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sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Ditadores e patriotas


Ahmadinejad
Mubarak
Qual o tamanho do Exército chinês?



 Ditadores e patriotas

Por Luiz de Aquino 


Osama, Obama, Mubarak, Mahmoud Ahmadinejad… Nomes internacionais em voga, ou melhor, na moda da mídia!

No decorrer da campanha eleitoral do ano passado, a direita pró-José Serra acusava o presidente Lula de ser simpático – ou mesmo amigo – do presidente déspota nada esclarecido do Iran. Mas essa mesma direita jamais reclamou das relações do governo brasileiro com a mais sangrenta das ditaduras atuais, a da China.


Latino; ou cucaracha
Suponho que, como era nos anos de 1950, essa gente que se posiciona contrária aos programas sociais que beneficiam os pobres apenas repete os sons e as imagens que vêm  do Norte; para eles, tio-sam é a Marta Rocha dos vovôs de agora, a belíssima Cléo Pires nesta geração: um ícone irrefutável! Os “irmãos do norte” ficaram tão ricos que mesmo as profissões mais humildes – na visão dos preconceituosos escravagistas nacionais – tornaram-se, para eles, funções de realce; as profissões que os nativos dos EUA se recusavam a exercer ficaram para os imigrantes chineses, italianos e... latinos – epíteto para generalizar todo cidadão americano que não tenha o inglês como língua máter.


Chaves, Evo e Lula 
Tudo isso eu digo para situar a análise dos burgueses nacionais contra um governo popular. Para mim, Lula foi tão bom ou tão ruim quanto seus antecessores (destes, não listo os militares; para mim, os generais golpistas exerceram missões de comando, não foram propriamente estadistas; militares com “visões” políticas sempre deram golpes, foi assim que chegamos à República). O erro internacional de Lula foi criar laços de amizade com Chaves, Evo e Mahmoud Ahmadinejad. Com os chineses, não; estes são famosos por infringir medidas que visam a assegurar o que se tem como “direitos humanos”. Ditadores da China são bem aceitos pelos Isteites... Chaves e Evo, não: latinos, têm caras de mestiços, são de raça inferior. Ahmadinejad é terrorista, fala-se que constrói bomba atômica. Mas a China protege a Coréia do Norte, que tornou público seu propósito de construir armas nucleares e ataca a Coréia do Sul, além de desacatar a (ainda) maior potência econômica e bélica da atualidade.

Arbítrio e desemprego, estopim da crise egípcia.
E aí, vemos a ação decidida dos jovens egípcios. Cansados de conhecer apenas um governante em toda a sua vida, dois terços da população do Egito ocupou as ruas. O ditador estava no cargo há apenas 31 anos. Sim: trinta e um! O general sem farda cuidou de construir sua morada no meio dos quartéis generais das três forças armadas e da polícia, certamente supondo que ali morreria aos cento e tantos anos, ainda no poder. Sua polícia pareceu, durante os conflitos urbanos, uma quadrilha de salteadores, inimigos dos que não usam fardas. No terceiro ou quarto dia, dispersou agentes à paisana para bater de frente com os contrários, como se os policiais disfarçados fossem seguidores ideológicos do regime.

A rejeição é unânime, mas Mubarak diz que não sai.

Surpreendente, mesmo, foi ouvir Barak Obama referir-se a Mubarak como “um patriota”. Só se for um patriota norte-americano governando um país “amigo”. Como se vê, amizade entre governos não é o mesmo que amizade entre pessoas. “Nação amiga”, no linguajar dos mais poderosos é “nação que nos serve”. Sabemos, hoje, que as ditaduras militares em toda a América Latina, nas décadas de 1960 e 1970, foram idealizadas e patrocinadas pelo capital da “maior democracia” (só para eles; para nós outros, ditadura!).

Obama diz que Mubarak é patriota...

