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segunda-feira, outubro 11, 2010

Antropofagia à minha moda

Meu poema "Cálidas Mineiras em Termas Goiás", aqui publicado, tal como foi enfocado no portal Germina / A genética da coisa (como idealizaram Rodrigo Sousa Leão e José Aloise Bahia e como possibilitou a poetisa Silvana Guimarães) - http://www.germinaliteratura.com.br/2010/ageneticadacoisa_luizdeaquino_set10.htm -  mereceu, da professora (e poetisa) Jô Sampaio, da Universidade Estadual de Goiás, a seguinte análise:



* * *

Antropofagia goiana



Jô Sampaio (1)










As mineiras são quentes pelo contato com as águas ou as águas são quentes pelo contato com as mineiras? O título  nos leva a um quiasmo, esquecida  figura de linguagem resgatada na propaganda de "Tostine"

Nas duas primeiras estrofes há predominância  de frases nominais. Essa total   ausência de verbos determina o estado contemplativo do emissor. Sereias, expressão que metaforiza as morenas mineiras, torna-se expressão catalisadora, cujas palavras secundárias (louras, morenas, faceiras,etc.) compõem com ela (sereias) toda a atmosfera poética do texto. Além de forte conteúdo expressivo, sereia, no poema, tem significação ampliada, chegando ao campo semântico de elemento universalizante do encantamento do poeta em estado de devaneio, que o aproxima de Ulisses, ao se deixar levar pelo canto da sereia.
            






    O poema é bem pictórico. Os adjetivos lhe dão variados matizes, podendo ser comparado a uma aquarela, cuja paisagem retratada inspirou o artista no passado, dando-lhe voz colorida que ainda hoje soa aos ouvidos e olhos dos que a ouvem e leem,oferecendo  sempre ao receptor o sabor do novo, com os mesmos viço e vigor que teve o texto, à época de sua Gênese.









    As Águas Termais de Caldas Novas e suas banhistas, realidades do cenário goiano, foram o "Faça-se a luz" do criador(o poeta), no momento de sua criação (o poema). Alguém já disse que "no túnel do tempo, as palavras da poesia têm a velocidade da luz, iluminando o passado". Certamente foi essa "remota iluminação" que brotou do coração do poeta, quando este se viu diante daquela a(bunda)nte passarela de louras, morenas, sóbrias, faceiras mineiras.



Percebe-se, em todas as palavras, que foram essas "cálidas sereias das águas termais" que brilharam no passado romântico do eu-lírico, refletindo-lhe a luz que provocou a epifania do poeta.

As sensações e emoções do poeta vão mudando  segundo a cadência das a(bunda)ncias anatômicas das sereias (de tetas pequenas e nádegas plenas). De repente (não mais que de repente), dessa paisagem, de início estática pelo excesso de frases nominais, surge uma ação: a carne (tetas e nádegas) se fez verbo e o verbo se fez ação  e a domin(ação) (Comê-las cruas). Daí a angústia do "comprometedor livre arbítrio" (são suas? são minhas?), dúvida esta que figurativiza também a dimensão erótica que se instaurou no poema.
              






    Da incerteza da posse (são suas? são minhas?) nasce também a inquietante angústia sobre o local em que se serviria a ceia (quem sabe a última), expressa pelos versos: "nos clubes, nas ruas, nas piscinas, nos lençóis, à lua". A quinta estrofe estabelece a serenidade do apetite saciado, do clima "pós-sesta" (Em termas piscinas /as vejo meninas... louras vindouras).









    Segundo Camões "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança / Todo mundo é composto de mudanças / Tomando sempre novas qualidades". Estes versos camonianos reportam à contraditória mudança que o tempo opera sobre tudo e sobre todos, ficando sugerida a ideia de desconcerto do mundo. O desconcerto operado no interior do poeta nos é transmitido pelas últimas palavras de cada estrofe, todas grafadas entre parênteses, sugerindo algo que deveria ficar apenas subentendido, ou seja, sentimentos e  sensações inconfessáveis, talvez por apresentarem certos laivos de sensualidade que  a civilização judaico cristã nos deixou como fruto proibido, embora saibamos que "crescer implica em multiplicar”.



A mesma musa que inspirou o poeta, investiu-lhe toda a energia mental e emocional na elaboração da seiva libidinal do poema, cujas palavras, ao entrarem na engrenagem do fazer poético, dão ao leitor a impressão de que se consumou a união de Eros com a Lira, pois, na “engenharia” social  da alma  e ciência das relações humanas está a necessária catexe libidinal” (Marcuse, Herbert, pg.13,8ª ed.).






