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segunda-feira, julho 23, 2007

O PAN e o Maia; a TAM e a vaia


O PAN e o Maia; a TAM e a vaia



Consta que morrem nas ruas e rodovias brasileiras, todos os dias, 219 pessoas, na média da estatística. Mas um desastre de avião, com a morte súbita e simultânea de cerca de 180 pessoas nos chocam, escandalizam-nos e nos comove. Aqueles 219 de todos os dias, não os vemos, um a um; não há mídia capaz de registrar cada um desses desastres fatais, mas a aviação é tema incessante. Inevitável, pois essa dor é contagiante.

Do outro lado da vida, o PAN do Rio, com ingressos a R$ 250 reais para a abertura dos jogos. Preço proibitivo para isso a que chamamos "classe média". Ou seja: a "classe média" que lotou o Maracanã e vaiou o presidente da República (a vaia não foi para o Presidente Lula; teria sido para o Presidente FHC, para o Presidente Itamar, para o Presidente Collor...), essa é mais alta. É a “classe média” dos meninos que saem de carro à noite, com gordas mesadas, prontos para o consumo de alucinógenos vários e, por fim, espancar indefesas mulheres humildes.

As vaias a Lula, pelo que se viu, tinham a intenção "incensar" César Maia, numa tática bem ao modo do baiano ACM. A classe média que lá esteve deve ser a que anda em carros importados. Não é a classe média da Tijuca ou do Meyer, mas a da Barra da Tijuca, de São Conrado, do Leblon, de Ipanema... Porque povo brasileiro, gente carioca, trabalhadores como nós e que depende do salário para a sobrevivência e as delícias da vida, essa gente não estava nas arquibancadas e, sim, nas pessoas do menino Kainã, que liderou aquela maravilha de percussão que antecedeu o canto à capela do nosso Hino Nacional, pela divina Elza Soares (outra brasileira como nós).

Dói fundo, na alma, a cena: um avião em altíssima velocidade não consegue parar; tenta uma arremetida, mas acaba se chocando contra um prédio, coincidentemente da mesma empresa cujo logotipo está na cauda da máquina voadora. Ninguém se engana: centenas de mortes serão contadas nas próximas horas.

Povo brasileiro, ou o que pode ser chamado assim, no Maracanã naquele dia 13, não eram os da platéia: o povo brasileiro no maracanã estava muito ocupado, desde a carnavalesca Rosa Magalhães até o gari que colheu o último resíduo da festa, passando por bailarinos, voluntários, pessoal da logística... Aquela platéia, não.

Também não era o povo brasileiro que ocupava o PR-MBK da TAM no começo da noite de 17 de julho, 2007, enquanto o PAN rendia medalhas para os atletas brasileiros. Naquele avião, uma ínfima partícula deste povo que somos nós, os de todas as cores, estaturas, vontades e raças. O que houve? Controladores em greve? Água na pista? Faltou fazer o groover, o piloto cochilou, o avião não tem freios?

Penso que o presidente Lula foi tolerante. Devia ter mandado prender o Nuzman por falta de decoro e usurpação, por ofensa direta ao Presidente da República. Com isso, ficamos com o mico: em 15 Jogos Pan-Americanos, somente aqui um executivo, esperto o bastante para ter levantadas contra si inúmeras suspeitas na gestão dos recursos dos Jogos, afrontou o Presidente da Nação daquela forma. Aquele, sim, seria um excelente alvo de vaias.

Mas o presidente Lula está tolerante também com o caos na aviação. Inocentes são humilhados nos aeroportos, inocentes morrem em acidentes vários e o presidente da República é vaiado. Mas os malversadores da gestão pública, os maus administradores e os omissos continuam “incensados”.

Por que isso, hem?

5 comentários:

Anônimo disse...

Querido Luiz
Leio suas crônicas há muitos anos - pelo menos 8 anos - e sempre com mais vontade de ler.
Admirável!
Beijos
vânia

Anônimo disse...

Luiz , meu querido luiz.
Voce sabe muito bem o quanto admiro voce sua inteligencia e capacidade de analise.
Entretanto agora discordo de voce , no sentido de sua atitude de defesa ao presidente Lula.
Nao sou politica, odeio politicos. Mas convenhamos querido Luiz, esse governo nao fez e nao faz absolutamente nada a nao ser dar esmolas aos pobres sob o nome de bolsa familia , bolsa escola sei la o que mais... seria admiravel se ele, criasse empregos e melhorasse as escolas.. mas nao, o povo merece esmolas..
Acho que ele eh omisso, pra nao falar outras mas qualidades, nao vejo uma posicao digna de elogio tomada por esse presidente!!! E seus ministros? Mal escolhidos, debochados ( nao todos) e incompetentes.Quase todos. Era de se esperar ,analfabeto nao da valor a cultura, e ao conhecimento.Assim me desculpe, mas esse eh o meu ponto de vista. No mais voce escreve com uma clareza brilhante , adoravel e seria mesmo um bom ministro no Governo , se o presidente apreciasse cultura conhecimento honestidade e trabalho. Mereceu as vaias, e se eu estivesse la faria parte dos que vaiaram , e ainda pediria bis.
Beijos ..

Luiz de Aquino disse...

Martha!

Há alguns breves enganos na sua crítica. Não morro de amores pelo presidente Lula, mas é ele, pelo voto legítimo, o presidente do Braisl.
Diga-me você, que escolheu viver nos EUA, embora nascida aqui, no Planalto Central Brasileiro: Lula, por ruim que seja, é pior que Bush? É menos letrado que Bush? Nosso cinema vai bem; o que não permite maior deslanche da nossa literatura (minha praia, você sabe) é a força do capitalismo internacional, que nos impõe best-sellers de sua nova pátria e da Europa.
Tennho críticas ao governo atual do Brasil, mas não engulo vaias. Estas cabem ao SEU presidente George, o homem que combinou com Bin Laden os ataques a Nova Iorque em 11 de setembro.
Lula tem conseguido, sim, reduzir a taxa de desemprego; a Educação vai muito mal por aqui, como, aliás, desde o começo da ditadura militar; mas nossos estudantes sabem onde ficam os Estados Unidos, o Canadá, a França... Já o SEU presidente chegga aqui e pensa que está na Bolívia; e Lula é o analfabeto.
Martha, eu gosto de você. Mas, por favor, modere-se no preconceito anti-nacional, por favor.

Anônimo disse...

Eu de novo, Luiz, querido luiz..
Bem voce esta equivocado.. sou uma eterna apixonada pelo meu Brasil, e quando nao apoio os maus politicos eh justamente por amor `a Patria. Estou admirada de voce conhecendo - me como conhece levantar duvidas quanto ao meu brasileirismo e a minha eterna postura de defesa do Direito. Apenas acho que nos brasileiros e o Brasil merecemos coisa melhor.

Luiz de Aquino disse...

Martha,
Sempre quis um presidente melhor. Um melhor que Jango; um melhor do que todos os generais ditadores; um melhor que Sarney, e que Collor, Fernando Henrique e Lula. Sempre!
Mas enquanto não o temos, não podemos deixar que o barco se afunde. Nem abandoná-lo.
Uma coisa é criticarmos o presidente, o governador, o prefeito... Outra é vaiá-lo (coisa que não se deve fazer nem mesmo com as delegações dos EUA, do Canadá ou de Cuba no PAN).
A diferença é que o meu modo de amar a minha Pátria é exercer a crítica responsável e ficar aqui.