Em
quem votar? Ou não…
Conheço inúmeras pessoas que usam, como
critério para o voto, o da exclusão. Em linhas gerais, são pessoas que
determinam, em primeiro lugar, não votar nesse ou naquele partido, e algumas
têm rejeição a mais de um. Depois vem o critério pessoal, que implica não votar
em Fulano ou Cicrano, esteja o(a) candidato(a) em que partido estiver. Depois
vêm outros critérios de eliminação de preferência, e aí o leque tem muitas
pétalas, das mais variadas cores.
Há muito decidi que não voto em candidato
porco, desses que não têm escrúpulos em fixar cartazes em qualquer lugar
(felizmente, a lei acabou com isso). Lá pela década de 1980, quando o Brasil
começou a respirar democracia, os abusos se espalharam sem qualquer limite. O
coreto da Praça Cívica, as paredes do Museu Zoroastro Artiaga e outros
incontáveis espaços públicos eram revestidos de cartazes eleitorais. Nem mesmo
o pedestal da estátua do Anhanguera, ali onde existia a Praça Atílio Correia
Lima – mais conhecida como Praça do Bandeirante – escapava da sanha
publicitária dos vândalos travestidos de políticos.
Aliás, aqueles vândalos e seus cabos
eleitorais transformaram-se nas quadrilhas que, em série, assaltam o Erário,
hoje, e aboletam-se no índex do rumoroso processo que conhecemos por
“mensalão”. Digo isso como amostra, porque esses caras pululam por aí... Até
mesmo o ex-vereador que desviou milhões que a Câmara de Goiânia devia recolher
ao INSS está candidato outra vez!
Outro tipo de mau cidadão em quem jamais
voto é o que abusa do som em automóveis. Candidato que polui, seja com
“santinhos”, seja com alto-falantes, não merece ser votado. Ah, não voto também
em candidato cujos amigos ou cabos eleitorais adesivam o carro e andam pela rua
pensando que têm mais autoridade do que o candidato quando eleito: avançam
sinal, dão fechadas, sobem em calçadas... Esta semana, no hipermercado da Praça
Tamandaré, um carro muito plotado de um jovem candidato a prefeito de cidade
próxima a Goiânia ocupada uma vaga reservada a idosos sem exibir o competente
cartão.
Tem mais: candidato que não sabe falar –
se não se articula com o mínimo de correção, vai fazer feio nos discursos e,
sem qualquer dúvida, em suas ações. Candidato que chama a Dilma Rousseff de
“presidenta” não merece voto, também – é que a língua portuguesa, para mim, é
muito mais importante que esse feminismo modal e a intransigência dos áulicos.
Engraçado: nem mesmo a presidente Dilma, que, dizem, pôs em decreto sua
exigência pelo tratamento espúrio, se atreve a exigir que as Forças Armadas, as
Polícias Militares e o equivalentes Corpos de Bombeiros adotem, para as
mulheres, designações como “soldada” e “sargenta”. Mas a comandante-chefe das
Forças Armadas quer ser chamada de “presidenta”... Será, então, “comandanta”?
Outro tipo de candidato em quem não
votar: esses que adotam apelidos esquisitos, como Fulano Automóveis, Cicrano da
Ambulância e outros – isso acomete mais os pretensos vereadores, justo por
serem em maior número: um que se diz chamar Ninguém; outro é Joel Cueca; tem o
José Rôla (com acento); e ainda Pé-de-Cana, Paulinho Babydol (assim mesmo),
Pedro Precheca (!), Paul das Girls (precisam ver a foto do tipo!), Chica
Chiclete, Cagado (!!), Xota Oi Meu Bem (eu, hem?!), Burrinho da Oficina (deve
ser mesmo!), Bimbim, Zezinho Merda (!!!)...
O triste é que esses aí são membros dos
mais variados partidos, nenhum deles escapa, quero dizer, nenhum deles exige
que seus membros tenham, no mínimo, alguma compostura na escolha de seus nomes
políticos. Se não a têm quando candidatos, digam-me, como haverão de se
enquadrar nos regimentos das casas legislativas, que gostam tanto de evocar o
tal código de posturas?
Deve ser por isso – por abusarem das
limpeza das cidades, por abusarem da poluição sonora, por desrespeitarem as
leis mais corriqueiras, por violentarem a língua pátria, por adotarem apelidos
pejorativos como referências orgulhosas em suas campanhas – que esses caras não
vacilam em meter a mão no que nos é cobrado como impostos. E ainda se julgam no
direito de invadirem nossos espaços pessoais, como páginas em redes sociais, o
telefone fixo e o celular e o nosso precioso tempo com pedidos de votos que vêm
sozinhos, ou acompanhados de propostas esdrúxulas.
Bem: nunca votei por obrigação, até
porque acredito que, se podemos votar em branco ou nulo, é-nos dado o direito
de discordar de tudo; ficar em casa é omitir-se, e o importante é ir às urnas e
votar, ou abster-se oficialmente (voto em branco), ou ainda depositar o
protesto mais drástico, que é o voto nulo. Este ano, exerço pela penúltima vez
a obrigação de comparecer às urnas, mas continuarei votando enquanto der conta
de pensar e me locomover.
Como viram, enquadro-me nos que votam sob
o critério da exclusão. Tem dado certo, assim. Alguns candidatos, eleitos,
traíram-me a confiança. Estes deixaram de merecer meu voto, é claro!
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4 comentários:
Votarei pela primeira vez este ano e por não ser a jovem mais engajada na política, além deste ter sido mais um ótimo texto, me foi muito útil também.
Um abraço, querido.
Olá, Luiz, adorei o texto "Em quem votar". Minha tristeza é tão grande em relação a políticos. Fomos usados, e continuam querendo nos usar. Mas, estou vacinada contra esses oportunistas que só querem tirar proveito da inocência das pessoas. Meu voto e de toda a minha família será nulo, tanto para vereador como para prefeito. Não aguento mais a cara de pau dessa gente. Estão ficando cada dia piores.
Um abraço, Luiz, que Deus siga iluminando cada vez mais sua mente, para que possa continuar escrevendo suas belas crônicas, e nós desfrutando!!
Até o discurso político, que costuma ser um tema chato, encontrou a sua graça através da sua visão experiente. Não sou muito dócil, mas no caso tenho de concordar com todas as suas ótimas colocações.
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