Bem: os EUA liberaram a América; e governos antipáticos, como o da Venezuela e o da Bolívia, são, para eles, ditaduras. Até que ponto isso interessa a nós, brasileiros? Chaves montou, sim, um curioso sistema “democrático” pelo qual ele se reelege indefinidamente, com a cobertura das armas e do seu parlamento, tal como Mubarak fazia há mais de trinta anos – mas Mubarak é patriota, Chaves não.

Castelo Branco aponta; Costa e Silva tenta enxergar...
Os generais brasileiros também criaram um modo de disfarçar a ditadura ante o “concerto das nações”, mantendo o Congresso aberto e funcionando, a Justiça agindo e as eleições acontecendo; os governos eram “eleitos” indiretamente – tudo isso sob seu rígido controle. Não fosse a vigília dos artistas e dos intelectuais, teriam burlado a história; a receita, no papel, dizia haver eleições populares para os parlamentos em três níveis; parlamentares elegeriam os Executivos... Só não contavam que os suspeitos de lhe serem contrários eram impedidos de se candidatar.


China: o milagre sangrento ameaça o mundo
Em suma, vejo que o mundo do Alcorão está despertando para a realidade dos nossos dias. A mão de ferro do ditador do Iran parece enferrujar; a pretensão chechena de surgir como nação islâmica pode ser um equívoco pela ideologia religiosa (é certo que viver sob o jugo de um regime igualmente sanguinário, como o russo, não é lá coisa que agrade). O dinheiro no mundo democratiza-se  rapidamente e nações até há bem pouco tempo esquecidas surgem como os novos poderes do século – e voltamos à velha e, até aqui, silenciosa China…

No nosso íntimo, continua a dúvida... Mubarak é mesmo um patriota egípcio? Considero que nenhum ditador, em língua nenhuma, é patriota.


* * *


Luiz de Aquino – poetaluizdeaquino@gmail.com -  é escritor. 

6 comentários:

Maria disse...

Para mim não existe dúvida, Luiz, ditador é ditador e ponto, mesmo que camuflado de patriota.
Essa camuflagem de patriotas não existe só na África e Oriente Médio.A Europa e a América se vangloriam de terem regimes democráticos, mas não acredito em democracia no capitalismo. É tudo uma ilusão!
Nesse regime capitalista quem manda são os detentores do capital, os outros são fantoches que servem para satisfazer a necessidade constante de lucro de poucos.
Muito constantemente: escravizam, matam, roubam... fazem qualquer tipo de atrocidade, para garantir seus lucros, sempre crescente!
Podem achar minha visão idealista, radical, ou sei lá mais o que, não me importo.
Dentro do capitalismo todos os governos são ditadores (a ditadura do consumismo) e o povo está relegado ao sofrimento, mesmo que tenha diferentes roupagens e níveis, a essência é a mesma!
O patriotismo poderia ser demonstrado de fato se:
- os políticos ganhassem o mesmo que um gari e ainda assim quisessem ajudar o país a crescer!
- existisse uma cultura de anti-corrupção e ainda assim existisse quem quisesse trabalhar na política, oferecendo seus dons para melhorar a vida de todos!
Isso é patriotismo!
O que vejo na política hoje é podridão, mediocridade, mesquinharia, vaidade... monte de coisa feia e nojenta!
As poucas bonitezas existem por vontade de pessoas que muitas vezes nem recebem nada para que elas aconteçam, mas divulgam, correm atrás, dão o sangue e a vida por ideal, estes são patriotas e não aparecem na mídia. Tenho exemplos disso dentro da Secretaria Municipal de Educação, na Secretaria Municipal de Cultura, não é verdade, Luiz! Você que o diga, amigo!

Maria disse...

