Páginas

sexta-feira, junho 20, 2008

A fotografia na História


A fotografia na História


O jornalista Edmar Oliveira envia-me, pelo correio eletrônico, uma série de fotos históricas: começa com a primeira fotografia, de Nicéphore Niépce, obtida após oito horas e vinte minutos, e se fecha com uma pr... (quase escrevo “prosaica”; mas seria uma prosa poética, certamente); corrijo: uma poética orquídea com a legenda “Lilith 2007”.

Habituamo-nos, ao menos os da minha geração e a dos meus filhos mais velhos, na casa dos 35/40 anos, às figuras desenhadas dos ícones da História, desde a antiguidade clássica da Grécia, dos medas e persas, dos mesopotâmios, antigos egípcios, romanos etc. até os meados do Século XIX. Platão é uma figura concebida por algum artista (em que época? Certamente, quando a indústria gráfica ganhou avanços, justamente no Século XIX), tal como as figuras bíblicas foram idealizadas pelos pintores da Renascença italiana, de modo a dar tipos romanos a mouros e judeus.

A fotografia, porém, é uma técnica estática; em poucas décadas, os mesmos fotógrafos buscavam captar os movimentos e inventaram o cinema (forma abreviada de “cinemática”, a parte da mecânica que estuda o movimento dos corpos). Desde então, fotografia e cinema andam muito próximos e, muitas vezes, de mãos dadas. Para nós, jornalistas, ambas as atividades atrelam-se ao processo de documentários, servindo para a comunicação e para o arquivo; portanto, ferramentas indispensáveis a um sem-número de profissões e fundamentais a todo ser humano, que é curioso, além de vaidoso. A vaidade liga-se ao tema pelo prazer que tem a arrasadora maioria dos humanos de ver-se em fotografias e filmes.

De instrumento de documentação, a fotografia e o cinema não demoraram a tornar-se arte. Primeiro, pelo que se pode fazer com o uso da técnica, criando tons e circunstâncias que resultem em visuais inusitados ou agradáveis, coisas essas que se aproximam da alma poética das artes. Em segundo lugar, pela “roupagem” dada à “fotografia em movimento”, associando-a à prática teatral. Em poucas décadas, o cinema tornou-se título pra o que se conceitua com “a sétima arte”.

Entende-se, pois, que muita coisa aconteceu nos últimos sessenta anos, ou seja, desde o término da II Guerra Mundial. As guerras sempre ensejam um aceleramento surpreendente no campo das invenções e adaptações, tanto no campo da engenharia quanto no da medicina. No após-guerra, e valendo-se dos inventos daquele período bélico, acelerou-se o conjunto de pesquisas no plano da aeronáutica, da física nuclear e, paralelamente, em todos os segmentos das atividades científicas (do Oriente, a miniaturização viria a auxiliar bastante os esforços da conquista do espaço sideral, por exemplo). Vai daí, aquele tal de “cérebro eletrônico” que ocupava um prédio de cinco ou seis andares, compacta-se, hoje, num “palm”, um minúsculo aparelho de bolso, com potência milhares de vezes maior.

Todas essas conjecturas (e muito mais; o espaço, aqui, é limitado) vêm-me por conta das fotos que me traz o Edmar. Entre elas, duas antológicas fotos: a do Che Guevara que, hoje, ilustra milhões de camisetas mundo afora e a do jovem estudante chinês que, com uma coragem incomparável, fez pararem os tanques na Praça Vermelha.

Para mim, aquele moço, sim, e não o Che, devia ser o ícone da juventude estudante de todo o mundo após 1990. Sem demérito para o guerrilheiro cubano que libertou Cuba (libertou? Ou trocou o dono do chicote?) e foi assassinado na Bolívia. É que o moço chinês foi além. Ele sabia que não tinha escolha: morreria sob o tanque ou seria fuzilado. Foi fuzilado.

Ele é o meu símbolo de resistência e coragem.

Leia também em http://www.vaniadiniz.pro.br/luiz_de_aquino/cronica_a_fotografia_na_historia.htm

10 comentários:

Unknown disse...

Bela crônica, Aquino. A coragem do jovem estudante chinês realmente impressiona. Parabéns também pelo blog. Grande abraço.

Anônimo disse...

São marcantes essas fotos,
e seu texto tb.
Beijo,
Lu

Mara Narciso disse...

A foto não nos deixa mentir. Escancara a verdade, emociona, nos faz cumplices de um instante.

Quando muito jovem, e ainda desacostumada com a minha cara, não gostava de ser fotografada. Quando a maturidade ameaça, é hora de muitas fotografias. O avanço do tempo já nos faz escondermos-nos(?) dos fotógrafos. Ainda assim, nos vemos no espelho de forma bem mais indulgente e tolerante do que as lentes de uma máquina. Ah, essa foto não ficou boa!, havemos de suspirar condescendentes com a nossa face.

Quanto às fotos históricas, os nosso olhos também as modificam conforme a nossa necessidade. O espírito consegue transformar várias cenas do cotidiano.

Viva essa crônica que levanta o tema, a máquina digital e a internet, que divulga as cenas.A tecnologia amplia a nossa visão a cada dia, e isso é crescimento!
Mara Narciso

Unknown disse...

Tudo o que vc escreve pra mim é sempre muito agradável ler, sabe que sou tua fã.Parabéns por mais este trabalho, um bj e ateh...

Madalena Barranco disse...

Luiz, eu também escolheria o jovem chinês como símbolo... Ele me lembrou Ghandi que tinha a paz como estandarte. As fotos são de certa forma mágicas, porque guardam a prova visual de uma emoção. Sua crônica é linda!

Beijos e espero que já tenha somado as trinta mil visitas ao seu culturabelíssimo (o neologismo é meu - rsrsrs) blog.

Anônimo disse...

Quando você quer fazer poesia,ninguém é melhor poeta que você. Abraço. Andiara

Anônimo disse...

Sem trocadilhos, apesar deles, sua crônica é um autêntico retrato do retrato da História. Legal, Luiz, muito legal! Beijocas. Lêda

Marluzis disse...

Fotografia não é só um registro estático: é revelação. É enxergar além do quadro, ampliar os nossos horizontes, contar e gravar histórias; é despertar em você, poeta, escrever essa crônica a partir de imagens tão emblemáticas. E o seu escrever é dizer com palavras o que os fotógrafos escrevem e dizem com a luz.
É a arte dando as mãos.

Parabéns pelas mais de 30.000 visitas!

Anônimo disse...

Eu gosto de fotos.Através delas vemos fatos importantes que jamais conseguiriamos decifrar com palavras.
A foto fala por si só. Nesta sua crônica voce narra fatos históricos e heróicos. Achei bizarra a foto da mão de luvas amarelas.

Anônimo disse...

Luiz Aquino, bom dia!
Obrigado pelo e.mail (crônica). Gostei, aliás, acompanho-o com prazer. Você presenteia os leitores!
Seu
Hélio Moreira