anos, desde o mensalão.
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