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terça-feira, março 31, 2009

Escolas públicas para a Classe A

Luiz de Aquino

 

 As cenas são chocantes, e não são cenas de cinema, não… Flagrantes da vida real colhidas em câmeras de vigilância, ou câmeras ocultas de repórteres investigativos ou ainda de telefones celulares, exibidos pela TV Record em seus telejornais devem se tornar temas de reuniões nos ministérios da Educação, em conjunto com as secretarias estaduais, e da Justiça, envolvendo a Polícia Federal e as coordenadorias de segurança pública que se relacionam com as polícias civis e militares.

O sistema nacional de Educação deveria levar a sério a formação e a valorização de professores. Por ter relaxado na qualidade e na fiscalização, as escolas superiores recebem alunos mal preparados nas esferas de base e média. Como resultado, temos vestibulandos que entendem profundamente de teorias de física quântica, mas não têm a menor noção de regência de verbos e substantivos, para ficar no mínimo; e profissionais de nível superior totalmente despreparados – haja vista os exames da Ordem de Advogados do Brasil.Ah!, as instituições que realizam concursos de empregos nas esferas públicas deviam divulgar as “pérolas” colhidas em suas provas, tal como se faz com o Exame Nacional do Ensino Médio.

Há dias, um médico de alta especialização, orgulhoso de seu trabalho no Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO) definiu a otimização de resultados: “O HUGO dá certo porque lá são atendidos os acidentados de qualquer nível sócio-econômico; se atendêssemos somente pessoas do povo, gente anônima, o Hospital não teria a estrutura que tem”, disse-me ele. “Viajei” imediatamente para a Educação. Ele, o médico, foi também aluno do Liceu, como Ciro Palmerston, Mário Alberto Campos, Beatriz Siqueira, Martha Azevedo, Moema Olival, eu e os presidentes do Banco Central Gustavo Loiola e Henrique Meireles (e mais os governadores Irapuan Costa Júnior, Iris Rezende Machado, e Alcides Rodrigues).

Vejam que ,no parágrafo anterior, a única pessoa grafada em minúscula foi “eu” - construção atrevida, esta, não é mesmo, Leda(ê) Selma? -. Foi proposital. Citei pessoas importantes, mas este escriba é gente do povo, filho de uma professorinha leiga (coisa comum em Goiás daquela época: cada um ensinava o que sabia) e de um comerciário. Como se vê, a gente se misturava, meninos do povo com os da classe dominante. Alguns do povo tornaram-se poderosos, como os governadores citados; e alguns de famílias de realce não construíram seus nomes. Mas a possibilidade de convívio abriu horizontes.

Dona Umbelina de Matos, minha professora de Geografia no Colégio Pedro II em 1961, diz, com propriedade e mais de meio século no ofício do Ensino, que foi um grave erro construírem escolas e postos de saúde nas favelas. É que, antes, os favelados vinham às escolas e postos de saúde em que iam também os que tinham referências, e assim se criava a convivência. Após o advento dos CIAC E CIEP, ficou decretada a segregação.

O  pior é que as classes dominantes, com espírito de segregação, tiraram seus filhos das escolas públicas. Com isto, não havendo força na voz das classes menos favorecidas, esculhambou-se o calendário, com greves e mais greves, porque os governantes, não tendo seus filhos nas escolas dos governos, pouco se ocupa da qualidade profissional e da valorização dos educadores.

Estranhamente, os professores das escolas particulares são os mesmos da rede pública. Muitos têm dois empregos (um público, outro privado) mas tratam os alunos de modo diferente. Em Goiás, bom exemplo é o dos colégios da Polícia Militar: os mesmos professores, lecionando para clientelas do mesmo nível social, dedicam-se mais nos da PM do que nos colégios da Secretaria da Educação, porque há (ou, ao menos, havia) uma gratificação extra que praticamente dobrava os salários.

Agora, leio que o senador Cristóvão Buarque propõe, no Congresso, a obrigatoriedade de os políticos eleitos, executivos e parlamentares, nas três esferas de poder, manterem seus filhos em escolas públicas.

Estejam certos, leitores. Se isso acontecesse, teríamos nas escolas públicas a mesma qualidade que se tem no HUGO. Certamente, haveria qualidade no ensino e segurança para estudantes e professores. E, sem dúvida, os salários dos profissionais da Educação não seriam tão aviltados.

 

 

Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeauqino@gmail.com.

2 comentários:

BBrito disse...

ola luiz! se puder checar seu email, eu deixei um recado lá!
valeu!
abçs,
b.

Mara Narciso disse...

Não sei em que época o elo quebrou-se. No meu tempo de estudante do ensino médio, à época chamado científico, eu não estudava em Escola Pública, mas logo depois do vestibular, vim a encontrar-me na faculdade com pessoas oriundas de escolas públicas, e que estavam lá na escola de medicina. Hoje isso é praticamente impossível.

Como a profissão de educador paga mal, também ela recebe os profissionais menos preparados, e assim o ciclo se forma e a profissão vai deteriorando-se mais e mais. Que as novas ideias tenham efeito urgentemente, e para o bem de todos.