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sábado, maio 23, 2015

Educação, ciência e amor

Educação, ciência e amor


Manhã de sábado, apronto-me para ouvir uma palestra. O tema, “Neurociência e aprendizagem”, confiado à competência da psicóloga Kandy Gifford, especializada em psicologia infantil, pioneira em Goiânia. Ela demonstra, desde as primeiras frases, sua familiaridade com as crianças: as relações em família e em sociedade, as posturas e percepções dos pequeninos – enfim, um conjunto de coisas que entendo ser a Educação Infantil. Convidada (o termo melhor é intimada) pelo neurologista Luiz Fernando Martins, diretor de Ensino e Pesquisa do Hospital de Urgências de Goiânia (foi no auditório do HUGO que se deu o evento), explicou que recebeu o tema mas resolveu mudar o título para “Feridas que não cicatrizam”.

Ora: a Neurociência, diz a Wikipedia, “é o estudo científico do sistema nervoso”. E sob essa definição simples, acha-se a extensão de sua importância como “uma ciência interdisciplinar que colabora com outros campos como a educação, química, ciência da computação, engenharia, antropologia, linguística, matemática, medicina e disciplinas afins, filosofia, física, e psicologia”.

Gostei muito! Uma palestra que precisa ser estendida a professores e pais, os responsáveis diretos pela formação das novas levas de humanidade que em breve, muito breve, traçarão os rumos do mundo e produzirão para assegurar a vida e sua qualidade, a sobrevivência e sua conveniência. Educação, enfim – um item tão desprezado pelas autoridades nacionais nos três níveis de governo.

Kandy Gifford falou das vantagens e das inquietações do pensar e enfatizou que “o nascedouro do aprender está na relação mãe-bebê” (como sou goiano e antigo, prefiro neném). Essa frase remeteu-me à Encíclica Mater et Magistra (Mãe e Mestra), do Papa João XXIII, divulgada ao mundo católico em 1961 (algum ato falhou fazia-me crer que era de um século atrás, mas são apenas 54 anos). E lembra que o segundo passo inclui o pai.

Aprendi muita coisa. É certo que revivi muitos conceitos e aprendizados anteriores, mas muita coisa nova veio a mim, que me orgulho de ser um eterno aluno, um sujeito disposto a acrescentar sempre na minha sempre incipiente sacola de conhecimentos. E a palestrante traz uma riqueza de belas frases, frases eficientes no conceito de criança, no entendimento de pai e mãe – de educadores. E uma que marquei como das mais importantes é: “Agressão verbal faz tanto mal quanto agressão física”, à qual ela acrescenta outras de excelente efeito, como: “Educar é um ato amoroso”, para arrematar com essa máxima chocante: “As feridas da alma não aceitam remédios nem ataduras”.

Anotem aí, leitores queridos, mais algumas:

“A criança é uma pessoa, não uma réplica da mãe ou do pai”

“Estamos com tendência de medicar a vida” – e destaca o modismo de diagnósticos, dos quais muitos são precipitados e, por isso mesmo, inadequados. E ilustra magistralmente: “Tanto se fala em TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade)... mas se chegamos a uma escola na hora do recreio, todas as crianças ali estarão com TDAH”.

Os diagnósticos, diz a especialista, devem ser emitidos em análises interdisciplinares. E destaca o quanto é fundamental respeitar as crianças, respeito esse resulta do amor – e finaliza com a frase que absorvi sem disfarçar a emoção:

“Tudo na vida há de ser dosado, contido; mas amar é algo que se pode fazer com abundância. O único excesso que se pode ter na vida é o amor”.


* * *

Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

Um comentário:

Mara Narciso disse...

Ainda hoje discute-se sobre a existência do TDAH. Quem não o reconhece deveria conhecê-lo na imagem dos meu filho aos 4 anos de idade, quando foi expulso da escola. Sei que há diagnósticos e medicalização em excesso, mas ainda bem que existe a Ritalina para salvar as nossas crianças hiperativas da exclusão. E, finalizando, muito amor nunca é demais.