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quarta-feira, março 25, 2009

Nada mudou, nada muda...


Nada mudou, nada muda...


Luiz de Aquino

 

Visitando velhos arquivos, entre as matérias do meu punho publicadas no DM, em 1994 e 95, destaquei esta: “Um novo visual para a Cidade”. Era uma entrevista com o então presidente do Iplan (Instituto de Planejamento Municipal, hoje Secretaria de Planejamento), Sebastião Juruna. A seguir, trechos pinçados da tal matéria:

 

“Era o tempo em que reinavam solenes o Lanche Americano, o Restaurante Acapulco o Cine Casablanca (frequentado por famílias e até pelo fundador da Cidade) e o Samburá, todos na Rua 8, pedaço hoje conhecido como ‘Rua do Lazer’; o Tip-Top e o Café Central, ainda o centro de referências para políticos e intelectuais, na Rua 7; o Bazar Oió (do casal Francisca e Olavo Tormin) era a livraria preferida, seguido de perto pelo Bazar Municipal e Livraria Figueiró. Na Rua 3, (...) ponteava a Ciclone Turismo, de Valdir Frauzino, eternamente de gravata borboleta.

Os canteiros centrais da Avenida Goiás, da Praça Cívica à Estação Ferroviária, era todo ajardinado (quando prefeito, Pedro Wilson restabeleceu os jardins da Avenida Goiás) e o Grande Hotel ainda ostentava a solenidade dos tempos em que hospedara expoentes como Getúlio Vargas e Pablo Neruda. Era a Goiânia boêmia, imortalizada por Jesus de Aquino Jayme em seu Cometa de Halley e cuja primavera, que fazia elevar sobre as cabeças humanas uma alcatifa de flores flamejantes, foi cantada por Ieda Schmaltz num poema antológico: Goiânia, convite e roteiro.


(...)

E aí veio, então, a proposta do Iplan para o Centro, que descrevi mais ou menos assim:

“A lista de intenções do Iplan não é muito longa. (...)  Resumidamente, o objetivo é não permitir a deterioração do Centro. (...). Segundo o texto divulgado pelo Iplan, o desenvolvimento da cidade acabou legando ao Centro a posição de área decadente. (...) A proposta do Iplan está fundada em seis pontos: trânsito, densidade, sociologia, vegetação, maquiagem e propostas estruturais”.

O que se pretendia sobre o trânsito era “discutir e pôr em prática uma nova política de transporte coletivo na área, e a sugestão dos empresários do Centro (era) no sentido de erradicar o fluxo de transporte coletivo da Avenida Anhanguera”. Pedia-se também a “criação de um anel viário central”.

O então presidente do Iplan, Juruna, enfatizou também um estudo de cunho sociológico: queria “definir o perfil do usuário do Centro - moradores, comerciantes, banqueiros... -, incluindo-se discussões sobre segurança e a possibilidade de o Centro tornar-se uma zona de cultura e lazer, favorecendo-se as iniciativas nesses segmentos.

E sobraram atenções também para a vegetação: “O Iplan anota quatro pontos para melhoria do aspecto da flora. O primeiro inclui a reposição da vegetação decadente; outro é uma campanha sob o chamativo "Plante mais"; uma terceira idéia é a reavaliação do paisagismo existente com vistas a valorizar pontos históricos; e o último é a discussão da baixa iluminação nas ruas, em função dos prédios, estudando-se alternativas, inclusive quanto à altura do posteamento”.


Curiosamente, há quinze anos a administração municipal de Goiânia se preocupou com a limpeza, mas a coisa não saiu do papel. A expressão foi essa mesmo: faxina.


“Há edifícios centrais que, em 30 anos, jamais passaram por um tratamento de suas fachadas”. E, paralelamente, havia a preocupação com o aspecto histórico: "Rever o desenho urbano, criar identidade no mobiliário urbano, redesenhar calçadas, rever a sinalização de placas" foram destaques da proposta do IplanMais adiante: “Ainda no item maquiagem, há a caracterização do patrimônio tombado e a tombar, aspecto este que ficará a cargo da Secretaria Municipal da Cultura.

Pois é... O tempo passa, as pessoas passam e os problemas ficam. Os jardins da Avenida Goiás estão de volta; alguns eventos culturais significativos acontecem no Centro Histórico, mas existem grandes edifícios desocupados, os vultos humanos que fizeram história desapareceram. São de minha época de juventude o Alemão da banca de jornais, Waldir Frauzino, o da gravata borboleta,  o editor Taylor Oriente e os costumeiros comerciários e bancários que, entre profissionais liberais, davam ao Centro uma cor diferente e mais feliz.

Acho que, definitivamente, os Centros de cidades, no Brasil, restringem-se apenas ao bucolismo das pequenas cidades. Das bem pequeninas.

 

 

Luiz de Aquino é escritor , membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: 

4 comentários:

Anônimo disse...

Escreve sempre tão bem... que mais posso dizer? É claro que compartilho as suas ideias.
Bem-haja.

Deolinda disse...

Poeta, a cidade de que fala é uma Goiânia que existe apenas em arquivos. A Goiânia de hoje é uma cidade para carros, para pessoas de gosto estético duvidoso, cegas e surdas tendo em vista o tamanho dos anúncios sobre as marquises e a altura do som, do barulho em geral, para pessoas sem memória.
Infelizmente!

Anônimo disse...

Luiz de Aquino,
está belo e rico o seu blog.
Eu tenho "preguiça" de atualizar o meu!
Obrigada pelo envio.




Beijos.

Namastê.

Elizabeth Caldeira Brito

Maria Helena Chein disse...

Gosto de ler suas crônicas. A que fala das calçadas vem de acordo com o que o Dr. Carlos (amigo, paulista,advogado, morador em Goiãnia há muitos anos) e eu achamos. Elas são, na maioria, um perigo para nossos ossos e músculos. Podem se quebrar, rachar, cortar, etc. Dê mesmo um passeio, nos nossos passeios, com o prefeito Iris Rezende. Ele ficará horrorizado e, na certa, tomará providências.
" A Língua em risco" é um chamamento para tantas inconveniências ditas, como se vê e ouve na televisão: "o menino, ele veio aqui", "o remédio, ele irá curar seu dedo". Acho um enjoo (arre, a nova grafia) esse tal de "o menino ele". ou "o remédio ele" e por aí vai. E o " na verdade"?

Lu, que surpresa ver meu nome junto de Quintana e perto de Pessoa e Drummond, B. e Camões. Meu Deus, fiquei entre o sem graça e aquele sentimento bom de alegria, entende? Os poetas são demais e assim a honra é minha.
Um abraço bem grande.
Maria Helena ( ou Lena).