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sexta-feira, abril 30, 2010

A poesia e a AGL

A poesia e a AGL



Vem aí, em data a ser escolhida pelo presidente Hélio Moreira, duas eleições para novos membros da Academia Goiana de Letras. Alguns equívocos de um passado não distante trouxeram ao seio da Academia pessoas notáveis da sociedade goiana, expressões da vida pública e científica, juristas e outros notáveis. É bom tê-los entre nós, mas nota-se que a familiaridade fica prejudicada pelo distanciamento que esses têm para com o ofício literário em sua essência.

É com alegria que os temos no nosso meio, sim. É bom conviver com quem fez história e (ou) faz a diferença. Contudo, é um tanto incômodo, para as duas partes, quando se trata do “modus faciendi” das letras e os temas ou as técnicas são postas diante de leigos. É como ouvi-los falar de termos gregos ou jurídicos ante a nossa sempre curiosidade. A diferença está em que os escribas de ofício familiarizam-se facilmente com as palavras, sejam elas gírias ou calões, enquanto os técnicos embaraçam-se no entendimento dos conceitos literários.

Existem, pois, duas vagas, que são disputadas, a primeira delas, por Iúri Rincón Godinho e Edival Lourenço – o primeiro, autor de vários livros e editor feliz por assinar, nesta condição, mais de 200 títulos; o segundo, atual presidente da União Brasileira de Escritores, ficcionista talentoso. Ou seja, ambos dignos de integrar o mais elevado dos sodalícios literários do Estado. Já me manifestei, desde outro pleito, em favor de Iúri e, obviamente, torço por sua vitória. Se acertar, comprometo-me antecipadamente com o voto em favor de Edival noutro escrutínio.

A outra vaga (ambas as vagas eram ocupadas por poetas, respectivamente Helvécio Goulart e A. G. Ramos Jubé) tem como candidato, até agora, o poeta Gabriel Nascente. Em sã consciência, aconselho qualquer pretendente a não disputar com o poetinha de “Um balde cheio de flores pra Manuela não chorar”. É que “Gabriel, o menino gato” (a expressão entre aspas foi título de um artigo-crônica que escrevi num dos aniversários de nascimento e literário do poetinha, há uns vinte anos)... Eu dizia, Gabriel já deveria estar investido da imortalidade goiana há muito tempo! Aos sessenta anos de idade, ele conta quarenta e quatro anos de estreia em livro e de prática poética ininterrupta, juntando publicações aqui, em todo o País, pela América afora e até mesmo no Velho Mundo. Gabriel é mais um orgulho das nossas letras e não pode mais ficar fora desse fechado clube de letras que é a AGL.

Expresso, assim, meus votos em público, como tem sido do meu feitio desde quando fui aceito entre os que temos na conta de “a nata” dos escribas da nossa terra. E estejam todos muito bem certos de que não falseio meu propósito, ou seria um pusilânime, como seria do gosto dos que aguardam qualquer falha minha para afiar suas línguas. A esses, a saliva ejetada é pouco.

Maria Helena Chein e eu

Voltando ao patamar nobre do ofício das letras, exalto aqui dois esboços de poemas da lavra de uma acadêmica de Letras da Paulicéia. Refiro-me a Mariana de Ramos Galizi, que aqui esteve por quatro dias, na semana passada, buscando rastros de Bernardo Élis para seu trabalho de conclusão de curso. Ela foi carinhosamente recebida por nós, ou seja, por José Fernandes, Leda Selma (foto ao lado), Maria Helena Chein, Maria Luiza Carvalho e Patrícia Chanely (estas duas, do grupo Várias Marias e um Poeta), pelos cantores André Lopes e Regina Jardim, a Ludmila e o ativista cultural Luiz Antônio Godinho (em Pirenópolis). O primeiro poema evoca a viagem e faz trocadilho com o antigo topônimo Meia-Ponte:


A palavra é a ponte, meio-inteira do Rosário,

ponte-áerea, Congonhas- Santa Genoveva,

pontes que nos mostram fontes e montes,

de carinhos, poesias e lembranças,

trazem estupefação e amor

como se os transeuntes fossem de outrora

e já assim o soubessem.

Algo de fraterno,

mágico e eterno,

mostras do atemporal auxílio moderno,

união de pontes e pontos pela palavra,

pela concepção,

busca e admiração do belo.


O outro alude a um belíssimo exemplar de lobo-guará, atropelado por algum veículo veloz na rodovia:


Vi um guará estatelado,

bem no meio do que divisa

a bela vista do cerrado.

Contraí por dentro um gemido

pelo assassínio desavisado

pela bela selvagem vida

arrancada sem querer

mas brutalmente

de quem atravessou pro lado errado.


