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sábado, julho 16, 2016

"Quem manda sou eu!"






 Paulo Garcia acreditou na memória curta e abandonou, sem justificativas,
o grandioso projeto de Kleber Adorno  e Iris Rezende.




“Quem manda sou eu!”



A frase que nos dá o título foi complemento sonoplasta para os murros do prefeito Paulo Garcia na mesa, ante o editor Antônio Almeida e uma vereadora, em audiência para se tentar manter – eu diria resgatar – a Coleção Prosa e Verso. Para quem não se lembra, era um projeto de Kleber Adorno, o mais atuante dentre todos os secretários de Cultura (e já tivemos alguns que se perfilam ao seu lado no mesmo pódio) no Estado e na Capital.


Vamos recordar: Iris Rezende Machado voltou à prefeitura de Goiânia, pelo voto popular, na eleição de 2004. Nós, escritores e artistas, torcemos nossos narizes, pois o maior líder do PMDB fora governador duas vezes antes (eleito em 1982 e 1990); no primeiro mandato, nomeou um político rio-verdense totalmente desvinculado dos segmentos culturais, e nada se fez; no segundo, fechou a Secretaria da Cultura.


Kleber Adorno

Isso justificava nossa descrença. Porém, afirmava Kleber Adorno, Iris queria, sim, redimir-se daquelas duas falhas e buscou fazê-lo a contento. Dentre outras iniciativas louváveis, cobrindo todas as atividades artísticas e culturais, destacou-se por publicar, em seus mandatos, mais de 500 livros! Foram 41 exemplares na primeira edição,72 na segunda, mais de 136 na terceira e mais de 232 na quarta e última edição – esta, finalizada já na gestão de Paulo Garcia, mas solenemente sepultada, ainda que aquilo significasse uma série de recordes mundiais na iniciativa de governos municipais.

Foram totalizados, pois, 481 títulos. E em outros projetos fora desse Prosa e Verso, vários novos livros foram editados pela SECULT municipal de Goiânia, superando bastante a expressiva marca de 500 livros publicados por um mesmo prefeito.

Paulo Garcia deve ser movido pelo ciúme (apelido macio para a inveja). Prestigiou (vai ver que ordenou) o descaso da secretária transitória e fez do poeta e artista plástico Ivanor Florêncio um fantoche para a sua pantomima de murros na mesa e os gritos de “Quem manda sou eu!”.

Ivanor e eu. O atual secretário bem que tentou (mas
"quem manda" é ele, Paulo Garcia.
Antônio Almeida lhe disse da impossibilidade de se fazer novas edições sem os respectivos editais – e Paulo Garcia fez parecer que os editais existiam, que estavam prontos, que só faltava publicar etc., mas nem o etc. aconteceu. A Ivanor Florêncio, Antônio teria dito, em tom de conselho (eram os primeiros dias do ativista Ivanor na Secretaria): “Cuidado, amigo, você está começando e pode passar por mentiroso; você terá apenas dois anos e este tempo é muito curto...”. Mas o poeta Ivanor, militante petista de primeiros tempos, fez o que faz o bom militante – confiou no líder, que...


Dezenas de autores no lançamento da 3ª edição. À esquerda, de camisa listrada,
 o artista plástico Amaury Menezes - de cuja obra se conceberam as
capas dos mais de 130 exemplares!

Resumindo: entre a reeleição, em 2012, e a posse (no primeiro dia de 2013), Paulo Garcia mudou de cor, de postura e de propósitos. Vestiu-se de uma arrogância que até então mantinha oculta. Da fase em que cumpria mandato-tampão, por ter sido vice de Iris, parece ter mantido apenas o hábito de insurgir-se contra seus críticos (bastava sair num jornal que havia um buraco na Rua Tal ou uma lâmpada apagada no Parque Ípsilon que o alcaide ligava para o editor, pronto para brigar). Publicou ene promessas, não cumpriu quase nada. E chega agora ao término de sua mamat... desculpem-me, de seu mandato devendo um monte de projetos à população.

Ando peneirando os nomes candidatos (diante do atual momento, o certo é pré-candidatos). Em cada um deles, fico a imaginar quem seria o titular da SECULT da capital – e ainda não consegui vislumbrar ninguém hábil para o cargo, dentre os seguidores de cada um de tais políticos.

Pelo visto, da tão festejada coleção, que (dizem) desapareceu por injunção de dois escritores (fiquei pasmado, mas não tive como desacreditar), grafada com as palavras Prosa e Verso, ficamos mesmo só com a prosa de lavadeiras (sem pretender discriminar tais trabalhadoras, valendo-me apenas da expressão popular).



*****



Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

4 comentários:

Sueli Soares, professora e advogada. disse...

Aqui, numa realidade bem distante da sua, fico a imaginar como as tramas engendradas nas diferentes relações têm causas semelhantes. Já não me impressiona a revelação, embora tardia, da ausência de caráter (o que não admite parcialidade) da maior parcela daqueles que erroneamente chamamos políticos. No lugarejo onde moro, tenho observado brigas de vira-latas (pré-candidatos) que se valem das chamadas redes sociais e outros meios para ganhar a maior porção da carniça. Resta-nos, a nós brasileiros, continuar vislumbrando...

José Fernandes (crítico literário, poeta, ex-presidente da AGL). disse...

Nossa, Dom Luiz De Aquino Alves Neto! Que crônica excelente. Não podia ser melhor!

Luiz Augusto Paranhos Sampaio disse...

Adorei sua crônica publicada hoje sobre a negação da Prefeitura em dar continuidade ao programa --Prosa e Verso. É uma pena!

Mara Narciso disse...

É preciso procurar de lupa um político que seja coerente. Faz em analisar detidamente. Abaixo a inveja e a arrogância/prepotência! E que venham muitos livros.