
O Centro, outra vez
Devagar e sem mostrar cansaço, a expressão foi crescendo, crescendo... e tomou conta das maiores cidades, desde as metrópoles até as cidades-pólo: é preciso “revitalizar o Centro”. Parece até que o Centro morreu, mas ele está palpitante, efervescente, um formigueiro agitado... Mas isso só dura enquanto é dia. À fuga do sol, fogem também as pessoas e o Centro fica vazio como átrio de catedral após as celebrações.
Goiânia também vive o velório soturno e triste: o Centro, só vive durante o dia, desde que o dia não seja feriado, domingo ou a metade do sábado após o meio-dia. E como as grandes cidades brasileiras, a jovem Goiânia, nos seus setenta e poucos anos de ação desde a Pedra Fundamental, tem seus moradores debruçados sobre estudos longos (e, às vezes, monótonos) que buscam reativar a vida nas vias urbanas do velho Centro.
Velho Centro? Aqui, qualquer coisa que passe de dez anos é velho. Afinal, o que há de velho numa cidade com menos de um século? Velhos somos os que trazemos vivências forasteiras; ou que preservamos a herança cultural de pais e avós. Sei de mim que revivo, na memória, edifícios e pessoas, paisagens e costumes. E recordo o edifício Palácio da Pecuária, que foi sede de banco e de dois legislativos, o estadual e o municipal (teve também duas boates: na cobertura, Terraço; no subsolo, que foi cofre-forte do banco, Porão). Recordo o DCE da Universidade Federal com seu teto conversível, na praça interna da quadra limitada pelas avenidas Anhangüera e Araguaia e as Ruas 3 e 6. Tanta história se fez no Centro...
Recordo a leitura de Cometa de Halley, de Jesus de Aquino Jaime, poeta e violinista perfeito nas duas artes, a referir-se a um flamboyant à frente do Grande Hotel, sob a qual rapazes da década de 1950 reuniam-se ao silêncio da noite alta (às onze horas, imaginem!) e na qual o maestro Jean Douliez cometeu algo que sugeriu um estranho apelido à florida árvore: “arbor flatulentis”.
Era o tempo em que a cidade dormia cedo e aos moços restavam poucas opções, quase sempre centradas nas esticadas até Campinas, o bairro-mãe, ao lado do qual reinava agitado, na primeira metade da madrugada, a zona boêmia do Setor dos Funcionários. Muitos moços, vagabundos, soldados e os infalíveis carrinhos vendedores de pipoca, espetinho e, raramente, algum doce.
Agora, as noites de sextas-feiras se marcam pelo choro; o calçadão da Rua 8, que nas décadas de
Boas medidas de Kleber Adorno, que agora cuida em cobrar a preservação da qualidade. E, para os freqüentadores, uma vitória:
– Enfim, opções de lazer para os que já chegaram aos “enta” – regozija-se minha amiga, ex-colega de Liceu.
Olho em torno, analiso os prédios, quase todos comerciais. Mas há opções que podem, sim, refazer a vida do Centro. O antigo BEG, hoje Itaú, está vazio; vazios estão, também, mais uns três ou quatro grandes edifícios que, devidamente adaptados, bem podiam tornar-se moradias de estudantes e de jovens trabalhadores.
Aí, sim: a vida voltaria às noites do Centro. Com alegria e segurança.
Assim seja!