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domingo, julho 16, 2006

A bola, o fiasco e a locução




Passada a euforia (e a inevitável decepção) da Copa do Mundo 2006, mudei as cores da minha torcida, é claro. A primeira mudança foi trocar o amarelo pelo vermelho e o samba pelo fado. Confesso que não senti trocar de pátria: somos cria daqueles lusos e, bons filhos, passamos a eles a arte da bola no gramado, via Luiz Felipe Scolari. Valeu o esforço do gaúcho, descendente de italianos, como boa parte da população e da emoção deste Brasilzilzil...

Não deu. Não deu, mas os irmãos lusitanos caíram de pé, não ficaram em posição suspeita na intermediária ajeitando a meia,não... Dentre os portugueses não se viu ninguém com sorriso de menosprezo em campo como quem dissesse: “Tudo bem, renovei meu contrato e estou mais rico hoje do que há quinze dias, meu futuro está assegurado, etc. e tal...”.

E aí, aquela final de anil: de um lado, os azuis dos reis Luíses; de outro, a Squadra Azzurra dos meus avós e dos avós de Scolari. Azul por azul, fiquei contra Les Bleus gauleses (se bem que o domínio racial naquele time vinha do norte da África; nada demais, porque os nossos craques têm sempre um pé no mais antigo dos continentes, o primeiro dos mundos).

Bom de ver Zidane jogar; melhor ainda vê-lo perder a cabeça ante uma provocação. Grande craque ele! Eu diria que Zidane é 20% de Pelé ou 10% da graça de Garrincha; aquele lençol em Ronaldo não é nada, queria ver se ele faria o mesmo com Robinho... Duvido e aposto! Zidane mereceu o título de “o melhor”desta copa de poucas evidências, sim. Mas, melhor que ele, só na Copa de 70 tivemos cinco. Ou seis. Ou onze.

Duro mesmo é ouvir os locutores de tevê dizendo que Portugal “perdeu da Alemanha”. Quem é Galvão para mudar a regência dos verbos, Leda Selma! E nas rodas de debate? Não bastassem as crônicas fraquinhas do biguebróder, temos de ouvir o “espíquer” (era assim que eles se diziam, antigamente) referir-se aos times italianos no feminino: “a Juventus, a Milan, a Udinese”... Em italiano, usa-se o artigo feminino porque eles lá dizem “squadra”, e não time, como o dizemos aqui; e, no Brasil, apenas os times chamados Portuguesa são ditos no feminino, mas até mesmo o América (América é palavra feminina) é tratado no masculino (subentende-se a palavra “time”).

Então? (desculpem-me, mas está na moda começar frases com a palavra “então” querendo dizer exatamente nada, apenas para enfatizar; então, vou começar de novo): Então? Além de ver a Seleção fazendo uma das piores campanhas jamais vista, além de ver ruir todos os nossos ídolos, temos ainda de ouvir disparates dessa natureza. É pouco? Não, meus amigos, tem mais...
Duro mesmo é ver os garotos-propaganda globais chamando ídolos (ainda que ídolos de pés de barro) de heróis. No “Aurélio”, achamos como um dos conceitos: “Homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor ou sua magnanimidade”. Mas está lá, também, o segundo conceito: “P. ext. - Pessoa que por qualquer motivo é centro de atenções.” Notaram? Só por extensão. Mas, digam-me: alguém aí gostaria de ser chamado de “herói” daquele jeito, hem?

Um comentário:

Deolinda disse...

E então? Percebeu? Tudo que questiona um pouco, deixa o povo com preguiça de comentar.
E então?
Decidiu?
Brincadeira!