Educação,
ciência e amor
Manhã
de sábado, apronto-me para ouvir uma palestra. O tema, “Neurociência e
aprendizagem”, confiado à competência da psicóloga Kandy Gifford, especializada
em psicologia infantil, pioneira em Goiânia. Ela demonstra, desde as primeiras
frases, sua familiaridade com as crianças: as relações em família e em
sociedade, as posturas e percepções dos pequeninos – enfim, um conjunto de
coisas que entendo ser a Educação Infantil. Convidada (o termo melhor é intimada)
pelo neurologista Luiz Fernando Martins, diretor de Ensino e Pesquisa do
Hospital de Urgências de Goiânia (foi no auditório do HUGO que se deu o evento),
explicou que recebeu o tema mas resolveu mudar o título para “Feridas que não
cicatrizam”.
Ora:
a Neurociência, diz a Wikipedia, “é
o estudo científico do sistema nervoso”. E sob essa definição simples, acha-se
a extensão de sua importância como “uma ciência interdisciplinar que colabora
com outros campos como a educação, química, ciência da computação, engenharia,
antropologia, linguística, matemática, medicina e disciplinas afins, filosofia,
física, e psicologia”.
Gostei
muito! Uma palestra que precisa ser estendida a professores e pais, os
responsáveis diretos pela formação das novas levas de humanidade que em breve,
muito breve, traçarão os rumos do mundo e produzirão para assegurar a vida e
sua qualidade, a sobrevivência e sua conveniência. Educação, enfim – um item
tão desprezado pelas autoridades nacionais nos três níveis de governo.
Kandy
Gifford falou das vantagens e das inquietações do pensar e enfatizou que “o
nascedouro do aprender está na relação mãe-bebê” (como sou goiano e antigo,
prefiro neném). Essa frase remeteu-me à Encíclica Mater et Magistra (Mãe e Mestra), do Papa João XXIII, divulgada ao
mundo católico em 1961 (algum ato falhou fazia-me crer que era de um século
atrás, mas são apenas 54 anos). E lembra que o segundo passo inclui o pai.
Aprendi
muita coisa. É certo que revivi muitos conceitos e aprendizados anteriores, mas
muita coisa nova veio a mim, que me orgulho de ser um eterno aluno, um sujeito
disposto a acrescentar sempre na minha sempre incipiente sacola de
conhecimentos. E a palestrante traz uma riqueza de belas frases, frases eficientes
no conceito de criança, no entendimento de pai e mãe – de educadores. E uma que
marquei como das mais importantes é: “Agressão verbal faz tanto mal quanto
agressão física”, à qual ela acrescenta outras de excelente efeito, como:
“Educar é um ato amoroso”, para arrematar com essa máxima chocante: “As feridas
da alma não aceitam remédios nem ataduras”.
Anotem aí,
leitores queridos, mais algumas:
“A criança
é uma pessoa, não uma réplica da mãe ou do pai”
“Estamos
com tendência de medicar a vida” – e destaca o modismo de diagnósticos, dos
quais muitos são precipitados e, por isso mesmo, inadequados. E ilustra
magistralmente: “Tanto se fala em TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade)... mas se chegamos a uma escola na hora do recreio, todas as
crianças ali estarão com TDAH”.
Os
diagnósticos, diz a especialista, devem ser emitidos em análises
interdisciplinares. E destaca o quanto é fundamental respeitar as crianças,
respeito esse resulta do amor – e finaliza com a frase que absorvi sem disfarçar
a emoção:
“Tudo na
vida há de ser dosado, contido; mas amar é algo que se pode fazer com
abundância. O único excesso que se pode ter na vida é o amor”.
* * *
Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Ainda hoje discute-se sobre a existência do TDAH. Quem não o reconhece deveria conhecê-lo na imagem dos meu filho aos 4 anos de idade, quando foi expulso da escola. Sei que há diagnósticos e medicalização em excesso, mas ainda bem que existe a Ritalina para salvar as nossas crianças hiperativas da exclusão. E, finalizando, muito amor nunca é demais.
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