Para mim não existe dúvida, Luiz, ditador é ditador e ponto, mesmo que camuflado de patriota.
Essa camuflagem de patriotas não existe só na África e Oriente Médio.A Europa e a América se vangloriam de terem regimes democráticos, mas não acredito em democracia no capitalismo. É tudo uma ilusão!
Nesse regime capitalista quem manda são os detentores do capital, os outros são fantoches que servem para satisfazer a necessidade constante de lucro de poucos.
Muito constantemente: escravizam, matam, roubam... fazem qualquer tipo de atrocidade, para garantir seus lucros, sempre crescente!
Podem achar minha visão idealista, radical, ou sei lá mais o que, não me importo.
Dentro do capitalismo todos os governos são ditadores (a ditadura do consumismo) e o povo está relegado ao sofrimento, mesmo que tenha diferentes roupagens e níveis, a essência é a mesma!
O patriotismo poderia ser demonstrado de fato se:
- os políticos ganhassem o mesmo que um gari e ainda assim quisessem ajudar o país a crescer!
- existisse uma cultura de anti-corrupção e ainda assim existisse quem quisesse trabalhar na política, oferecendo seus dons para melhorar a vida de todos!
Isso é patriotismo!
O que vejo na política hoje é podridão, mediocridade, mesquinharia, vaidade... monte de coisa feia e nojenta!
As poucas bonitezas existem por vontade de pessoas que muitas vezes nem recebem nada para que elas aconteçam, mas divulgam, correm atrás, dão o sangue e a vida por ideal, estes são patriotas e não aparecem na mídia. Tenho exemplos disso dentro da Secretaria Municipal de Educação, na Secretaria Municipal de Cultura, não é verdade, Luiz?
Você que o diga, amigo!

Maria disse...

Acrescento mais uma visão pessoal:
não precisamos de estadistas, nem de patriotas,...
Precisamos de um povo educado, organizado, consciente, responsável, íntegro, coerente que saiba trabalhar junto pela busca de melhoria de vida de todos.
Para quê os Messias, os Salvadores da Pátria?
Essa visão teológica nos imobiliza e faz com que fiquemos sentados, olhando, esperando quem vai nos tirar do sofrimento.
Ou faz com que lutemos para tirar um ditador e colocar um "verdadeiro estadista no lugar".(mas o poder corrompe!)
Precisamos conseguir quebrar essa visão messiânica arraigada na nossa mente e procurarmos novas formas de organização que sejam realmente democráticas e colaborem para a distribuição igualitária de nossas riquezas!
Não mais ditadores (excrementos humanos)!
Não mais patriotas (mártires ou messias)!
Que mude o olhar, a visão e a atitude de cada um em relação a si, ao próximo e ao que é nosso!

Klaudiane Rodovalho disse...

Impecável!
Se fosse professora de história ou sociologia a utilizaria em sala de aula.
Concordo quando conclui que ditador não é patriota, ele é um egoísta que chegou ao poder.
Governos, ou melhor, equívocos administravos de ditadores são um retrocesso para uma nação que pode ser comprometida por gerações.
Todos os setores são comprometidos, os da cultura e educação são as maiores vítimas, uma vez que representam a lucidez, a crítica, a transformação constante, tão natural e necessária.
A atitude dos jovens egípcios é a história viva , acontecendo diante dos nos olhos, on-line, maravilhoso! Agora, resta saber se essa força mágica dessa fase da vida de todos os que lutaram será usada a favor deles. Isso o tempo dirá... Que o processo de democratização no Egito seja pleno, sem repetições do que a história já nos revelou em um passado recente.

mm.olive disse...

Pois é Luiz...isso me leva a perguntar:sea democracia não tivesse "acontecido" na decada dos 80...Como será que estaríamos hein?..Consegue fazer uma "previsão passada"?

Luiz de Aquino disse...

Gente!

Precisamos discutir esse tema! Usemos o recente exemplo egípcio e, os que viveram tudo aquilo, a nossa resistência aos ditadores fardados, a nossa luta pelas diretas, a festa das eleições de 1989, os caras-pintadas de 1992 e o que se vive agora, no mundo!