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quinta-feira, maio 12, 2011

Divagações sobre Educação e confiança



Divagações sobre Educação e confiança



Foi Nelson Rodrigues quem disse: se pudéssemos ouvir os pensamentos das pessoas, nós sequer nos cumprimentávamos. Talvez as palavras não sejam exatamente estas, mas o conceito, sim. E parei para pesquisar, fui a “O anjo pornográfico”, biografia de Nelson por Ruy Castro; Ruy, para mim, é dos melhores textos do jornalismo livre (de pasteurização) e da literatura nacional contemporânea. É essencialmente um cronista, se considerarmos a fluência de seu texto. Devaneei-me tanto na pesquisa que quase comecei uma releitura do livro.

Retomei o teclado e a telinha com uma convicção: somos todos juízes de tudo e de todos. Julgamos a toda hora, o tempo todo. O leitor, ao percorrer estas linhas, julga-me todo o tempo; e eu, de uns dias para cá, tento entender o secretário Thiago Peixoto, da Educação. Vejo nele um jovem de coragem, mais atrevido, publicamente, que o pouco que sabemos de seus antecedentes. Em 1965, consolidou-se de seu avô, o médico Peixoto da Silveira, a imagem de um homem conservador e tradicionalista; dizia-se, na época, que perdeu a eleição ao governo de Goiás por recusar-se a tirar o paletó nos palanques.

O secretário Thiago Peixoto herdou pepinos e
abacaxis, além dos problemas com a merenda.


Thiago Peixoto tem respondido a parte da imprensa – ao menos aos colegas da tevê – mas ignorou meu artigo “À Educação o que lhe é devido”, publicada no Opinião Pública do DM no dia 25 de abril passado. Meu texto foi objeto de inúmeras cartas, algumas publicadas no espaço opinativo do jornal, mas somente alguns dias depois a assessoria de imprensa da SEC respondeu – não a mim, mas a uma leitora.


O conceito contemporâneo de Educação inclui a
alimentação escolar
 
No domingo, 8 de maio, o Fantástico, da TV Globo, mostrou irregularidades graves no serviço de merenda escolar em várias unidades federativas, Goiás inclusive. Os dias seguintes foram marcados pela repercussão da matéria, mas estranhamente tal desdobramento enfocou apenas Goiás. – os outros Estados foram poupados; por quê?

O mau-cheiro vai além das despensas

Um realce: o afastamento de uma diretora que confirmou o atraso nos repasses de verbas e admitiu comprar fiado – o que demonstra que a mestra é respeitada em sua comunidade, pois o comércio lhe dava crédito. Mas a estrutura inadequada, parece-me, foi esquecida, centrando-se as ações na troca de pessoas e na omissão para com a imprensa.



Bibliotecas...

A questão das bibliotecas e laboratórios de informática não está bem esclarecida. A Educação estadual (de Goiás) tenta localizar cerca de onze mil professores em desvio de função – alguns estão, sim, deslocados em salas de leituras e laboratórios de computação. Existem professores mal preparados e professores que agem na conveniência de seus propósitos pessoais (muitas das vezes, político-partidários); é desnecessário citar nomes, pois estes aparecem nos noticiários da tevê, deixando claro seus objetivos ideológicos um tanto desvinculados da Educação e alguns ocupam cargos de realce,
...e laboratórios desativados?
como secretarias municipais; e ao falarem ante as câmaras deixam nos pais uma insegurança: são professores que sequer constroem frases simples, mas estão no topo de uma pirâmide em que todos gostaríamos de confiar.




O sindicalismo no Brasil começou ao tempo de Getúlio Vargas; e vem dele próprio uma expressão depreciativa dos sindicalistas. O caudilho gaúcho apelidou os acólitos sindicalistas de pelegos – pele com pelo de ovelha, usado para amaciar o impacto da bunda do cavaleiro com a superfície dura do arreio.

Pelego de montaria, peça que inspirou Getúlio Vargas a metaforizar com os
sindicalistas oportunistas.
Volto a Nelson Rodrigues, que nos qualificou de canalhas, incluindo-se no conceito; e observo líderes sindicalistas que ”se arrumam” sobre o sacrifício de seus... “representados”. Um presidente de sindicato de professores, há poucos anos, pregava greve e argumentava com as professoras receosas de terem o ponto cortado: 
Hoje, a metáfora dispensa o arreio...

– Mulher não precisa se preocupar com corte de ponto, os maridos seguram a barra. – Seguram?


Com esse conceito – fortíssimo argumento em favor da não valorização do professorado, já que a arrasadora maioria é constituída de mulheres – altamente machista, esse homem se tornou secretário municipal de Educação; agora, ele é alvo de professores grevistas e, obviamente, seu discurso é ainda mais machista, e fundamentalmente governista e, lógico, “antiprofessorista”!

Volta-me a frase dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Vale no sucesso musical de Elis Regina, lá por 1970:

– Não confie em ninguém com mais de trinta... Com mais de trinta... Com mais de trinta!


* * *


Luiz de Aquino é jornalista e escritor. 
(Imagens: Inernet). 

3 comentários:

pires disse...

Luiz o que Nelson Rodrigues disse é a mais pura verdade. Um belo dia querendo descobrir umas verdades coloquei uma escuta no carro. Maldita hora!!Escutei o que devia e o que não devia.Moral da história: Todas as pessoas do nosso relacionamento uma hora falará mal de você. Mas, não precisamos saber né?Agora, quem procura acha.Fique com Deus!

Klaudiane Rodovalho (Professora do Lyceu) disse...

Nossa Educação de cada dia, nossas perocupações de cada dia, nossas esperanças de cada dia.
Em cada dia há um julgamento e uma esperança de que o que foi julgado seja melhorado, cuidado, percebido e, no caso da Educação, salvo, COM URGÊNCIA.
Nós mulheres infelizmente ainda temos muito o que fazer para conquistar o respeito e o espaço que os homens ocupam. Conquistamos primeiro o direito de ser MULHERES, ter a nossa essência preservada, depois o direito de votar, de escolher quando seremos mães e quantos filhos teremos, de ocupar cargos exclusivamente masculinos. Porém o machismo não escolhe nível intelectual, nem nível social, ele infelizmente é uma característica da nossa sociedade. Caberá a nós mulheres sempre estar atentas e buscar o melhor para a nossas vidas, independente de opiniões tão ultrapassadas como a desse sindicalista. Nós professoras somos amparadas é pela nossa inteligência e pelo nosso trabalho, com muito orgulho!

Heliany Wyrta disse...

O sindicalismo foi corrompido na sua essência. Deixar de trabalhar para lutar pelos que trabalham já é um contra-senso! Geralmente as direções dos sindicatos são ocupadas por pessoas que já não gostavam ou não tinham competência para o trabalho, procuram um jeito de ganhar dinheiro sem fazer nada! E ainda utilizam destes cargos para se auto-promoverem para ganhar mais e fazerem menos ainda! Tenho nada contra isso não, cada um busque o caminho que lhe convier, deste que este não prejudique milhares de trabalhadores que confiam cegamente nessa estrutura podre e corrompida!
Os trabalhadores da educação clamam por respeito e dignidade! Existe alguém que escuta ou quer escutar?!