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sábado, dezembro 02, 2017

Dois livros de Miguel Jorge

"Natal de Poemas e "Os frutos do rio" - obras de Miguel Jorge


Do que (de fato) vale a pena



Ando cansado desses que têm aspecto de gente, vestem-se como gente tradicional, falam como se acreditassem nos princípios saudáveis das relações respeitosas entre os humanos, com os quais tanto se parecem. Ando cansado desses que se dizem políticos – pessoas que, por conceito, deveriam se ocupar de bem-servir ao “polis”, à massa humana que, por lei, deveriam representar. Sim: esse tipo de político já me cansou!

Não quero mesmo falar neles, não!

Escolhi não mais ouvir notícias – os locutores, repórteres, âncoras e entrevistados de tevê e de rádio são não apenas despreparados (os profissionais) e cínicos (os políticos), já que parecem convencidos de que nos iludem, nos enganam e nos convencem de que estão passando informações sérias e irrefutáveis. Até que uma nova operação policial-judiciária resulte em mandados de prisão e condução coercitiva de tantos famosos.

Condução coercitiva é o termo novo para “buscar debaixo de varas” ou, de modo mais sintético, “aos costumes”.

Pois os meus costumes, que são vários, resultam em abraços e sorrisos felizes quando me isolo do noticiário e vou ao convívio dos meus pares. E por pares entendo-os muito além das fichas de filiação neste ou naquele clube ou sodalício, identifico-os pelos gostos muito especial pelas artes em figuras de duas ou três dimensões, em sons de músicas e canções, em letras de poesia e prosa.

Miguel Jorge, escritor de prosa e verso.

Imagine-se, pois, o momento em que pessoas de várias artes se encontram, motivados pelo chamado de algum, como se deu na noite da sexta-feira, o primeiro dia deste dezembro de 17, quando Miguel Jorge se dispõe a autografar seus poemas natalinos ajuntados num livro rico não só dos versos admiráveis, como também da impecável arte de Amaury Menezes que ilustra o novo Natal de poemas. Aproveitei a ocasião para adquirir também o livro anterior, Os frutos do rio, em que o poeta Miguel juntou seu poemário sobre o nosso amado Araguaia.

Em pouco tempo, juntavam-se poetas, pesquisadores, contistas, atores, artistas plásticos, músicos (maestros, instrumentistas e cantores) em indisfarçável congraçamento em torno do grande autor de tantas obras também em prosa, teatro e romance, além de seus incomparáveis contos. Com a casa cheia, e após abraçar todos os que ali estavam, Mary Anne e eu despedimo-nos-dispostos a tomar a estrada rumo a este meu Canto de amar – também chamado de Boteco do poeta – em terras de Hidrolândia. Mas à minha saída contrapunha-se, para a minha alegria, o poeta Ubirajara Galli e Lena, sua par-perfeita.

Abraços de “oi, boa noite, até mais, já vamos” etc. E a notícia: o bom e velho Bira anuncia-me que, em breves dias, trará a público a republicação de seus sete livros de poemas. E que haverá de juntar os amigos desta longa jornada a que chamamos ainda de “estrada da vida” – pois que são, agora, 40 anos de vida livresca!

“Não quero discursos, nada de formalismos, não vou sequer autografar – quero mesmo é que os amigos constituídos nestas quatro décadas estejam lá comigo, quero conversar, recordar, dar vazão às lembranças e às saudades, só isso” – esclareceu o poeta. E recitamos, ele e eu, muitos nomes destes 40 anos, absolutamente certos de que não recordamos sequer um décimo de tantos amados nossos, dos quais alguns de foram sem dar “té-logo”.

Sem nada dizer, comunguei o ideal de Ubirajara Galli. Fomos, ambos, associados a União Brasileira de Escritores pelo autor da noite, Miguel Jorge. Muitos dos que testemunharam nossa jornada de quarent’anos estavam ali, bem perto, e de alguns sorvemos solene aprendizado.

Não quero contar os nomes, eu não poderia esquecer nenhum e não me atrevo. Então, e antes do primeiro passo rumo à saída, olhei para o ícone das nossas artes, o paisagista Amaury. E senti vontade de dizer ao Bira que, nesta caminhada quase que de mãos dadas, fomos muito felizes.

E, como bom goiano, apenas acenei com quem dissesse “Quá! Num é preciso falar nada”.


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

Um comentário:

Mara Narciso disse...

Faz bem em não fazer lista. Caso se esqueça de alguém ficarão dois chateados, você por não ter se lembrado, e o esquecido por se sentir relegado a um segundo plano.