Páginas

domingo, abril 12, 2020

Poesia enquanto há isolamento


Ouvindo poetas



Nos últimos meses, fui agraciado com dezenas de novos livros – de autores estreantes, autores de poucas obras e alguns já com uma vasta jornada no ofício.

Como recebi “colheitas” de alguns confrades conterrâneos em que só uma autora goiana – Cora Coralina – foi lembrada, resolvi não colher nada em autores de outras terras. E foi até fácil, focando apenas nos novos livros. Os títulos dos livros estão enre parênteses. Vamos a eles:


Zanilda Freitas (Cochicos da Meia-noite)

Encontrei meus versos perdidos.
Catei todos, um a um, e os joguei
no colo do coração.


Sinvaline Pinheiro (Vez em quando vem me ver)

Há uma angústia
Diante do mundo sem sentido.


Alejandro Arce Mejia (Improvisos)

Goiânia, que saudade!
Tantos os filhos do seu ventre,
talvez nem se lembre de mim...


Edival Lourenço (Queixumes)

Tictac da torneira?
Não. São as gotas do tempo
caindo em goteira.


Rosy Cardoso (Andarilha)

Dia de chuva, muita roupa no varal,
Quintal molhado e muita fartura.
Dia de festa,
Papagaio e rapadura.

Era treze,
Dia de alegria
De sorte e boas-vindas.


Cláudia de Oliveira Almeida (Poemas para mim)

Sou tantas
Para caber em uma só.
Falo tantas línguas,
Sonho tantos sonhos.
Sou verso, sou prosa, sou rima.
Sou velha, sou mulher, sou menina.


Décio Jaime (Primícias)

Sou filho desta noite revoltada,
Que, rugindo, me beija, apaixonada!


Murilo Moiana (Como o quê em si)

                   Peripécias acetinadas que nos transbordam em nós
         E veem os acenos, tão próximos, que me enquadram e
         encaixotam!


Lécia Lucas (Gado cigano)

É mulher.
Sempre fez o que quis,
faz o que quer.
                   Já nasce com licença mundética.

Sônia Elizabeth (Aquarela em preto e branco)

Feito poeta
inverto o mundo
e a realidade
que me circunda
padece.


Placidina Lemes de Siqueira (Verdade da Poesia)

Dentro do meu templo
onde escrever é doce carma,
fito uma criança pedindo mais escolas
a um militar sem arma.


Maria Helena Chein (Pão ázimo sob a fiqueira)

        São tantos os vocábulos,
as origens, criaturas,
e o verso é eterno.
Nunca essencialmente pronto,
pois é sentimento
e sentimento se desdobra.


Maria Aparecida Batista Borges dos Santos (Poiesis: tessitura de mim)

Os traços no canto do caderno
Viravam animados espadachins
Inocente brincadeira que iluminava meus olhos.


Francisco Perna (Toda noite amanhece)

Daqui a pouco,
e não tardará,
estarei com ela,
e nos saciaremos de nós.


Giovani Ribeiro Alves (Versos que vociferam)

Escrevo quando o poema
pula pela janela e vai brincar
de inspiração com a tarde preguiçosa.


Geraldo Deusimar Alencar (Vazões existenciais)

Fingindo-se modelo de virtude
E como inspirador de falso sonho,
Enfim, nem mesmo a si o pobre ilude.

Márcia Pires (Fragmentos em labirinto)

Foi apenas um beijo na face...
um simples beijo de despedida.
A face afogueia,
o coração acelera e renasce.


Sandra Maria (No verso do caso)

Vou passear pelo jardim
ver qual flor vai me escolher
pra ser sua melhor amiga
hoje.


Geraldo Dias da Cruz (A poesia gritando em minha vida)

Sobre as Minas com seus autos
que aprendi no plural;
suas austeras sentenças,
outras figuras iguais.
Pergunto a quem me ouve:
– “Libertas” por libertar,
onde foi, quando será?

* * * * * * * * * *

Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras

3 comentários:

Rosy Cardoso disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Rosy Cardoso disse...

Poeta querido, sua sensibilidade me faz feliz ao tê-lo em meu lado. Obrigada, obrigada!

Rosy Cardoso

Marcia Pires disse...

Obrigada querido poeta, Luiz De Aquino Alves Neto, por me incluir nesta homenagem, juntamente com grandes nomes da nossa Literatura, o que muito me honra! Coincidentemente, com o poema; "O BEIJO" e hoje, no Dia Internacional do Beijo. Obrigada de coração!