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domingo, junho 08, 2008

O que é meu e velho. E o futuro!


O que é meu e velho. E o futuro!


Há alguns anos, pouco tempo depois de adotar o computador como instrumento de pesquisa, comunicação e escrita, dei-me conta de que vivemos, eu e todos os que desfrutamos, conscientes, da segunda metade do Século XX, a fase mais intensa de transformações tecnológicas de toda a Humanidade. A dita Segunda Guerra Mundial exigiu uma aceleração no processo das invenções e dos aperfeiçoamentos, e com ela vieram coisas incríveis, como a concepção do “cérebro eletrônico” (o nosso computador) até as conquistas aeroespaciais.

Os anos de 1950 foram marcados não só pelo “roquenrou” e a bossa-nova, mas pelos pequenos rádios a pilha, substitutos dos receptores que tomavam um tempo entre ligar e fazer som, pois as válvulas precisavam “esquentar”. E os chiados? Os novos rádios, no formato original de um tijolo e revestidos por um estojo em couro grosso, não tinham disso. Também os televisores, pouco depois, teriam as válvulas substituídas pelos transistores.

Dizia eu, nas primeiras linhas, do tempo em que comecei a usar o computador, em que me dei conta dessas transformações. Citei rádios e tevê como símbolos; poderia ter citado os automóveis ou os instrumentais domésticos e de trabalho em escritório, artifícios que tornaram a vida mais simples. Ou não.

Li, há alguns anos, uma crônica em Seleções (aquela revista de textos selecionados que simbolizam a leitura inútil, se é possível qualificarmos alguma leitura como inútil) em que um casal de velhos nos Estados Unidos juntou na calçada um monte de coisas eletroeletrônicas como barbeadores, descascadores de legumes, multiprocessador, aparador de pelinhos do nariz e orelhas, arqueador de cílios, removedor de bolinhas de tecidos, abridor de envelopes, apontador de lápis et cétera e tal, molhou tudo com algum inflamável e pôs fogo; logo parou um carro de polícia, certamente acionado por algum vizinho enxerido, e o fardado quis saber o que faziam.

Foi a velha (não tenho preconceito com certas palavras; para mim, velho é velho, gordo é gordo, preto é preto... Detesto a palavra detestar, mas gosto menos ainda dessas expressões que a moderníssima esquerda nacional qualifica como “politicamente corretas”); então, foi a velha quem respondeu: “Estamos nos livrando dessas coisas todas que compramos para simplificar nossa vida”. Ao que o velho, sorridente e feliz, acrescentou explicando: “Agora, sim, estamos mesmo simplificando nossa vida”.

Pois é! Ainda não me conscientizei (e estou consciente de ainda não estar conscientizado disso) de que seria muito melhor não juntar velharias; quando vi o que o computador fazia, permitindo-me revisar e manter limpo o escrito, mesmo que ainda rascunho, com aparência de texto final, entendi que eu próprio atravessava um período muito rico de novidades. Então, cuidei de amealhar coisas que contam a minha história de vida. Resultado: tenho máquina de cortar cabelo (manual), duas máquinas de escrever antigas, uma máquina de costura “de mão”... Coisas comuns da Caldas Novas de minha infância. E penas de escrever e seus indispensáveis tinteiros, um berço de mata-borrão, ferro de engomar (a brasa), um prego de ferreiro achado nos escombros da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Pirenópolis, após o incêndio duvidoso de 2002...

Não tenho um rádio de válvulas; nem um rádio a pilha dos anos 50. Meu apartamento, que é pequeno, não comporta mais coisas da minha coleção de lembranças da própria vida. Entre as relíquias, o mobiliário de quarto de José J. Veiga, que me foi presenteado por Dona Clérida, sua esposa. Mania de homem velho, talvez; porém, com a lucidez de que, a cada filho e a cada novo livro, sente a vida renovar-se.

Agora, imaginem como rejuvenesço ao nascer mais um neto! (Na foto, o Gabriel, nascido no dia 2 de junho, entre a mãe, Ethel, e o pai, meu filho Léo).

3 comentários:

Mara Narciso disse...

Quando a vida já vai alta-- como se diz aqui no Norte de Minas, de modo depreciativo " de meio dia para tarde"-- vemos no dia a dia o contraste entre o velho, nós mesmos, com a nossa experiência e segurança, e o novo, os recém-nascidos, e as novidades tecnológicas que nos renovam.Jogar meio a meio com esses antagonismos nos faz pensar na vida e não na morte. E muitas vezes somos felizes, como no nascimento do seu neto Gabriel. Vida longa e saúde para todos!

Madalena Barranco disse...

Oh, que fofo! Parabéns querido Luiz pela chegada do Gabriel ao mundo. Perdoe-me a demora em cumprimentá-lo, mas eu tive problemas técnicos com o computador (e quando isso acontece é terrivelmente desconectante - heheh). Beijos à você filho, nora e netinho.

Anônimo disse...

Atrasados parabéns à Família.
Sê bem-vindo, Gabriel!

Soraya Vieira