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terça-feira, abril 28, 2009

Eu quero mais ministros de cor


Luiz de Aquino

 

Vez em quando, ouço de alguém aparentemente bem-formado (quero dizer, gente que cursou universidade) que a solução para os nossos problemas está na volta do regime militar. Nesses momentos, sinto uma dor no estômago e algum hormônio ruim invadir-me o corpo, chego às raias da depressão. Mas reajo, ciente de que, para o nosso bem, essas pessoas não conseguem dar eco a suas vozes. A não ser por esparsos momentos, como aquele jornalão paulistano a decretar, em seu editorial, que o Brasil, de 64 a 85, viveu uma “ditabranda”.

Sim, leitor, a Folha decretou. Aliás, a Folha aprendeu a decretar justo nos tempos em que reinava a “ditabranda”. Não foi à toa que disseram que, naqueles tempos, era a Folha o jornal de “maior tiragem” no país. A referência não era ao número de exemplares rodados e distribuídos, mas, sim, ao número de “tiras” nos quadros de sua redação.

Por um tempo, os resquícios da ditadura militar foram chamados de “entulho democrático”, como se os aceitássemos como sobras de construção que enfeiam e incomodam. Alguns idiotas qualificam a ditadura como “militar e civil”; nunca vi nada mais insensato, pois os civis que participaram do golpe foram logo alijados do processo e só tiveram vez os baba-ovos, eternos mariposas da luz do poder, como ACM, Sarney e outros menos expressivos.

Mas o triste é que o entulho continua por aí. Os oportunistas, os agregados eternos do poder não soltam o osso. Empoleram-se ao poder como mariscos na rocha. Mamaram na ditadura até o fim e, com a boca torta pelo hábito, mamaram na era Sarney, no curto reinado de Collor, na regência de Itamar e no império de FHC. E continuam apegados nos mandatos de Lula.

Os mais espertos conseguiram empregos vitalícios. E nesses cargos “ad vitam” existem, felizmente, os que trazem consigo o lastro do conhecimento intelectual e técnico indispensável. Falo do ministro Joaquim Barbosa, em realce desde o instante em que, semana passada, afrontou o presidente do Supremo com a coragem dos que nada têm a temer. Ou perder.

Certo, o ministro! Felizmente que outros há de sua estirpe. Infelizmente, uns outros preferiram alinhar-se ao duvidoso presidente, dono de atitudes corajosas, mas inexplicáveis ao bom senso, como teimar em manter em liberdade autores de graves lesões à Pátria, escudados no poder do dinheiro e da influência que a pecúnia exerce sobre alguns. De imediato, nada menos que oito ministros alinharam-se com o presidente – mas a Nação Brasileira alinhou-se com Joaquim Barbosa.

Está certa, a Nação. Temos de nos alinhar com os nossos iguais. E a Nação, neste caso representada pela sua maioria pensante e trabalhadora, esta que tem vergonha na cara, enxerga no homem mestiço, símbolo da nossa identidade maior, aquilo com que sonhamos para o nosso Congresso e as assembléias legislativas e câmaras municipais. Ele agiu do modo como esperamos dos Executivos dos três níveis. Ele agiu, enfim, como queremos que ajam os ministros dos nossos tribunais.

 

 

 

Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com. Blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.

 

7 comentários:

Graça PInto disse...

Olá, poeta maior.

Boa noite

Li atentamente a crõnica estou feliz, por saber que além do ministro Joaquim Barboza, ainde existem poetas com a sua competência, parabéns e desejo que outros o sigam, na verdade o que falta em nosso país são homens corajosos que não se deixam intimidar pelos homens de colarinho branco que se escondem atrás de cargos para fazer bandidagem e ficarem impunes. Há em cada brasileiro uma voz que não quer
calar. Tenho esperança que um dia seremos uma nação realmente livre.
Que a paz do Senhor Jesus esteja sempre presente em sua vida e a iluminação do Espírito santo em sua mente.

José Carlos Barbosa disse...

Luiz, me inclua entre os alinhados com o Dr. Joaquim Barbosa, mas não só porque ele é também um Barbosa como eu.
Abraços do Zeca

ON THE É (nada do que não era antes, quando não somos mutantes) disse...

retribuindo, amigo:
radiografas como o pulsar de um farol, o que de avassalador existe por nosso chão. e a lua, tão acolhedora, retribui com um sorriso, esse seu retrato.
grande abraço
do
Cgurgel

Madalena Barranco disse...

Olá querido Luiz,

Gente honesta e corajosa é o verdadeiro tesouro do Brasil.

Beijos

Anônimo disse...

Brilhante!!!Perfeito!!!!
Com você faço coro..
Beijos,grande poeta de coragem

Márcia disse...

Brilhante!!!Perfeito!!!!
Com você faço coro..
Beijos,grande poeta de coragem

Paulo Rolim disse...

Bravo, Poeta. Voce foi imensamente feliz ao escrever: "os oito, imediatamente alinharam-se com o presidente (minúsculo, mesmo), enquanto o Brasil, alinhou-se com o Joaquim Barbosa". independente de sua raça, Joaquim Barbosa nos dá orgulho de saber que na suprema corte do Brasil tem um homem como ele: honrado e de profundo conhecimento!
Parabéns!!!!!!!!!
BRAVO!!! BRAVO!!!! BRAVO!!!