Meu carinho aos três escribas que se propõem a integrar nossa Academia! E o mesmo à Mariana, com um beijo especial e de curta duração (é o meu modo de lhe pedir que volte logo).


Luiz de Aquino é escritor de verso e prosa, membro da Academia Goiana de Letras. E-mai: poetaluizdeaquino@gmail.com Eu e Mariana

14 comentários:

Mariana Galizi disse...

Ih, adorei! rs
Amei Goiânia e a todos os que conheci, me senti muito bem por aí e pretendo voltar logo e repetidas vezes.
Repito, você é uma enciclopédia viva, um educador nato e amante de sua terra, o que torna fácil que a amemos também.
Jamais conseguirei agradecer decentemente a ajuda de todos daí. São Paulo os espera de braços abertos, venham.
beijos

Lila Boni disse...

Beijos p todos !!!!!!

Mônica Blue disse...

Só pra dizer que andei passeando por aqui, batendo asas, sempre!
Concordo com a Mariana, você sempre será um excelente educador, cada palavra sua é um exemplo vivo, é um ensinamento, nada que você diz é desperdiçado, tenha certeza disso.
Beijos meu amigo beija-flor.
Sua eterna amiga.
Mônica

Edival Lourenço disse...

Prezado Luiz, obrigado pela boa rferência a meu nome e também pelo compromisso do voto (futuro). Sucesso em sua vida pessoal e de escriba.
Abraço

Edival Lourenço

Mara Narciso disse...

Que vença o melhor!

Maria Luiza de Carvalho disse...

Caro poeta!
Mesmo diante das intempéries da vida, você continuam sempre disposto e prestativo com os que chegam à busca de novos caminhos.
Acompanho há pouco tempo sua trajetória, porém observo sua dedicação.
Espero que você inspire outros da área. Seus escritos e suas atitudes estão apontando o caminho.
Resta que leiam, entendam e queiram realizar as mudanças de fato.
Mariana querida, estarei em SAMPA dia 19 de maio.
Beijos

Malu

Maria Helena Chein disse...

Mas que delícia de crônica, Lu!
Os assuntos vieram gostosamente assentados nas palavras e
no seu jeito de contar, mesclando tudo com aquela propriedade
que é sua e de mais ninguém.
Três nomes significativos para o ingresso na Academia, hem?
E o Gabriel, gente? Ele é a poesia andante, falante!...
A Mariana fez dois poemas lindos, gostei muito. Ela é boa poeta.
E nós todos ficamos bonitinhos nas fotos, que gracinhas!

Tiau,beijos.
Maria Helena

Sonia Marise disse...

Poeta, você deu o recado contra as contra os que se limitam a assinar textos laudatórios, não raro, mofados da academia rs rs rs . É o tal negócio : "cada quem com o seu cada qual:" , conforme dizem em Itacajá, Tocantins rs rsrs ...
abração

Duda-Lima e Veri disse...

Maravilha! Somos leitores assíduos do teu trabalho e evidentemente dos teus parceiros. Abraço e luz contínua. Duda e Veri

Simplesmente Malu! disse...

Obrigada por sua presença em meu blog.
Gestos como esse me motivam a continuar.

Mudando de assunto...Adorei este seu visual de chapéu!Rsrs

Anônimo disse...

Conheci Gabriel Nascente pelas bocas de outras pessoas, li um texto que se referia a um discurso eloquente que ele propferiu (não importa aqui qual e nem pra quem) o que quero dizer que gosto do estilo dele, principalmente de suas metáforas tão bem empregadas ("um abismo chorar dentro de uma lágrima...") não esquelo isso! Assim, se for ele o escolhido já era hora!Se for algum outro, com toda sinceridade eu parabenizo! Carinho amigo poeta....

Luiz de Aquino disse...

Obrigado por comentar, mas esqueceu-se de assinar, não é mesmo ?

Bem, Gabriel Nascente é, em parte, como você detectou. Leia-o mais, vai descobrir muitas maravilhas nos versos desse que é um poeta=símbolo de Goiás!

Simone Araújo disse...

Meu querido amigo,já nada prometo,apenas que não esqueço.Gosto muitíssimo dos
seus poemas de tudo quanto escreve.Um grande beijinho.

Unknown disse...

Ah neimmmmm! Bãodimaisdaconta!
Corróró-cavidejê!
Olha, Luiz,você não existe, ninguém sai de perto de você sem aprender ao menos um pouquinho.
Agradeço imensamente o carinho e a dedicação. Nesses pequenos momentos que a gente vê que existem melhores amigos.EU TENHO!
Um beijo enorme,
Regina Jardim