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quinta-feira, outubro 07, 2010

Uma crônica de pássaros e poesia

Recebi esse texto do poeta Sinésio Dioliveira (no registro civil, Sinésio Dias de Oliveira - nome prosaico demais para um poeta). Encantei-me pelo texto literário, pelo conteúdo e pelo panfleto em defesa da vida e da qualidade sonora que tenta, nos dias de hoje, cobrir ruidos ruins como sons de automóveis (motores e parafernália eletrônica), serralherias, batidas, sirenes de polícias e ambulâncias etc.). Ato contínuo, respondi ao meu amigo: 
Meu caríssimo Sinésio!

Já o via um tanto sanfrancisco, com seus fotoemas inspirados na realidade natural, na beleza rústica em que o bicho sapiens não interferiu. Agora, e coincidentemente logo após o Dia de São Francisco, eis que você publica esta belíssima crônica, rica de imagens e de texto, como tem sido do seu feitio. 
Bonita alusão ao verso de Gabriel Nascente ("Toda vez que morre um pássaro,/ um pedaço do céu fica cego”), pois a citação enriquece não o seu texto, mas a almas dos poetas - um, por ter criado; o outro, por divulgar - um sentimento lídimo e puro. Esse ver, por si só, é muito mais que oração: é uma prece! 

Olha, publico no meu blog essa crônica, devidamente acompanhada das suas fotos de pássaros (os sites estão indicados no rodapé desta página). E aproveito para pedir-lhe um esclarecimento: mãe-da-lua, pelo que vi na foto, é o mesmo urutau, não é? (Aquele pássaro dissimulado que se disfarça de madeira)...

Luiz de Aquino


Prefeito, mate a sede dos 
passarinhos!
Sinésio Dioliveira
Os pássaros são notas musicais
 duma canção celeste.
 Eles poesiam o céu.


O chupim, também conhecido como vira-bosta e melro (ou merro), é um pássaro bem malandro. Sua malandragem consiste no fato de ele não construir ninho nem tratar dos seus filhotes. Em vez disso, o trapaceiro deposita seus ovos em ninhos de outros pássaros, como tico-tico, sabiá, joão-de-barro. Eu mesmo já fiz fotografia de um sabiá-laranjeira tratando de um filhote de chupim na Praça Cívica. 
Por quase 15 dias, os involuntários pais adotivos dão comida no bico ao filhote alheio, que, para conseguir alimento, emite um som característico, abaixando o corpo e tremulando as asinhas.

Chupim macho
O chupim costuma ser confundido com o pássaro-preto, isso devido à semelhança entre eles quanto ao tamanho e à plumagem negra. Só que o pássaro-preto, além de ser um pouco maior, não foge da obrigação de construir seu ninho e de cuidar dos filhotes.




A Praça Cívica é morada de inúmeras espécies de pássaros. No local podemos encontrar gaturanos, bicos-de-brasa, chupins, rolinhas, suiriris, pica-paus de espécies diferentes, pombas-do-bando, bem-te-vis, almas-de-gato, balança-rabos, sabiás, joões-de-barro entre outros. Até mãe-da-lua já foi vista por lá. Em quantidade, os chupins e as rolinhas se destacam. 


Quanto ao que comer, pelo que tenho observado, nada falta aos pássaros. O que não vejo por lá é um local onde possam beber água limpa. No século passado, quando Cora Coralina ainda era viva e autografava seus livros na Feira Hippie, tomando café adoçado com garapa, havia duas fontes na Praça Cívica. Assim não faltava água limpa aos pássaros.




Hoje, entretanto, a água que lhes é disponibilizada vem da que é jogada nos carros que são lavados por lá. Água esta não como a de outrora, mas poluída de produtos químicos utilizados na lavagem de carro. 
É isso que, certamente, tem adoecido muitos pássaros por lá, alguns até morrendo. Muitos nem chegam a morrer naturalmente, pois, ao adoecer, vão para o chão, haja vista que perdem a força para voar, e aí viram presas fáceis dos gatos que rondam o local.



Recentemente o prefeito Paulo Garcia fez alguns retoques estéticos ao longo da Avenida Goiás. Louváveis por sinal, pois acrescentaram mais beleza à respectiva via, além da proporcionada pelo ex-prefeito Pedro Wilson. Nessas alterações realizadas por Paulo Garcia, foram construídas duas fontes. 
Não sei se o prefeito Paulo Garcia tem conhecimento de que a nossa cidade  possui uma fauna ornitológica muito rica e que alguns desses pássaros estão na Praça Cívica. Tomara que esse fato chegue ao seu conhecimento para que assim ele promova também alguns retoques estéticos na Praça Cívica, que está jogada às traças, ao lixo e à ausência de flores. Inclusive a falta de borboletas e beija-flores por lá se deve ao último aspecto. E que nesses retoques, ele promova a reativação das fontes; assim, além de embelezar a praça, vão proporcionar água limpa para os passarinhos. A morte de passarinho, senhor prefeito, é canto triste na boca do poeta Gabriel Nascente:

 "Toda vez que morre um pássaro,
 um pedaço do céu fica cego.” 



Prefeito, não deixe o céu ficar cego! Cuide bem dessas sublimes avezinhas-poetas! Elas nos declamam gratuitamente seu canto, cujo conteúdo não exige de nós um dicionário para que o entendamos. Exige apenas amor e muito respeito à natureza. 
Os prefeitos que não cuidarem bem delas passarão...
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P.S. - Sinésio respondeu-me a propósito dos nomes mãe-da-lua e urutau: 
"Me esqueci de dizer que mãe-da-lua é o urutau. Inclusive no meu viveiro há urutau, registrado em praça do Setor Sul. Até foto minha com ele eu tenho (arquivo em anexo). Um abraço. 
Sinésio


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 Sinésio Dioliveira é jornalista, professor de português e fotógrafo. Email: oliveirasinesio@gmail.com.

Eis aí os endereços das "gaiolas virtuais" do Sinésio (ele pesquisa, fotografa, poetiza e proseia os pássaros...):



2 comentários:

Marília Núbile disse...

Primeiramente exteriorizo o meu prazer em conhecer este poeta que tece o seu caminho e encontra caminhos que nos levam à compreensão do universo a que pertencemos.
Em um segundo momento,parabenizo mais uma vez a Luiz de Aquino por seu Blog Pena&poesia que sempre exteriorisa suas percepçoes da realidade no encontro do subjetivo com o objetivo refletindo, reinterpretando temas sociais,políticos, e existênciais, sempre em uma nova linguagem.
É a revelaçao do homem!!

Maria José Lindgren Alves disse...

Gostei do Sinesio e das fotos, sobretudo. Não pude ler tudo, mas do que li, gostei
Maria Lindgren