19/11/05. Momento em que eu dedicava um exemplar ao amigo Farina...
Nossa gente, nossas coisas...
Dizem, nas rodas de botequim, que a vida só nos dá duas certezas: o nascimento e a morte. E se considerarmos bem os momentos limítrofes, veremos que a certeza é apenas uma: o fim que qualificamos, sempre, de trágico. É que essa tal certeza só aparece nas lucubrações filosóficas e, obviamente, isso só é possível tempos após o nascer.
Ensina o Cristianismo, em suas várias “linguagens”: o que vive é o espírito, não a matéria. Assim também entendem muitos pensadores religiosos de outros segmentos, como budistas e cristãos
A matéria é bem definida na física e está sujeita aos fenômenos químicos. Hoje, sabemos que o emocional interfere diretamente, e de modo decisivo, nessa matéria que não é ubíqua, nem capaz de ocupar um espaço já ocupado por outra matéria; e que “nada se cria, tudo se transforma” (isso sempre me pareceu uma tradução científica do que já se lia na Bíblia... Falo daquilo de termos sido pó e ao pó retornarmos. Bem, há os que preferem viver, sempre, em função do pó e, por ele, acabam se “transformando” mais cedo. Tal como os que levam muito a sério sermos mais de 70% de água e escolhem “molhar-se” ainda mais... E por dentro).
A morte sugere-nos muita filosofia, poesia, discussões acadêmicas, científicas, estatísticas, econômicas (e securitárias), previdenciárias e... poesia. Preciso citar Augusto dos Anjos? Não; ele é por demais conhecido por tratar das coisas do além e por uma (como que) ânsia ante o fim. Prefiro lembrar Vinícius de Morais, no poema “O haver”, que recita, na última estrofe:
“Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio / Pelo momento a vir, quando, emocionada / Ela virá me abrir a porta como uma velha amante / Sem saber que é a minha mais nova namorada”.
Tudo isso me vem à mente quando penso
Farina se despediu da matéria no último 16 de junho. Deixa-nos um vazio de presença e energia, uma garra invejável. Produziu e apresentou, nos últimos anos, seu programa de evidências goianas e, há poucas semanas, em mais um gesto de grandeza e idealismo, doou todo o acervo, centenas de programas em DVD, para o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.
Nestes quatro ou cinco anos de mais proximidade, conheci o homem atrás da ação e dos compromissos da vida material. Farina era superior às picuinhas econômicas e aos ideais de direita com que passou a ser identificado. Era um homem capaz de fazer amigos no chamado “lado contrário”, ou seja, na esquerda, pois sabia respeitar as diferenças. Por isso aprendi a admirá-lo e a tê-lo por amigo.
E, se só isso não basta para bem recomendá-lo, resumo tudo na própria continuidade. Julguem-no pelos filhos que gerou e educou.
Até por aí, meu amigo!...
2 comentários:
Luiz, boa noite.
Já vi inúmeros programas do Salvador e, infelizmente não fiquei sabendo de sua ida para outros caminhos.
Bom é ter amigo assim feito você, que lembra Vinícius para enfeitar com poesia, o último limite, enfim desvendado.
beijos, boa semana.
Já li através do jornal. Brilhante idéia.
O Leon já está organizando o acervo que será levado ao IHGG. O Farina pediu que ele mesmo organize tudo.
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