Carta ao Ontem
ou
A estátua na pr..., isto é,
ou
A estátua na pr..., isto é,
no quintal!
Goiânia, outubro outra vez, dois mil e dez… Setenta e sete anos de festejo da Pedra Fundamental, intencionalmente plantada no dia seguinte ao aniversário do interventor Pedro Ludovico; não pelo natalício do homem, mas pelo dia em que, três anos atrás, Getúlio Vargas amarrou seu cavalo no obelisco da Avenida Rio Branco, na capital da República.
Também a cavalo, mas no alto da Serrinha (onde hoje existe um complexo de antenas de comunicação), Pedro Ludovico contemplava a campina, entremeada de bosques; mais ao longe, a importante, mas minúscula, Campininha das Flores. Minúscula? Ah, sim! Mas qual era, também o tamanho da Capital, a Cidade de Goiás? Neste sertão do Planalto Central, grandes mesmo eram as distâncias, apenas.
Fez-se a cidade!
Afinal, Minas Gerais já construíra, quase quarenta anos antes, a sua Belo Horizonte, planejada e bela. Escolhido o sítio, plantou-se a pedra. Estranho? Ora, ora, isso é uma metáfora! A Pedra Fundamental da nova cidade, a que seria a capital do Estado, com o propósito de atrair atenções e fazer crescer o Estado. Não havia dinheiro, mas havia o poder, pleno e forte. Somente a História nos contaria, depois, que Pedro seria o único dos interventores a permanecer no poder local por tanto tempo quanto Getúlio ficaria à frente das decisões nacionais.
Injusta, penso eu, foi a decisão de incorporar a tradicional Campininha das Flores ao município da nova Capital. Ela, a velha cidade, que festeja atualmente seu bicentenário, não merecia tornar-se um bairro, apenas. Mas a História não é uma instituição abstrata, ela é ciência e trata o passado para construir futuros. Por décadas, Campinas não era um bairro, mas um pólo, tão superior ao Centro (a parte efetivamente planejada da nova cidade) que deu continuidade à sua vida bucólica, progredindo e se modernizando sem comprometer sua identidade.
Aos olhos de um jovem dos anos de 1960, fotos como os rolos compressores para a compactação do solo para aplicação de asfalto, tendo por pano de fundo o Palácio das Esmeraldas, traziam o mesmo peso da imagem do interventor-idealizador-fundador de Goiânia, montado a cavalo, trajando culote, botas, camisa militar e chapéu de escoteiro, contemplando a planura das campinas do alto da Serrinha.
Neuza Morais também gostava daquela foto. Decidiu-se por ela ao escolher esculpir Pedro Ludovico em tamanho gigante para ser entronizado na sua cidade. A primeira discussão não andou muito, ficou apenas numa sugestão que se viu vencida – partiu do escritor Bermardo Elis, que preferia uma estátua sedestre (sentado, em trabalho executivo; a terceira opção seria a estátua pedestre, isto é, de pé). Neuza elegeu, pois, a estátua eqüestre, ou seja, a cavalo.
Acho que entendo... Qual o escultor que não gostaria? O cavalo é tido como a mais perfeita das formas vivas! E é inegável a sua importância no caminho da humanidade. Acompanhei parte das dores de Neuza Morais enquanto as autoridades se faziam moucas ante o seu sonho de ver a estátua fundida em bronze e instalada na cidade. Sempre opinei por dois pontos fundamentais – a Praça Cívica, por ser sede do poder do qual Pedro Ludovico é um dos fortes símbolos em Goiás, e a Serrinha, de onde o homenageado continuaria a olhar a (e pela) cidade.
Como disse, a Pedra Fundamental é uma metáfora, e tão fundamental quando Pedro Ludovico na nossa História. Afinal, o nome Goiânia, sugerido pelo professor Alfredo de Castro, fora concebido por Manuel de Carvalho Ramos (pai de Hugo de Carvalho Ramos, o primeiro dentre os regionalistas brasileiros). Goiânia, pois, nasceu sob o espírito da Poesia.
