“Como o céu é do condor”
O homem saiu de casa, nas proximidades do Parque Areião, de carro, a passear com a filha de três anos. Percorreu a Avenida Edmo Pinheiro (que o poder público municipal teima em chamar de Quinta Radial, esquecendo-se que a Quinta Radial desapareceu para se chamar Xavier Júnior, que foi absorvida pela denominação de T-63). Tomou a Primeira Radial, a Praça Izidória (que virou uma estação de ônibus), alcançou a Quarta Radial. Do Setor Pedro Ludovico, chegou ao Bela Vista, contornou a obra do viaduto no cruzamento da T-63 com a Avenida 85/S-1, desceu a T-4 (continuação da T-1; nunca entendi porque muda de nome) e virou à direita na T-62. Chegou à Praça da T-25.
Não há uma razão lógica para que as vias do Setor Bueno sejam nominadas pela letra T e uma numeração de 1 até... até... Até T-65. Não me lembro da seqüência lógica continuada. Como também não entendo o porquê de as praças de Goiânia, em sua quase totalidade, não terem nomes. Essa, a citada, é “praça da T-25”.
Diz a lenda que aquela praça é a “mais bela da cidade”. Permito-me discordar: a Praça Universitária (esta tem nome; como a Praça Izidória, que virou estação) é a mais bela, sem dúvida nenhuma. Nem mesmo traficantes e drogados conseguiram acabar com ela. É bela desde a inauguração, em 1969, e as estátuas fizeram-na mais bela, ainda.
Mas eu falava do homem com a filha de três anos. Bem, ele chegou à “praça da T-25” que, diz a lenda divulgada na imprensa, à época, foi construída com dinheiro da prefeitura e dos moradores vizinhos. Não sei se era Páscoa ou Natal, mas a nossa ingenuidade acreditou nisso. E o homem com a filha parou o carro na “praça da T-25” e levou a menina para correr e curtir os jardins e sorrir como sorriem sempre as crianças nas praças.
Sorria também o pai da menininha: se a filha estava feliz, mais feliz estava o pai. De repente, derrepentemente, o pai sentiu um peso estranho sobre seus ombros e nuca. Olhou em torno, virou-se e viu que era alvo de olhares de rapina de um tantão de mães de outras crianças. Concluiu: eram as mães da praça em junho, ou seja, nada a ver com as Mães da Praça de Maio que marcaram a história de Buenos Aires após a ditadura, num tempo em que o “irmão-do-norte” bancou ditaduras em toda a América Latina. Eram olhares das mães da vaquinha, certamente. E assim como as Mães da Praça de Maio não gostavam dos ditadores argentinos e seus paus-mandados, as mães da T-25 não gostam que “pessoas de fora” levem crianças para brincar “na sua praça”. Sim: elas acham que a praça é delas.
Talvez seja, não é? Não creio que aquela gente tenha ajudado a fazer a praça, não. Ninguém gosta de contribuir extra-impostos com o poder público; muito menos os ricos (os pobres ainda vão a mutirões e dão de seu suor). Mas eles têm a praça como sua. E alguns da prefeitura concordam (parece, ao menos).
Duvidam? Confiram: a obra do viaduto, a poucas quadras da praça, exigiu mudanças no tráfego; mas a Superintendência Municipal de Trânsito montou um quebra-cabeças complicadíssimo para não perturbar a tal praça. E já zelava por isso bem antes: a Rua T-62 tem fluxo no sentido oeste-leste, mas é bruscamente interrompida ao cruzar a T-4, evitando veículos na praça. Agora, a razão mandaria dar fluxo contrário na T-62, invertendo também o sentido da T-64, mas a SMT preferiu poupar, mesmo, o sossego dos “donos” da praça, sobrecarregando os demais moradores.
Foi por isso, meu caro senhor pai da menina, que as aves de rap... Desculpe! “as mães da praça da T-25” olharam para você com carga de rejeição e ódio. Você não respeitou os sinais discretos para não “invadir” o reinado delas.
E pensar que Castro Alves escreveu: “A praça! A praça é do povo...”.