Preconceitos:
da geografia à simpatia política
Em 28 de julho
de 2006 – sim, há quase nove anos! – publiquei uma crônica sob o título “De
Goiás”, não “do Goiáis”. Comecei assim: “Na falta de mais ‘argumento’ para
ridicularizar os goianos, inventou-se, em Brasília, de se referir a Goiás
antepondo-se o artigo”. Semana passada, o leitor Evando Oliveira postou
comentário, deixando claro que a ignorância, o preconceito e a provocação
continuam – e tudo isso vem de “artistas” com nível cultural bem abaixo do
ideal, cometendo erros crassos de linguagem, flexão, gramática, estilo e muita
coisa mais.
Aliás, é notável
ler comentários em blogs. No meu – http://penaporsiaporluizdeaquino.blogspot.com – são cerca de
quatro mil comentários, em cerca de 750 crônicas publicadas nestes nove anos
(desde que Deolinda Taveira o criou para mim). Não consigo transcrever aqui todos
os comentários a propósito da citada crônica, mas posso bem contar quem os
assina – o professor gaúcho Emílio Pacheco, a mineira Rita de Cássia (moradora
de Brasília), meu amigo goiano (também residente em Brasília) Herondes Cezar
(ele não debocha nessa locução), Wagner Noleto (saudade de você, amigo velho!),
a jornalista mineira (de BH) Ariadne Lima, o poeta paulista André Luís Aquino,
a jornalista (daqui mesmo) Rose Mendes, a professora Cláudia Pereira (carioca,
moradora de Ouro Preto, MG, poetisa e pesquisadora), a poetisa goiana Nazarethe
Fonseca, a advogada carioca Helena Coutinho e uma anônima conterrânea que, dois
anos após a publicação (na época, vivia em Atlanta, nos Estados Unidos), separa
bem as situações, dizendo ter “nascido EM Goiás” mas que é “DO Goiás” porque é
o “verdão” o seu time amado. Aos que se interessarem, a crônica e os
comentários estão em http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.br/2006/07/de-gois-no-do-goiis.html?showComment=1433891616858#c1708646694216672710.
E transcrevo, a
seguir, o comentário recente, do citado Evando Oliveira:
“Pois é... – diz
ele - , 2015 e o assunto continua atual. Um dia desses surgiu uma tal de “Melô
do DF”, de um fulano que se diz comediante. Além da péssima qualidade de “obra”
e da coreografia sofrível, o fim é uma ofensa dupla aos goianos: apesar de
todas as mazelas do DF, ele agradece por não morar NO Goiás, em seguida,
questiona a inteligência de quem é DO Goiás. Morei 10 anos no DF (aqui, sim é
NO) e sempre senti o preconceito dos candangos, principalmente daqueles que
falam reZistro, tu tá, rambora, vinhé etc.” (os grifos são de Evando).
Ora! Desde a
campanha eleitoral do ano passado, polarizada, no plano nacional, entre a
presidente Dilma Rousseff, do PT, e o senador Aécio Neves, do PSDB, o Brasil
deixou de ser vinte e seis Estados e um Distrito Federal para dividir-se entre
os prós e os contras. Basta que um petista diga “bom dia” para que um
oposicionista ligue o desconfiômetro na linha da “teoria da conspiração”, ou
que um insatisfeito com o sistema vigente passe na calçada do outro lado da rua
para que o governista o xingue de coxinha. Intriga-me: o que é coxinha na
cabeça dos populistas pró-governo? E o que são bolcheviques para os alinhados
com a oposição – como o comentarista “político” Arnaldo Jabor e sua grei?
Nas redes
sociais, o preconceito geográfico, que motivou a minha crônica de 2006, saiu de
moda para instalar-se o sectarismo ideológico (para uns), fisiológico (para
outros) e meramente “racial” para os demais – estes, os que não conseguem
sequer explicar porque odeiam o PT e seus aliados e que ignoram solenemente,
por exemplo, que nos oito anos de Fernando Henrique o funcionalismo público e
os trabalhadores das empresas estatais ficaram absolutamente sem correção de
seus salários, com o dólar sendo multiplicado por cinco e os privilegiados
daquela dinastia, como juízes e procuradores, tornaram-se os barões da atual
monarquia, já que o PT também não conseguiu democratizar os rendimentos de
professores, militares, servidores de nível médio e fundamental.
* * *
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Belo texto, caro Aquino, vê-se que o que acontece em relação a Goiás, é repetido à exaustão pelo Brasil a fora: tem os brasileiros e os que tem o Brasil por propriedade. Pobre do "meu Brasil brasileiro", diria o outro. Abraços. Pedro.
Não entendo bem essa imposição para se falar "do Goiás". Quando fui fazer Residência Médica em Belo Horizonte (1980 a 1982), saindo de Montes Claros, fui recebida com intenso preconceito da fala. Daqui lá são 420 km. Aqui se diz simplesmente "onde está Diogo"? Criticavam-me pedindo que eu dissesse "onde está o Diogo"? Nunca dei bola, e acho que são regionalismos e não propriamente erros. No seu caso, como no meu, parece haver preconceito. Gosto quando você escreve sobre a palavra falada e escrita. Aprendo muito.
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