    Abundantes, expressão última da primeira estrofe, revela sensação visual captada pela exposição de fartas e plenas nádegas. Contudo, a expressão espácio-temporal "além-horizonte" trouxe ao poeta a certeza da transitoriedade daquele cenário, cuja fugaz abundância se comprova pela palavra "visitante" (passageiro). Na terceira estrofe, a sensação gustativa (é comê-las cruas) reflete a fúria incontrolável do  apetite sexual, seguida da inquietação advinda da traição ao possuidor da coisa possuída (são suas?) para, a seguir, o eu-lírico assumir de vez a posse do objeto dos seus desejos (Gatinhas. São minhas?)








    O verbo comer em "é comê-las cruas"  nos leva também ao sentido lato da palavra, além de resgatar a arte autóctone de Oswald de Andrade com seu manifesto Antropofágico de 1928. "Só a Antropofagia nos une. Socialmente.  Economicamente. Filosoficamente."








    Ainda na esteira do antropofagismo "comer as gatinhas que eram suas e agora são minhas"  faz jus a outra expressão do citado manifesto Antropofágico: "Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do Antropófago".










    As águas Termais de Caldas Novas equivalem às águas do rio Aquelou, mãe das sereias que têm Calíope por pai. Segundo a lenda, as sereias  atraiam os marinheiros com seus cantos harmoniosos e mágicos. Muitos de tais marinheiros perderam a própria vida para ouvi-las. Ao nosso poeta porém, não interessam as sereias da Sicília, seu interesse único eram as sereias das Minas Gerais - prefiro as mineiras, serenas sereias. 

           

* * *


















(1) Josefa Martins Lopes Sampaio (Jô Sampaio), graduada em Letras, especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira Contemporânea, mestra em Literatura e Crítica literária, Professora aposentada e docente do Ensino Superior na UEG.



PUBLICAÇÕES:

Contradições - Contos, crônicas e poemas
O Tema Exílio na Lírica moderna - Ensaio
A Trapesista - Contos e crônicas
Nina - Literatura infantil
Duelo Atemporal - poesias
Estudos da poesia de Coelho Vaz - ensaio
Mito e existência no ócio da Via Sacra - Ensaio
Participação em várias antologias.

 









E, agora, o poema:










Cálidas Mineiras em Termas Goiás
                                    


Morenas mineiras,
serenas sereias
de tetas pequenas
e nádegas plenas
(abundantes).

Sóbrias maneiras
de moças faceiras,
saudáveis mineiras
de além horizontes
(visitantes).

Nos clubes, nas ruas,
nos lençóis, à lua,
vestidas ou nuas
— é comê-las cruas —
(são suas?).

Em termas piscinas
as vejo meninas;
mineiras maneiras,
morenas apenas,
sereias serenas
louras vindouras
(gatinhas. São minhas?).

Negras, castanhas,
castas, me assanham:
discretas, insinuantes
— prefiro as mineiras,
sereias morenas
de tetas parcas e nádegas fartas —
(abundantes).

14 comentários:

Mara Narciso disse...

Tanta técnica que não há como um leigo acrescentar uma letra que seja. Parabéns por merecer um estudo/análise tão profundos da sua poesia.

Ridamar Batista disse...

Jô foi minha amiga de infância e adolescência em Santa Terezinha de Goiás.
Gosto do que ela escreve.
Tem sensibilidade e ternura.
Um abraço aos dois.
Ridamar

Silvio Mello disse...

Caro Poeta/Professor/Amigo Luiz de Aquino..!!
Aforante a Análise muito técnica da Profa. Jô, o teu poema deve ser tirado o chapéu, a botina e toda a roupa também...........!!!
Parabéns.....
Que bom é ter um amigo Poeta...

Leda(ê) Selma disse...

Nossa, que legal, Luiz! É, estão fazendo-lhe justiça: a Fatinha, lá na PUC, e agora, a professora Jô Sampaio da UEG. Parabéns!

Essa leitura, com liberdade e senso crítico aguçado, da Jô abre novas trilhas para novas percepções do texto. Poesia não se explica, sente-se, e a sensibilidade que se deixa tocar pelas palavras poéticas dá o nível de interação entre poema e leitor, num processo simbiótico. Por certo, você gostou. Beijocas. Lêda



Visite meu BLOG:
http://poetaledaselma.blogspot.com

Silvana Guimarães (BH, MG) disse...

