Liceu: há 80 anos em
Goiânia
A História há de ser sempre recontada, ou cairá no limbo da desmemória.
Com ligeiros cortes e retoques, trago de volta um fato importante na vida
social e cultural de Goiânia – a vinda do Liceu de Goiás para a nova capital,
em 1937. E volto ao tempo ainda mais, 100 anos antes, ainda...
O Brasil era um país de homens rudes, afeitos às lides do campo, fosse
a criação de gado para o leite e a carne, fossem as lavouras de alimento e
vestuário. As letras e as ciências eram ocupações da nata citadina. Surgia, naqueles
anos da Regência, a preocupação dos governos, tanto na Corte quanto nas
províncias, de se dotar o país de escolas. Ou de Liceus, como era a moda na
Europa que nos servia de exemplo.
Em 1837, o Ministro do Império Bernardo Pereira de Vasconcelos
apresentou ao Regente Pedro de Araújo Lima uma proposta para a organização do primeiro
colégio secundário oficial do Brasil. Nove anos depois, a província de Goiás criaria o seu Liceu, por
iniciativa do presidente Joaquim Inácio de Ramalho. E em 1904 o Liceu de Goiás
começou um processo de equiparação ao Ginásio Nacional (Colégio Pedro II).
Com a mudança da capital, o Liceu ficaria na Cidade de Goiás. Pelo
menos, fora essa a promessa de Pedro Ludovico Teixeira, interventor federal e
fundador de Goiânia, aos vila-boenses. Mas, na prática, a permanência ficou
inviável: os estudantes, em sua grande maioria, eram filhos de funcionários
estaduais, transferidos para a nova cidade. O colégio precisava, pois, ser
também transferido. Mas o Estado não teria condições financeiras, nem recursos
humanos à altura, para manter dois colégios, um na Cidade de Goiás, outro em
Goiânia.
E este solene sobrado da Rua 21, tombado pelo Patrimônio Histórico, é o
que festejamos hoje. Inaugurado no dia 27 de novembro de 1937, sob a direção do
professor Iron Rocha Lima, ele abrigou, também, o Grupo Escolar Modelo, do qual
o artista José Amaury Menezes foi aluno neste prédio.
O velho Liceu, que na cidade de Goiás foi escola para Pedro Ludovico e
seu filho Mauro Borges Teixeira, servira também de formador de centenas de
outros goianos ilustres nas mais variadas profissões. Por ele, na antiga
capital, passaram escritores do quilate de Bernardo Élis e de José J. Veiga,
além de juristas, médicos, arquitetos e engenheiros, artistas de pincel e
partitura.
Em Goiânia, onde se instalou em 29 de novembro de 1937, o Liceu não só
continuaria sua vida de glórias, mas seria consolidado como um dos mais
importantes estabelecimentos na história da educação pública do País. E
enquanto nos formava para as letras e as ciências, éramos também forjados na luta
de consciência social.
Ainda é tempo! Resgatemos a História do Liceu de Goiás. Hoje, com o
fechamento de todos os demais liceus e colégios criados antes de 1846, à
exceção do Colégio Pedro II, somos o segundo mais antigo dentre todos os
educandários do Brasil.
O Liceu já viveu muitos momentos de crise, mas sempre sobreviveu. Sua
águia, às vezes, é uma fênix. E a nós, que absorvemos deste Liceu centenário os
ensinamentos científicos, artísticos, culturais e morais, havemos de
fortalecê-la para resistir às chamas.
Por isso, eu vim aqui para falar de amor. É que falar de amor é uma das
poucas coisas que faço bem. Sou muito amor. Sou amor ao próximo e a todos os
que contribuíram para que eu, hoje,
fosse feliz. E o Liceu me ensinou boa parte deste caminho.
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Luiz
de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Bonito falar do passado, e que a Históia na vire desmemória. Gostei de ver e ler.
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