Agora, vejo a estátua ser instalada, tal como tanto sonhou Neuza Morais, que morreu triste por não ser atendida. Ao tempo daquelas lutas (alguém, recentemente, lembrou, com justiça, o empenho de Helinho de Brito no sentido de ver realizado esse sonho de Neuza; debalde...). Imaginei, porém, e sempre, que Pedro a Cavalo estaria em lugar de honra, no mesmo alinhamento do Monumento as Três Raças – outra importante obra de Neuza Morais –, no centro da Praça Cívica. Mas (e aí, o que fazer?) as autoridades preferiram colocá-lo no quintal da Secretaria do Planejamento, junto à Rua 82, que algum desavisado vereador apelidou de Robert Kennedy.
Resumo, para finalizar: nas andanças para que Neuza visse sua estátua de Pedro pronta e instalada, ouvi de autoridades locais a seguinte frase: “Esse tema é chato... Pedro já foi homenageado muito mais do que devia”.
Não comento, leitor. Conclua você!
5 comentários:
Gosto de História, valorizo quem veio antes e fez o que encontrei. Aos que merecem, todas as homenagens. Se há excessos nesse caso, não sei. Eu faria tudo para tirar a estátua do quintal e levá-la a praça. Gostei demais de conhecer essa parte da origem de Goiânia pela sua pena, Luiz. Tão leve quanto deve ter sido pesada a jornada dos corajosos desbravadores.
Luiz este é o Pedro. Inteligente, além de seu tempo e simples. Um idealista batalhador, que, enquanto era vivo esquivou-se das homenagens. Este texto diz porque Pedro a Cavalo devia ter continuado enfeitando a sala da fazenda, local da foto. Um historiador saberia escolher, como Bernardo Elis. Mas, já passou.
Grata, de n0v0.
Goiania - A revolução de 30 deu um idealista da mesma têmpera de Couto Magalhães a Goiás. A 22 de Novembro desse ano assumiu o Governo do Estado, como interventor Federal, o médico Pedro Ludovico Teixeira. Quem era esse Homem? Nasceu na virada do século, em 1.891, na cidade de Goiás. No Rio de Janeiro onde se formou em Medicina, tornou-se amigo de Lima Barreto e de Olavo Bilac e defendeu tese sobre a histeria, numa época em que todas as teorias de Freud eram completa novidade. De volta a Goiás, instalou sua clínica em Rio Verde, mas achava a vida monótona e caiu em melancolia. As viagens ao Rio combatiam o tédio, que ele venceu ao descobrir dois amores da vida inteira: A política e Dona Gercina Borges, com quem se casou.Governou o estado em cinco períodos, como Interventor ou Governador (eleito duas vezes). O construtor de Goiânia lutou pela construção de Brasília, defendeu as reformas sociais eo voto dos analfabetos. Foi senador eleito em três mandatos,o último interrompido com a cassação de seus direitos políticos, em 1.968. Continuou ativo, lutando pela redemocratização do País. Faleceu em 1.979.
Muito legal esses blog que contam a HISTÓRIA Interessante o seu blog Vim aqui lhe convidar para visitar o meu blog e se possivel seguirmos juntos por eles Estarei lá lhe esperando
http://josemariacostaescreveu.blogspot.com
É importantíssima a presença da estátua de Pedro Ludovico na Praça Cívica. Equivale a um lembrete na memória de todos, principalmente das novas gerações, sobre os fatos históricos que marcaram o nascimento de Goiânia.
Neste mundo globalizado de hoje, que tenta nos enfiar goela abaixo a cultura alienígena enlatada, em que os jovens não leem, não visitam museus, vale a presença do velho Pedro da praça.
Maravilha seu texto Luiz.
Sou desenvolvedor de mídias para internet e há quase três anos construo um site em homenagem ao Setor Coimbra. Tomei a liberdade de copiar parte do seu texto e incluir na seção "Fotos antigas" juntamente com a foto do Pedro a cavalo e seus devidos créditos. Gostaria de poder ter acesso a mais fotos antigas de Goiânia, se possível, por favor entre em contato. Segue abaixo o link do site do Setor Coimbra:
http://www.setorcoimbra.com.br/?a=WVhKMGFXZHZQVEl6TXlacFpGOWpZWFJsWjI5eWFXRTlPQ1p1YjIxbFgyTmhkR1ZuYjNKcFlUMUdiM1J2Y3lCQmJuUnBaMkZ6Sm01dmJXVmZkbUZ5UFdadmRHOXpYMkZ1ZEdsbllYTT0=
Um abraço e mais uma vez parabéns!
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