Preocupações
sobre quase nada
Gosto de ver a Prefeitura de
Goiânia cuidando de instituir, cidade afora, calçadas ajardinadas, ornadas de
caramanchões aprazíveis (modernamente, o romântico caramanchão é chamado de
gazebo). Nesta fase pós flores –
inaugurada por Nion Albernaz e sequenciada por Darci Accorsi e Pedro Wilson e,
lamentavelmente, esquecida por Iris – é possível sonharmos com o retorno das
cores em flores de petúnias, gerânios, azaleias e outras espécies que tornam
nossa vida mais bonita. É voltarmos à década de 1970, quando dizíamos que, em
Goiânia, a Primavera tem 12 meses.
Gosto
de falar de flores e suas rimas. Gosto de música que incita a felicidade, o
raciocínio, o bem-estar íntimo. Música que dá fundo aos sentimentos, aberça o
amor e enriquece o sonho. Música que oferece às multidões um sentimento de
alegria e paz, que nos dá energia para demonstrar que gostamos de viver e, por isso, não tememos enfrentar
dissabores para que, em breve, tenhamos essa decantada paz social.
Gosto
de pássaros e bichinhos domésticos – só não os quero em meu espaço de morada;
cada um em seu mini-habitat, com direito ao espaço corporal, território
demarcado e confortável. Não gosto de pisar em cocô de cachorro nas calçadas
públicas, muito menos de colher pelos de gato em sofás visitados. Não gosto de
ver pássaros presos, pois sua gaiola verdadeira são os galhos das árvores de
frutos e o amplo céu de anil ou nuvens.
Gosto
de xópins – esse aglomerado de gente fora de casa, essas cavernas imortalizadas
em título e tema de romance de José Saramago, esse território comunitário que
sucede, em milênios, a ágora grega e, em décadas, as seculares feiras ao ar
livre que marcaram ruas do Oriente Médio, os cais mediterrâneos e toda a
Europa, além das urbes nordestinas nacionais. Não gosto de ver, num grande
centro comercial de Goiânia, no subsolo que abriga centenas de automóveis e
retém no ar a fuligem dos escapamentos, uma loja de cães onde madames
falsamente amantes dos animais legitimam o comércio que estressa filhotes de raças
e, talvez, pedigree. Cadê, a esta
altura da vida (e àquela profundidade do subsolo), a vigilância sanitária e as
sociedades de amparo aos animais?
Gosto
dos canteiros centrais da Avenida Goiás e das calçadas remodeladas dos bairros
mais novos; gosto da beleza urbana da Goiás Norte (aquela avenida carece de
nome próprio; nada tem a ver com a já histórica Avenida Goiás; ou as avenidas
84, 90, Primeira Radial e Terceira Radial hão de chamar-se Goiás Sul). Gosto
dos gazebos (continuo preferindo caramanchões) dessas novas calçadas e praças.
Não gosto dos desníveis criminosos que marcam as calçadas de bairros como Bela
Vista, Bueno e Nova Suíça, nas cercanias da Avenida T-63, onde as pessoas com
dificuldades de locomoção (os que detém deficiências nas pernas e pés, os
cadeirantes, os cegos, os velhos e outros igualmente limitados) não conseguem
deslocar-se e recorrem à dita “faixa de rolamento”(o asfalto).
Gosto
de sentir esperança. Gosto de pensar que tudo isso está nos planos da
Prefeitura e que a Câmara Municipal – talvez na próxima Legislatura – atente
para o seu papel fiscalizador e cuide de normalizar o que já é preconizado em
Lei. Gosto de acreditar que, como ouvi do prefeito Paulo Garcia, a
Municipalidade ocupa-se, também, dos resgates históricos, do respeito aos
vultos que enriquecem nosso passado e de garantir à História do futuro o
alcance aos tempos de agora.
Amém!
* * *
9 comentários:
... coisa linda. Quando um poeta escreve, até os personagens políticos são vistos como Quixotes fora do tempo. E daí parece-me que viver nesta cidade é coisa de gente privilegiada. Bravo, poeta!
Bravos meu amigo poeta.
Você falou de tudo que todos que amam Goiânia gostam.Esta cidade é assim porque teve gente que merece ser imortalizada. Gente como Pedro e Venerando.
Amaury
Amigo Poeta.
Sei do seu amor pela sua terra natal, entretanto, ao usar sua "pena", esse sentimento fica muito mais explícito, tornando o texto perfeito. Meu abraço pirinopolitano amigo.
Paulo
Amigo Poeta.
Sei do seu amor pela sua terra natal, entretanto, ao usar sua "pena", esse sentimento fica muito mais explícito, tornando o texto perfeito. Meu abraço pirinopolitano amigo.
Paulo
Parabéns pela singular postagem, caro escritor. Ver a cidade assim bonita e cheia de vida é um privilégio. Você bem soube abordar com poesia esse passeio virtual por Goiânia.
Particularmente, não gosto de shopping center e nem de aglomerações, mas eu sou um "bicho" rural que não se acostuma com a cidade grande. Você é diferente, urbano, e por isso sabe compor poesia onde outros só veem concreto.
Prosa poética inspiradora, gostosa e, por que não dizer, energizadora? Vejo que os bons tempos voltaram e com eles a sua alegria de viver. Bom ver que a primavera de 12 meses o faz novamente feliz, Luiz.
acho que esta cronica serve para quase todos municipios do Brasil, principalmente nestes tempos de eleição abs.
O TEXTO SERVE PARA QUASE TODOS OS MUNICIPIOS DESTE BRASIL, PRINCIPALMENTE NESTES TEMPOS DE ELEIÇÃO, ABS
que beleza, Luiz! sempre que leio tuas crônicas me sinto íntima de Goiânia, passeante dessas calçadas, vivente dessas histórias. Abraços! Mirian
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