E muito bem feita, Luiz.

Gostei de ler.

Um beijo!

MEUS POEMAS disse...

Oi Luiz, sou eu de novo....
Falei se vc conhece alguém porque penso que mora mais lá, mas se morar, vai poder me ajudar.
Estou a procura de um Jeep que está lá e que foi meu, vou passar os dados:
Jeep branco- ano 66
placa: BZY- 4452 de Cezarina GO
Virma o jeep na Rua T-16
Se vc puder me ajudar, serei mt grata!
e-mails pra contato:
genamaria2010@yahoo.com.br
h2agua1@terra.com.br
Bjs pra vc meu amigo e obrigada
Gena

Madalena Barranco disse...

Olá, querido Luiz,

A senhora Jô caprichou na análise, que me encantou pela precisão e com todas as relações que ela teceu com obras de outros autores. Você mereceu, querido amigo, esse presente tão bonito, que destaca ainda mais seu poema.

Beijos.

Anônimo disse...

Mestre da "Antropafagia"ficarei mais atenta,adorei o poema,uma estrofe se parece com o meu vê,encantador é você,maduro professor,homem poético,poderia até dizer que foi feito p mim,modesta não?Rsrsr,grande poeta,parabéns.

Anônimo disse...

Mestre da "Antropafagia"ficarei mais atenta,adorei o poema,uma estrofe se parece com o meu vê,encantador é você,maduro professor,homem poético,poderia até dizer que foi feito p mim,modesta não?Rsrsr,grande poeta,parabéns.

Luiz de Aquino disse...

Eta!

Obrigado pelo carinho... Mas sem assinar?

Unknown disse...

Análise do poema Cálidas Mineiras em Termas Goianas.

Ao ler o título do excelente poema Cálidas Mineiras em Termas Goianas, caloroso em sua elaboração, fica nítida a impressão do poeta em convidar os seus leitores para o mergulho nessa profunda percepção à qual o texto nos conduz de forma discreta, suave, além de estimulá-los ao banho no sentido mais plural que essa palavra possa ter.

A descrição das mineiras, na primeira estrofe do poema, é um convite ao mergulho (típico nas termas) ao narcótico e ao onírico, no melhor dos sentidos, sobretudo em sua linguagem figurativa, bem construída, ao defini-las como sereias. Percebo isto, o sonho, ao avaliar que em Minas Gerais não tem mar, portanto, não há por lá esses seres metade mulher e metade peixe; ou em parte seios, noutra rabo, pois essas personagens mitológicas não têm bunda.
Outro fator marcante para entender a proposta do autor de nos convidar ao mergulho no sonho, está no fato em que nas Minas Gerais não temos, com facilidade, notórias e reconhecidas cantoras, o que contraria a mitologia, pois as sereias seduzem os homens pelo canto. Mas o sonhar nos faz perceber que nada é impossível.

Conforme minha interpretação inicial, se o poema não fosse um convite ao sonho ou ao delírio, além de nos conduzir à embriagues, a sereias seriam chamadas de ninfas, que podem ser vistas em lagos, rios, cachoeiras ou em festivais de gatas molhadas (comuns nas terras das Minas Gerais, que tem o seu grande ícone na Nana Gouveia (mineira de nascença)). Isso demonstra o desejo do poeta de permitir que seus devaneios levem e elevem as mineiras para qualquer canto onde o ato de sonhar seja possível.

Aliás, na visualização da primeira estrofe, percebo que a seriedade das mineiras, que são sereias, está na exposição radiante, quase que neo-iluminista do brilho dos seus rabos abundantes e na sutileza de suas tetas pequenas, que para o nado simbolizam a estabilidade tão necessária na arte náutica, sem aflitos. Nesse caso, o sonho proposto pelo autor é bom.

A beleza das sereias lembra o adorno e Adorno nessa nossa Dialética do Esclarecimento, onde o fascínio que elas exercem sobre nós (homens) estimula, nesse processo dialético, a fome com a vontade de comer e vice-versa. Isso pode ser demonstrado na letra composta por Gilberto Gil, que aparece abaixo:


A novidade.
(Gilberto Gil).

A novidade veio dar à praia
Na qualidade rara de sereia.
Metade o busto
De uma deusa Maia,
Metade um grande
Rabo de baleia.

A novidade era o máximo.
No paradoxo
Estendido na areia.
Alguns a desejar
Seus beijos de deusa,
Outros a desejar
Seu rabo pra a ceia.

