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domingo, julho 31, 2016

Muro de ódio em Hidrolândia

Muro de ódio em Hidrolândia


Quando escolhi viver em Hidrolândia, sabia bem que não escolhia o paraíso – mas um local onde pudesse tentar criar o meu próprio paraíso, com a natureza possível (e cada dia menos natural) e o próprio propósito de viver melhor. Sabia bem que teria o convívio da paz sempre ameaçada, pois as cidades crescem de modo incontrolável e todos estamos sujeitos a pessoas e seus feitos nem sempre amistosos.

Não estou falando de políticos já carimbados com as suspeitas do eleitorado e da população mal servida, mas de atitudes de violência velada, de intolerância ou de uma discriminação humilhante.

Refiro-me, especificamente, à “nova direção” de um posto de combustíveis, distante um km ao norte da principal entrada de Hidrolândia, isto é, em direção a Goiânia, na BR-153. Em breve, com as exigências do surpreendente crescimento da cidade, o ponto a que me refiro será a Entrada Norte de Hidrolândia.

Pois bem! Desde quando, há pouco mais de dez anos, adquiri o terreno onde moro, o ponto de acesso era esse, onde um empreendedor construiu o posto citado. Contudo, os preços de gasolina e etanol não eram convidativos, escolhíamos abastecer na cidade ou num outro posto, nas imediações do condomínio Terra do Boi, a meio caminho até Aparecida de Goiânia.

A “nova direção” teve, de imediato, uma atitude simpática – reduziu os preços – a gasolina caiu de R$ 3,99 para R$ 3,68, e o etanol, de R$ 2,97 para os suportáveis R$ 2,45. Mas foi só! A referência para os amigos era simplesmente essa: Entre no Posto Ale / Emaús e percorra um quilômetro para chegar à entrada do condomínio (moro no Estância da Águas).

Há uns dez dias, fomos surpreendidos com a construção em pouquíssimas horas de um muro impedindo-nos chegar ao Posto, de onde acessamos a BR-153. Ficou claro e indiscutível que não éramos bem-vindos ao estabelecimento comercial. A um dos membros do Conselho do nosso condomínio o gerente argumentou que nossos carros faziam muita poeira.

Ora! Estamos na seca, somos poucos os veículos a fazer poeira e já nos tornáramos clientes de seu posto – mas o nosso pouco dinheiro não interessa ao moço, que só quer mesmo os caminhões de pernoite em seu pátio.

O que me pergunto é: a prática contumaz do percurso não caracteriza serventia ou servidão? O condomínio e a via que percorremos para ali chegar já existia bem antes do posto. A alternativa que temos é um trecho de uns 50 metros entre o muro do posto e o da Copac – empresa que ocupa um vasto terreno ao lado – mas a alça de acesso a essa via carece de adaptação, bem como há que se remover um imenso totem do próprio posto, mal colocado justo no trajeto dessa via.

Não vimos ação da fiscalização municipal. Há que se admitir o direito de um estabelecimento comercial cercar-se de muros – mas não é comum em postos de serviços a veículos. Ou esse gerente pensa em murá-lo todo, instituir cancelas de controle para inibir pequenos consumidores, como o famoso Postão Aparecida (que ainda assim acolhe bem aos que lá adentram)?
Ao prefeito Paulinho, de Hidrolândia, deixo um apelo. Que ele mande vistoriar a malfadada obra do muro e, caso se admita a permanência daquele péssimo item de marketing da empresa Kurujão (a nova direção do posto), que se regularize o acesso entre a Copac e o posto – mas, indispensavelmente, e para não levantar poeira para o sensível nariz do gerente, por favor, mande asfaltar a pequena estrada. São apenas 1.600 metros.


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

2 comentários:

Mara Narciso disse...

Gasolina e álcool a preços justos. Todos merecem isso. Bem queixado e bem falado, educadamente, pois inimigos já temos sem os provocarmos.E que todos possam transitar em segurança.

Adriano Curado disse...

Luiz, vá ao Ministério Público. Trata-se de direito difuso e coletivo e o Promotor de Justiça certamente atuará.