Ando cansado
desses que têm aspecto de gente, vestem-se como gente tradicional, falam como
se acreditassem nos princípios saudáveis das relações respeitosas entre os
humanos, com os quais tanto se parecem. Ando cansado desses que se dizem
políticos – pessoas que, por conceito, deveriam se ocupar de bem-servir ao “polis”,
à massa humana que, por lei, deveriam representar. Sim: esse tipo de político
já me cansou!
Não quero mesmo
falar neles, não!
Escolhi não mais
ouvir notícias – os locutores, repórteres, âncoras e entrevistados de tevê e de
rádio são não apenas despreparados (os profissionais) e cínicos (os políticos),
já que parecem convencidos de que nos iludem, nos enganam e nos convencem de
que estão passando informações sérias e irrefutáveis. Até que uma nova operação
policial-judiciária resulte em mandados de prisão e condução coercitiva de
tantos famosos.
Condução
coercitiva é o termo novo para “buscar debaixo de varas” ou, de modo mais
sintético, “aos costumes”.
Pois os meus
costumes, que são vários, resultam em abraços e sorrisos felizes quando me
isolo do noticiário e vou ao convívio dos meus pares. E por pares entendo-os
muito além das fichas de filiação neste ou naquele clube ou sodalício,
identifico-os pelos gostos muito especial pelas artes em figuras de duas ou
três dimensões, em sons de músicas e canções, em letras de poesia e prosa.
Imagine-se, pois,
o momento em que pessoas de várias artes se encontram, motivados pelo chamado
de algum, como se deu na noite da sexta-feira, o primeiro dia deste dezembro de
17, quando Miguel Jorge se dispõe a autografar seus poemas natalinos ajuntados
num livro rico não só dos versos admiráveis, como também da impecável arte de
Amaury Menezes que ilustra o novo Natal
de poemas. Aproveitei a ocasião para adquirir também o livro anterior, Os frutos do rio, em que o poeta Miguel
juntou seu poemário sobre o nosso amado Araguaia.
Em pouco tempo,
juntavam-se poetas, pesquisadores, contistas, atores, artistas plásticos,
músicos (maestros, instrumentistas e cantores) em indisfarçável congraçamento
em torno do grande autor de tantas obras também em prosa, teatro e romance,
além de seus incomparáveis contos. Com a casa cheia, e após abraçar todos os
que ali estavam, Mary Anne e eu despedimo-nos-dispostos a tomar a estrada rumo
a este meu Canto de amar – também
chamado de Boteco do poeta – em
terras de Hidrolândia. Mas à minha saída contrapunha-se, para a minha alegria,
o poeta Ubirajara Galli e Lena, sua par-perfeita.
Abraços de “oi,
boa noite, até mais, já vamos” etc. E a notícia: o bom e velho Bira anuncia-me
que, em breves dias, trará a público a republicação de seus sete livros de
poemas. E que haverá de juntar os amigos desta longa jornada a que chamamos
ainda de “estrada da vida” – pois que são, agora, 40 anos de vida livresca!
“Não quero
discursos, nada de formalismos, não vou sequer autografar – quero mesmo é que
os amigos constituídos nestas quatro décadas estejam lá comigo, quero
conversar, recordar, dar vazão às lembranças e às saudades, só isso” –
esclareceu o poeta. E recitamos, ele e eu, muitos nomes destes 40 anos, absolutamente
certos de que não recordamos sequer um décimo de tantos amados nossos, dos
quais alguns de foram sem dar “té-logo”.
Sem nada dizer,
comunguei o ideal de Ubirajara Galli. Fomos, ambos, associados a União
Brasileira de Escritores pelo autor da noite, Miguel Jorge. Muitos dos que
testemunharam nossa jornada de quarent’anos estavam ali, bem perto, e de alguns
sorvemos solene aprendizado.
Não quero contar
os nomes, eu não poderia esquecer nenhum e não me atrevo. Então, e antes do
primeiro passo rumo à saída, olhei para o ícone das nossas artes, o paisagista
Amaury. E senti vontade de dizer ao Bira que, nesta caminhada quase que de mãos
dadas, fomos muito felizes.
E, como bom
goiano, apenas acenei com quem dissesse “Quá! Num é preciso falar nada”.
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Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Faz bem em não fazer lista. Caso se esqueça de alguém ficarão dois chateados, você por não ter se lembrado, e o esquecido por se sentir relegado a um segundo plano.
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