Oh! Mundo tão desigual.
Tudo é tão desigual.
Ô, Ô, Ô, Ô, Ô!
De um lado esse carnaval,
De outro a fome total.
Ô, Ô, Ô, Ô, Ô!

E a novidade que seria um sonho.
O milagre risonho da sereia,
Virava um pesadelo tão medonho
Ali naquela praia,
Ali na areia.

A novidade era a guerra
Entre o feliz poeta
E o esfomeado
Estraçalhando
Uma sereia bonita,
Despedaçando o sonho
Pra cada lado.

Oh! Mundo tão desigual.
Tudo é tão desigual.
Ô, Ô, Ô, Ô, Ô!

De um lado esse carnaval.
De outro a fome total.
Ô, Ô, Ô, Ô, Ô!

Unknown disse...

(Continuação).

Ao ler a segunda estrofe, sinto que a sobriedade das mineiras está na sua saúde, que se vê pelo rabo abundante, ponto de sedução crucial, cujo belo horizonte, bem pontuado pelo autor anteriormente, nos eleva a outras realidades, outros mundos de exploração dos seus corpos no modo mais intrafísico possível e imaginável. Desta vez o convite parte delas, os visitantes são mais atraentes. Bela viagem!

Ao ler a terceira estrofe, percebo fortes influências do nosso poeta Luís de Aquino do Clube da Esquina, Ponto G da capital mineira, onde valorizavam o que é da terra, e o poema, de forma quase que erótica, expõe o valor da mulher de Minas Gerais.

As associações dos termos clubes e ruas, em minha leitura psicanalítica, permitem a visualização de esquinas. Assim percebo a metáfora do poeta, pois o Clube da Esquina fica bem perto da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, cuja analogia geográfica remete também a Epicuro, que gostava de se sentir livre no seu jardim. Lembre-se que a filosofia epicurista é um convite ao prazer absoluto, sem dor na alma, na busca das realizações de suas taras, e a palavra tara deriva do termo grego ataraxia, que possui profundo valor moral na busca da felicidade suprema.

Aliás, esse estrofe, o terceiro, apresenta o ponto clímax, onde à lua torna todo o ambiente construído na sua elaboração mais vivo, pois o brilho prateado dos rabos das sereias se mescla à cor lunar (prateada).

Agora, o quê o poeta quis dizer com comê-las nuas? Seria alusão ao modo como os japoneses comem o rabo de suas sereias, ou seja, de pauzinho? Ou será, conforme proposto nesse jogo de linguagem banhado, jogar o molho? Ao ler a pergunta posterior no fim da quarta estrofe entre parênteses (São suas?), o poema ganha o ar da graça do ninguém tasca, eu vi primeiro.

Aliás, as sereias são livres, conforme os horizontes ditos na segunda estrofe, para abrir e fechar a porta como quiser. Elas fazem o convite porque são maneiras (segundo a definição apresentada para as mesmas na quarta estrofe) e como todo bom convidado, deve-se saber a hora de sair.

As sereias mineiras são livres, a ponto do poeta se perguntar: - São minhas? Dado o questionamento, que nos leva ao conflito, a resposta sutil delas em seus gestos faceiros é: - Ninguém é de ninguém.

O conflito emocional que o poema nos transmite diz: - Camarada, não é minha e nem é sua. Então deleite-se. Aí está a grande sagacidade do autor, que como em um passe de mágica trata as sereias como gatinhas.

No fim, última estrofe, o poeta parece tratar do gradativo bronzeamento das mineiras, que sabem muito bem como assar um homem.

Unknown disse...

(Continuação).

Ao ler a segunda estrofe, sinto que a sobriedade das mineiras está na sua saúde, que se vê pelo rabo abundante, ponto de sedução crucial, cujo belo horizonte, bem pontuado pelo autor anteriormente, nos eleva a outras realidades, outros mundos de exploração dos seus corpos no modo mais intrafísico possível e imaginável. Desta vez o convite parte delas, os visitantes são mais atraentes. Bela viagem!

Ao ler a terceira estrofe, percebo fortes influências do nosso poeta Luís de Aquino do Clube da Esquina, Ponto G da capital mineira, onde valorizavam o que é da terra, e o poema, de forma quase que erótica, expõe o valor da mulher de Minas Gerais.

As associações dos termos clubes e ruas, em minha leitura psicanalítica, permitem a visualização de esquinas. Assim percebo a metáfora do poeta, pois o Clube da Esquina fica bem perto da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, cuja analogia geográfica remete também a Epicuro, que gostava de se sentir livre no seu jardim. Lembre-se que a filosofia epicurista é um convite ao prazer absoluto, sem dor na alma, na busca das realizações de suas taras, e a palavra tara deriva do termo grego ataraxia, que possui profundo valor moral na busca da felicidade suprema.

