O autor, em 1948... |
Tempo do saber total
Quando adolescentes, somos todos sábios. Muito sábios. Sabidos
demais: seguros de nossas convicções e de que nada existe além das nossas
cabeças repletas de informações. Ah! E ninguém consegue processar melhor
quaisquer informações senão a milagrosa máquina que vem a ser o nosso cérebro. Ao
menos era assim.
Perguntamos pouco, porque quase ninguém será capaz de
preencher satisfatoriamente a curiosidade de um adolescente, e isso se aplica
gravemente aos adultos. Algum adulto dominará os polegares com a mesma destreza
de nossos polegares ao celular?
Num passado que vai muito além do “primeiro horizonte”, isto
é, do solene momento do meu nascimento, alguém andou dizendo que “uma imagem
vale mais que mil palavras”. Se é assim, para que palavras? Fiquemos só com as
imagens, Véio! Um professor mostrou uns desenhos muito mal feitos, diz que
foram feitos pelos tais homens das cavernas; e chamou aquele trem lá de
“rupestre”, sei lá... E depois vinham uns desenhos muito caprichadinhos, mas o
desenhista só via as pessoas e os bichos de perfil; falou em hieróglifos. Depois,
mostrou uns rabiscos estranhos e falou que eram “as escritas através dos
tempos”; este jeito nosso de escrever, disse ele, é o que se tem de mais
moderno.
Tadinho dele! Sabe de nada... só escreve deste jeito muito
arrumadinho, cada verbo no seu tempo e seu modo (diz ele), cuida de ortografia,
regências e concordâncias. Que é isso, Véi! Ah, mas o cara tem mais de 35 anos,
é muito véio! Já tem uns cabelos brancos.
Na aula de ontem, ele deu uma de atual. Escreveu no quadro:
http://www.sensacionalista.com.br/2014/10/07/depoimento-dou-pra-qualquer-homem-que-saiba-usar-a-crase/
... e disse que devíamos ler isso. E liberou para ligarmos
nossos tablets e celulares.
Véi! Que doido! Uma mulher escreveu que queria ser normal,
tem 39 anos, queria estar casada e ter dois filhos e tal, mas que não consegue
ficar com um cara que não sabe usar a crase. E o professor falou de uma escritora
gaúcha que escreveu que “o ponto G está no ouvido feminino”.
Eu li aquilo lá e pensei no cara que falou das imagens – “Uma
imagem vale por mil palavras”. Pensei no complicado que é um cara conjugar
verbos e colocar cada variação no lugar certo numa frase, e a rima levou-me à
crase (que fase!). E o professor falou que o bom Português nos leva muito além
do vestibular – é o passaporte para os concursos públicos e sua falta é a razão
maior da reprovação de uns 85% dos bacharéis que tentam obter carteira da Ordem
dos Advogados do Brasil.
Acho que meu avô era mais sábio...
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2 comentários:
Coisas de um dos seus netos e referências a sua pessoa, certamente. Bem, pela foto já dá para deduzir. É o negócio da imagem e as palavras...
Olá amigo Luiz, hoje ficou difícil chegar ao ponto G da sua crônica, bem escrita é claro, mas cheia de armadilhas, e de truques, onde embaralhastes palavras, letras, como em um número de mágica onde nossa atenção fica concentrada no objeto propositalmente mostrado pelo mágico, e deixamos de ver aquilo que ele insiste em esconder. Parabéns, conseguistes, me fez pensar...ler várias vezes, de cima prá baixo de baixo prá cima, e descobri que dominas muito bem as palavras...magnífico! não poderia ser diferente és um poeta.
Agora quanto ao outro artigo, não o seu, mas aquele que foi escrito para ser engraçado e crítico, nada acrescentou, pois não trouxe soluções ao problema sério que é o estudo e aprendizado da nossa língua mãe, que digam os professores que enfrentam todos os dias as dificuldades de passar para os alunos, as regras gramaticais, o gosto pela leitura e a escrita correta, não conseguindo fazer com que se debrucem sobre os livros, então considero que o artigo serviu apenas para nos divertir e também para preocupar aqueles que escorregam...caem, quando tem que escrever e erram...mas quem cai, levanta e segue em frente.
Quanto a sua foto de menino, que lindo, perninhas grossas, dedinhos lindos segurando sua violinha e dedilhando sua cordas, que fofo, me trouxe saudades da minha infância que já vai longe.
Quanto a namorada...ela há de crasear bem pode ter certeza.
Uma braço.
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