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sexta-feira, setembro 07, 2012

Em quem votar? Ou não…


Em quem votar? Ou não…
           

Conheço inúmeras pessoas que usam, como critério para o voto, o da exclusão. Em linhas gerais, são pessoas que determinam, em primeiro lugar, não votar nesse ou naquele partido, e algumas têm rejeição a mais de um. Depois vem o critério pessoal, que implica não votar em Fulano ou Cicrano, esteja o(a) candidato(a) em que partido estiver. Depois vêm outros critérios de eliminação de preferência, e aí o leque tem muitas pétalas, das mais variadas cores.

Há muito decidi que não voto em candidato porco, desses que não têm escrúpulos em fixar cartazes em qualquer lugar (felizmente, a lei acabou com isso). Lá pela década de 1980, quando o Brasil começou a respirar democracia, os abusos se espalharam sem qualquer limite. O coreto da Praça Cívica, as paredes do Museu Zoroastro Artiaga e outros incontáveis espaços públicos eram revestidos de cartazes eleitorais. Nem mesmo o pedestal da estátua do Anhanguera, ali onde existia a Praça Atílio Correia Lima – mais conhecida como Praça do Bandeirante – escapava da sanha publicitária dos vândalos travestidos de políticos.

Aliás, aqueles vândalos e seus cabos eleitorais transformaram-se nas quadrilhas que, em série, assaltam o Erário, hoje, e aboletam-se no índex do rumoroso processo que conhecemos por “mensalão”. Digo isso como amostra, porque esses caras pululam por aí... Até mesmo o ex-vereador que desviou milhões que a Câmara de Goiânia devia recolher ao INSS está candidato outra vez!

Outro tipo de mau cidadão em quem jamais voto é o que abusa do som em automóveis. Candidato que polui, seja com “santinhos”, seja com alto-falantes, não merece ser votado. Ah, não voto também em candidato cujos amigos ou cabos eleitorais adesivam o carro e andam pela rua pensando que têm mais autoridade do que o candidato quando eleito: avançam sinal, dão fechadas, sobem em calçadas... Esta semana, no hipermercado da Praça Tamandaré, um carro muito plotado de um jovem candidato a prefeito de cidade próxima a Goiânia ocupada uma vaga reservada a idosos sem exibir o competente cartão.

Tem mais: candidato que não sabe falar – se não se articula com o mínimo de correção, vai fazer feio nos discursos e, sem qualquer dúvida, em suas ações. Candidato que chama a Dilma Rousseff de “presidenta” não merece voto, também – é que a língua portuguesa, para mim, é muito mais importante que esse feminismo modal e a intransigência dos áulicos. Engraçado: nem mesmo a presidente Dilma, que, dizem, pôs em decreto sua exigência pelo tratamento espúrio, se atreve a exigir que as Forças Armadas, as Polícias Militares e o equivalentes Corpos de Bombeiros adotem, para as mulheres, designações como “soldada” e “sargenta”. Mas a comandante-chefe das Forças Armadas quer ser chamada de “presidenta”... Será, então, “comandanta”?

Outro tipo de candidato em quem não votar: esses que adotam apelidos esquisitos, como Fulano Automóveis, Cicrano da Ambulância e outros – isso acomete mais os pretensos vereadores, justo por serem em maior número: um que se diz chamar Ninguém; outro é Joel Cueca; tem o José Rôla (com acento); e ainda Pé-de-Cana, Paulinho Babydol (assim mesmo), Pedro Precheca (!), Paul das Girls (precisam ver a foto do tipo!), Chica Chiclete, Cagado (!!), Xota Oi Meu Bem (eu, hem?!), Burrinho da Oficina (deve ser mesmo!), Bimbim, Zezinho Merda (!!!)...

O triste é que esses aí são membros dos mais variados partidos, nenhum deles escapa, quero dizer, nenhum deles exige que seus membros tenham, no mínimo, alguma compostura na escolha de seus nomes políticos. Se não a têm quando candidatos, digam-me, como haverão de se enquadrar nos regimentos das casas legislativas, que gostam tanto de evocar o tal código de posturas?

Deve ser por isso – por abusarem das limpeza das cidades, por abusarem da poluição sonora, por desrespeitarem as leis mais corriqueiras, por violentarem a língua pátria, por adotarem apelidos pejorativos como referências orgulhosas em suas campanhas – que esses caras não vacilam em meter a mão no que nos é cobrado como impostos. E ainda se julgam no direito de invadirem nossos espaços pessoais, como páginas em redes sociais, o telefone fixo e o celular e o nosso precioso tempo com pedidos de votos que vêm sozinhos, ou acompanhados de propostas esdrúxulas.

Bem: nunca votei por obrigação, até porque acredito que, se podemos votar em branco ou nulo, é-nos dado o direito de discordar de tudo; ficar em casa é omitir-se, e o importante é ir às urnas e votar, ou abster-se oficialmente (voto em branco), ou ainda depositar o protesto mais drástico, que é o voto nulo. Este ano, exerço pela penúltima vez a obrigação de comparecer às urnas, mas continuarei votando enquanto der conta de pensar e me locomover.

Como viram, enquadro-me nos que votam sob o critério da exclusão. Tem dado certo, assim. Alguns candidatos, eleitos, traíram-me a confiança. Estes deixaram de merecer meu voto, é claro!

* * *



4 comentários:

Nathaly disse...

Votarei pela primeira vez este ano e por não ser a jovem mais engajada na política, além deste ter sido mais um ótimo texto, me foi muito útil também.
Um abraço, querido.

Nathaly disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lindalva Costa, profa. disse...

Olá, Luiz, adorei o texto "Em quem votar". Minha tristeza é tão grande em relação a políticos. Fomos usados, e continuam querendo nos usar. Mas, estou vacinada contra esses oportunistas que só querem tirar proveito da inocência das pessoas. Meu voto e de toda a minha família será nulo, tanto para vereador como para prefeito. Não aguento mais a cara de pau dessa gente. Estão ficando cada dia piores.

Um abraço, Luiz, que Deus siga iluminando cada vez mais sua mente, para que possa continuar escrevendo suas belas crônicas, e nós desfrutando!!

Mara Narciso disse...

Até o discurso político, que costuma ser um tema chato, encontrou a sua graça através da sua visão experiente. Não sou muito dócil, mas no caso tenho de concordar com todas as suas ótimas colocações.