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sábado, fevereiro 20, 2016

As honras e as batatas

As honras e as batatas



Houve um tempo em que eu me concentrava, todos os dias, para a produção de uma crônica. Isso se deu aqui mesmo nas páginas do DM, e também em outros veículos. Mesmo naquelas condições, sempre tive temas de sobra, ou seja, nunca, nestes quase 50 anos de ofício, escrevendo para periódicos, embasbaquei-me na falta de assunto – como dizem alguns colegas, eventualmente. Agora mesmo, sentei-me disposto a falar sobre o descaso oficial para com o ensino da Língua nas escolas e sua prática em família e na sociedade (no trabalho, inclusive).

Pensei em atrelar o caso das palavras estrangeiras que absorvemos, umas aportuguesamos (ou abrasileiramos), outras buscamos manter tal como são em sua origem, pelo som e pela grafia, e me deparo com o perfil de Oloares Ferreira, um coleguinha que estimo muito pela competência e pelo ser humano e cidadão de todos conhecido, e vejo lá uma justa homenagem às mulheres que integram a Polícia Militar de Goiás, nestes dias em que festejam 30 anos.

Orgulho-me muito, e silenciosamente, quando vejo uma mulher fardada, seja ela combatente ou dos quadros da saúde e outros. Recordo-me (talvez Valdivino Braz se lembre também) dos meus escritos – crônicas, artigos e notas curtas – propondo a criação de um Corpo Feminino na PM goiana. E, contei isso ao Oloares, lembro-me que Dona Maria Valadão pediu ao comandante geral da PM, Aníbal Coutinho, um estudo sobre isso, o que foi feito. Mas o governador Ary preferiu engavetar o estudo, que foi levantado por seu sucessor, Iris Rezende Machado, a quem coube os louros dessa iniciativa.

Meus parabéns, pois, à Polícia Militar, que se fez mais humanizada com a presença feminina, e às mulheres que se orgulham de seus uniformes, de seu ofício, de sua carreira!

E volto à Língua... Zanilda Freitas, amiga querida, atriz e poetisa (além de competente farmacêutica), estranha que eu escreva xópin (para shopping) e xou (para show). Esclareci: são palavras fáceis de pronunciar, muito usuais no Brasil e não vejo razão para repetir o que fazemos com short, que deveríamos grafar xorte. “Centro de compras” soa bem, mas é longo, como “espetáculo” também – daí eu escolher os nomes ingleses, mas aplicar-lhe uma escrita bem nacional.

Foi assim com “leader”, que virou líder. Com lanche, que vem de “lunch”. E o “record” inglês, com acento na vogal E, que entre nós virou recorde (paroxítona em português, mas surpreendo-me falando recorde). E estranho muito que falemos Flórida, se essa é a pronúncia inglesa para a hispânica florida, que se escreve e pronuncia igual em Português.

E nessas divagações sobre a prática, o ensino e o aprendizado da Língua, chega-me um vídeo da TV Globo em que Renata Vasconcelos e Alexandre Garcia noticiam e comentam a “tolerância” do Ministério da Educação ante a aplicação a qualquer custo da fala e da escrita. Garcia destacou que o próprio MEC afirma que, em concursos e testes oficiais, sempre será exigida a Língua Culta.

Ora: caímos no que digo sempre. Essa falsa tolerância ante o errado tem endereço certo – manter uma “reserva de mercado” às avessas para os que não aprendem bem, esses que são aprovados “para não serem constrangidos”. Para estes, restam os trabalhos que a própria sociedade qualifica como “sub-emprego” (preciso do hífen, pois a pronúncia o exige) e, aos que assimilaram as regras gerais (e a prática) da tal Língua Culta, estes passarão em concursos para os mais elevados cargos – os de melhores salários e maior destaque social.

E os que se sentirem vencedores quando aprovados (na escola) sem o conhecimento próprio (quem o governo não respeita)... Ah, a esses, as batatas!


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Luiz de Aquino é membro da Academia Goiana de Letras.


2 comentários:

Sueli Soares, professora e advogada. disse...

Muito interessantes ambas abordagens! Sempre tive cuidado com o emprego dos estrangeirismos e procuro valorizar a nossa Língua (adoro vê-la escrita dessa forma), porque aliado à obrigação sinto prazer. Algumas palavras têm equivalentes na Língua Portuguesa (insisto na escrita) e outras não; estas já incorporadas aos nossos costumes, sem o emprego das necessárias aspas. Acho que morrerei sem conhecer muitos fenômenos e as batatas, se nada mudar, serão o único alimento no futuro.
Quanto às nossas militares, alimento dois sentimentos: inveja e orgulho. Confesso inveja, por ter sido jovem numa época em que a carreira era exclusiva dos rapazes e o preconceito me frustrou. Transbordo de orgulho, ao ver algumas ex-alunas realizarem meu sonho e eu ter contribuído para que elas chegassem lá. São muitas as histórias de superação das minhas meninas de Escola Pública. "Explode Coração!" - Gonzaguinha

Leda Selma, presidente da Academia Goiana de Letras disse...

Primeiramente, parabéns por valorizar a mulher policial, por reconhecer-lhe a competência e a capacidade de humanizar a Corporação. É muito bom, para nós, mulheres, esse incentivo masculino para que ocupemos mais espaços, para que ousemos sempre, para que mostremos eficiência no mercado de trabalho, nas letras, nas artes, onde quer que haja desafios. O mundo era dos homens, hoje, eles o dividem com as mulheres e tudo ficou melhor. A cultura machista criou a 'moral masculina' e a 'moral feminina', sob a regência de dois pesos e duas medidas, isso subjugou e humilhou a mulher, criou tabus, preconceitos e demarcou fronteiras ridículas e injustas, no decorrer dos tempos. Agora, a mulher está aí, competindo, conquistando, no topo do comando, notabilizada pela competência, pelo olhar visionário e provando que frágil era a insegurança do homem quanto à ascensão feminina, frágil é o fio tênue da vida que sustenta tanto homens quanto mulheres e não, sua condição de feminina. E viva nós!!!

Já costumeiro, um texto consistente, com desenvolvimento do tema bem fundamentado, sob um tom crítico que incita o leitor à reflexão. Parabéns de novo! Beijão. Lêda