Muro de ódio em
Hidrolândia
Quando
escolhi viver em Hidrolândia, sabia bem que não escolhia o paraíso – mas um
local onde pudesse tentar criar o meu próprio paraíso, com a natureza possível
(e cada dia menos natural) e o próprio propósito de viver melhor. Sabia bem que
teria o convívio da paz sempre ameaçada, pois as cidades crescem de modo
incontrolável e todos estamos sujeitos a pessoas e seus feitos nem sempre
amistosos.
Não
estou falando de políticos já carimbados com as suspeitas do eleitorado e da
população mal servida, mas de atitudes de violência velada, de intolerância ou
de uma discriminação humilhante.
Refiro-me,
especificamente, à “nova direção” de um posto de combustíveis, distante um km
ao norte da principal entrada de Hidrolândia, isto é, em direção a Goiânia, na
BR-153. Em breve, com as exigências do surpreendente crescimento da cidade, o
ponto a que me refiro será a Entrada Norte de Hidrolândia.
Pois
bem! Desde quando, há pouco mais de dez anos, adquiri o terreno onde moro, o
ponto de acesso era esse, onde um empreendedor construiu o posto citado.
Contudo, os preços de gasolina e etanol não eram convidativos, escolhíamos
abastecer na cidade ou num outro posto, nas imediações do condomínio Terra do
Boi, a meio caminho até Aparecida de Goiânia.
A
“nova direção” teve, de imediato, uma atitude simpática – reduziu os preços – a
gasolina caiu de R$ 3,99 para R$ 3,68, e o etanol, de R$ 2,97 para os
suportáveis R$ 2,45. Mas foi só! A referência para os amigos era simplesmente
essa: Entre no Posto Ale / Emaús e percorra um quilômetro para chegar à entrada
do condomínio (moro no Estância da Águas).
Há
uns dez dias, fomos surpreendidos com a construção em pouquíssimas horas de um
muro impedindo-nos chegar ao Posto, de onde acessamos a BR-153. Ficou claro e
indiscutível que não éramos bem-vindos ao estabelecimento comercial. A um dos
membros do Conselho do nosso condomínio o gerente argumentou que nossos carros
faziam muita poeira.
Ora!
Estamos na seca, somos poucos os veículos a fazer poeira e já nos tornáramos
clientes de seu posto – mas o nosso pouco dinheiro não interessa ao moço, que
só quer mesmo os caminhões de pernoite em seu pátio.
O
que me pergunto é: a prática contumaz do percurso não caracteriza serventia ou
servidão? O condomínio e a via que percorremos para ali chegar já existia bem
antes do posto. A alternativa que temos é um trecho de uns 50 metros entre o
muro do posto e o da Copac – empresa que ocupa um vasto terreno ao lado – mas a
alça de acesso a essa via carece de adaptação, bem como há que se remover um
imenso totem do próprio posto, mal colocado justo no trajeto dessa via.
Não
vimos ação da fiscalização municipal. Há que se admitir o direito de um
estabelecimento comercial cercar-se de muros – mas não é comum em postos de
serviços a veículos. Ou esse gerente pensa em murá-lo todo, instituir cancelas
de controle para inibir pequenos consumidores, como o famoso Postão Aparecida
(que ainda assim acolhe bem aos que lá adentram)?
Ao
prefeito Paulinho, de Hidrolândia, deixo um apelo. Que ele mande vistoriar a
malfadada obra do muro e, caso se admita a permanência daquele péssimo item de
marketing da empresa Kurujão (a nova direção do posto), que se regularize o
acesso entre a Copac e o posto – mas, indispensavelmente, e para não levantar
poeira para o sensível nariz do gerente, por favor, mande asfaltar a pequena
estrada. São apenas 1.600 metros.
*****
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Gasolina e álcool a preços justos. Todos merecem isso. Bem queixado e bem falado, educadamente, pois inimigos já temos sem os provocarmos.E que todos possam transitar em segurança.
Luiz, vá ao Ministério Público. Trata-se de direito difuso e coletivo e o Promotor de Justiça certamente atuará.
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