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sábado, março 07, 2009


Mulher,
imprensa e poesia

Luiz de Aquino

Ao realizar a série de entrevistas “Onde anda?”, em 1994 (que reuni em livro, "Deu no Jornal", em 2000), na Editoria de Especiais do DM, sob a chefia de Jayro Rodrigues, tentei inserir entre os meus entrevistados o governador José Feliciano (ele governou Goiás num mandato curto, 1958/60). Delicadamente, o velho político declinou-se, alegando viagem, falta de tempo... Só então a ficha caiu: foi a 5 de março, no início de seu governo, que a polícia “combateu, heroicamente”, uma manifestação de estudantes. A data deu nome ao mais combativo jornal da imprensa goiana em todos os tempos.

Manifestações de estudantes eram coisas normais no Brasil democrático de 1946 a 1964 (e mesmo após o golpe militar), mas a polícia tinha outra visão sobre as atividades do povo. A polícia (e alguns civis) rejeitam mudanças. Fosse possível isolá-los, estariam ainda usando ventosas e sanguessugas, escarradeiras e urinóis, escrevendo com penas e tinteiros e usando guarda-pó nas viagens por superfície.

O dia 5 de março é o mesmo de uma ação empreendedora acontecida em Meia-Ponte (Pirenópolis) mais de um século antes: em 1830 circulava pela primeira vez um jornal em terras do Centro-Oeste brasileiro, a “Matutina Meiapontese”, por inspiração e atrevimento do comendador Joaquim Alves de Oliveira. Seu principal jornalista (redator; hoje, editor-geral) era o padre Luiz Gonzaga de Camargo Fleury.

Nos primeiros cinco anos, o semanário de Batista

Custódio, Telmo de Faria e Consuelo Nasser, tendo como figura de referência o político e intelectual Alfredo Nasser, com sua linha editorial independente era um repositório da liberdade (“Nem Washington, nem Moscou, nem Roma: tudo pelo Brasil”, lia-se em seu logotipo). E após a quartelada de 1964, tornou-se bastião de resistência, a guarida em que a dignidade era respeitada. Ao menos, tentava-se, pois, naquele mesmo ano de 1964, o governador Mauro Borges determinou ou aceitou uma ação arbitrária da Policia Militar, que empastelou a gráfica.

Hoje estou usando termos que entendíamos bem na época, mas que pedem explicações nos dias de hoje. Mas não vou esclarecer, não; o leitor mais moço que procure saber o que vem a ser empastelar (no jargão jornalístico), ventosa, urinol, sanguessuga, escarradeira, tinteiro, pena de escrever, e guarda-pó. Não é preguiça minha, nem falta de respeito para com os moços, mas uma tentativa de induzi-los a pesquisar o vocabulário, ou a conversar com pais e avós, práticas (ambas) em desuso, tal como os objetos que relacionei.

De leitor dedicado, fã dos textos de Anatole Ramos, Carmo Bernardes, Javier Godinho, Antonio José de Moura, Alfredo Nasser, Marco Antonio Silva Lemos, Sebastião Póvoa e tantos mais (sei, sei, dirão que me esqueci de A ou B, mas não fujo; não é injustiça, é falha de memória mesmo), tornei-me repórter, indicado por Luiz Contart e aprovado por Eliezer Pena. Tive como chefe Valterli Guedes e Sônia Penteado, depois Marco Antônio S. Lemos e fui parar no novíssimo e revolucionário “Diário da Manhã”.


Neste domingo em que se festeja a mulher, centralizo a semana por duas quintas-feiras: dia 5, o Jubileu de Ouro do “Cinco de Março”; dia 12, os 29 anos de DM. Muita festa, pois! Sem esquecer que, dia 14, aniversário de Castro Alves, é Dia Nacional da Poesia.


Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.

4 comentários:

Mara Narciso disse...

Luiz, que miscelânea! Perdi-me pelo caminho. Acho que as fotos me dispersaram e não foi devido ao desconhecimento das palavras citadas, que conheço muito bem,pois sou antiga, mas devido a mudança de assunto.

Finalização com menção de três datas importantes: as mulheres, o Diário de Manhã e Castro Alves. O gênero feminino, o jornalismo, e a poesia misturados no dia 8 de março dão assunto e dão crônica.

Anônimo disse...

Luiz, você consegue ser escritor, crítico, romântico, homem, poeta, sem tropeçar nas letras. Magnífico texto.

Neusinha Gedoz.

Alda Inácio disse...

Olá poeta! Veja só que a gente se encontra e se perde nesta imensa globosfera. Vez por outra te encontro novamente em sites que entro e tudo porque você não coloca seguidores no teu blog. Caso contrário eu serei a primeira fiel seguidora.
Poeta abraça Goiânia por mim, diz a ela que volto este ano para ficar, prometo nunca mais deixá-la.
Fique em paz.
Bjs
Alda

Anônimo disse...

olá poeta, andei sumida do seu blog, por motivos de força maior estou de volta para ler suas crônicas, e a cada leitura me deleito mais sobre sua forma séria de escrever, com linguagem tão clara, temas tão sérios como Meio Ambiente por exemplo. Que Jesus lhe ilumine sempre e mais.