Aliás, esse estrofe, o terceiro, apresenta o ponto clímax, onde à lua torna todo o ambiente construído na sua elaboração mais vivo, pois o brilho prateado dos rabos das sereias se mescla à cor lunar (prateada).

Agora, o quê o poeta quis dizer com comê-las nuas? Seria alusão ao modo como os japoneses comem o rabo de suas sereias, ou seja, de pauzinho? Ou será, conforme proposto nesse jogo de linguagem banhado, jogar o molho? Ao ler a pergunta posterior no fim da quarta estrofe entre parênteses (São suas?), o poema ganha o ar da graça do ninguém tasca, eu vi primeiro.

Aliás, as sereias são livres, conforme os horizontes ditos na segunda estrofe, para abrir e fechar a porta como quiser. Elas fazem o convite porque são maneiras (segundo a definição apresentada para as mesmas na quarta estrofe) e como todo bom convidado, deve-se saber a hora de sair.

As sereias mineiras são livres, a ponto do poeta se perguntar: - São minhas? Dado o questionamento, que nos leva ao conflito, a resposta sutil delas em seus gestos faceiros é: - Ninguém é de ninguém.

O conflito emocional que o poema nos transmite diz: - Camarada, não é minha e nem é sua. Então deleite-se. Aí está a grande sagacidade do autor, que como em um passe de mágica trata as sereias como gatinhas.

No fim, última estrofe, o poeta parece tratar do gradativo bronzeamento das mineiras, que sabem muito bem como assar um homem.

Unknown disse...

(Continuação).

Ao ler a segunda estrofe, sinto que a sobriedade das mineiras está na sua saúde, que se vê pelo rabo abundante, ponto de sedução crucial, cujo belo horizonte, bem pontuado pelo autor anteriormente, nos eleva a outras realidades, outros mundos de exploração dos seus corpos no modo mais intrafísico possível e imaginável. Desta vez o convite parte delas, os visitantes são mais atraentes. Bela viagem!

Ao ler a terceira estrofe, percebo fortes influências do nosso poeta Luís de Aquino do Clube da Esquina, Ponto G da capital mineira, onde valorizavam o que é da terra, e o poema, de forma quase que erótica, expõe o valor da mulher de Minas Gerais.

As associações dos termos clubes e ruas, em minha leitura psicanalítica, permitem a visualização de esquinas. Assim percebo a metáfora do poeta, pois o Clube da Esquina fica bem perto da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, cuja analogia geográfica remete também a Epicuro, que gostava de se sentir livre no seu jardim. Lembre-se que a filosofia epicurista é um convite ao prazer absoluto, sem dor na alma, na busca das realizações de suas taras, e a palavra tara deriva do termo grego ataraxia, que possui profundo valor moral na busca da felicidade suprema.

Aliás, esse estrofe, o terceiro, apresenta o ponto clímax, onde à lua torna todo o ambiente construído na sua elaboração mais vivo, pois o brilho prateado dos rabos das sereias se mescla à cor lunar (prateada).

Agora, o quê o poeta quis dizer com comê-las nuas? Seria alusão ao modo como os japoneses comem o rabo de suas sereias, ou seja, de pauzinho? Ou será, conforme proposto nesse jogo de linguagem banhado, jogar o molho? Ao ler a pergunta posterior no fim da quarta estrofe entre parênteses (São suas?), o poema ganha o ar da graça do ninguém tasca, eu vi primeiro.

Aliás, as sereias são livres, conforme os horizontes ditos na segunda estrofe, para abrir e fechar a porta como quiser. Elas fazem o convite porque são maneiras (segundo a definição apresentada para as mesmas na quarta estrofe) e como todo bom convidado, deve-se saber a hora de sair.

As sereias mineiras são livres, a ponto do poeta se perguntar: - São minhas? Dado o questionamento, que nos leva ao conflito, a resposta sutil delas em seus gestos faceiros é: - Ninguém é de ninguém.

O conflito emocional que o poema nos transmite diz: - Camarada, não é minha e nem é sua. Então deleite-se. Aí está a grande sagacidade do autor, que como em um passe de mágica trata as sereias como gatinhas.

No fim, última estrofe, o poeta parece tratar do gradativo bronzeamento das mineiras, que sabem muito bem como assar um homem.