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sexta-feira, dezembro 07, 2012

Enfim, o Século XX acabou.



Em Goiânia, obra do imortal Oscar Niemeyer . pólo de grandes eventos culturais e artísticos da cidade.


Enfim, o Século XX acabou.


Quarta-feira, 5 de dezembro de 2012, dez dias antes de fechar um todo de 105 anos.

Séculos são assim mesmo, incompletos ou sobejos. Os anos também: quando nos pedem a idade, recitamos o ano completado e omitimos o tempo excedente. Neste caso particular, e para o nosso conceito – de nós, que vimos nascer Brasília com sua arquitetura arrojada, e aquilo nos remeteu a Pampulha e outras referências –, o conceito hodierno, o Século XX tem muitos nomes. Nenhum deles, porém, com a força de Oscar. E tivemos muitos nomes para o século que se finda... Poderia se chamar Braguinha, que também adentrou os três dígitos de idade, e a ele unir um sem-número de artistas vários, das letras e dos sons, dos pincéis e dos cinzéis, das cenas e dos recursos midiáticos.

De minha parte, faço eco aos que têm em Oscar Niemeyer o ícone de um Brasil primitivo naquele dezembro de 1907 (nove meses da passagem de Machado de Assis – a chave que fechou o Século XIX para nós) para a realidade atual, drasticamente reformulada no transcurso destas quase onze décadas. Há uns poucos anos, muito poucos, articulistas da extrema direita (ainda existe, sim; saudosista e burra, como todos os extremos ideológicos) escreveram tentando execrá-lo. Perderam tempo; nem se tornaram notáveis.

Oscar foi um eixo de grandes transformações. Nasceu num Rio de Janeiro que era o rosto de uma nação – a parte quase única visível, num tempo em que homens e mulheres não mostravam quase nada além do próprio rosto. Era um tempo em que São Paulo, a cidade, despontava-se como mãos – mãos operárias e atrevidas, mexendo-se sem pedir licença, invadindo e bolinando o delicioso corpo da Pátria, para despontar-se de vez. Mas o Rio era, e assim o seria até hoje e promete ser para sempre, o referencial de nossas artes. Um referencial que se expandiu também neste século que se encerrará ao término das exéquias de Oscar. Capital de uma nova república, insegura e indecisa; vitrina dos artistas brasileiros de todas as lonjuras; a cidade mais natural do mundo, muito apropriadamente alcunhada, pelo talento do poeta Coelho Neto, como Cidade Maravilhosa. Oscar teve, sempre, motivação bastante e a mente aberta para a linha divisória mar-e-céu, escorado confortavelmente nas encostas do Maciço da Tijuca. Encheu seus olhos de paisagens, transformou-as ao finíssimo bico do lápis, povoou papéis e locais (como fazer paisagens surpreendentes na monotonia do cerrado no Planalto Central).
A marca do Mestre no nosso horizonte: o Centro Cultural Oscar  Niemeyer (trevo da Av. Jamel Cecílio com a BR-153).
E agora, fecha os olhos de vez; apaga-se o cigarro, o charuto; despede-se da mulher companheira, a segunda; enriquece ainda mais um sobrenome ilustre. E deixa ao Brasil a herança de seu talento e suas realizações, com suas obras espalhadas mundo afora como se o brasão da Pátria acompanhasse sua assinatura.

Sim... como não? Oscar, desde já, torna-se o mais importante de todos os brasileiros nascidos até hoje; Niemeyer, agora, é sobrenome de todos nós.


* * *

2 comentários:

Marluzis disse...

Oscar Niemeyer, sem dúvida um dos maiores brasileiros de todos os tempos! Sua energia chegou a fim, mas o seu legado permanecerá conosco ainda por muitos anos. Gerações conheceram Niemeyer e suas obras! As próximas conhecerão somente as obras. Que haja um lugar com muita luz para o mestre arquiteto!
E você, Luiz, como sempre nos brinda com mais esta crônica tão verdadeira, tão rica em instantes maravilhosos. Obrigada por sua sempre genial contribuição, nos iluminando com seu conhecimento, sua memória histórica e o arquivo de suas lembranças.
Abs.
Marluci Costa

Mara Narciso disse...

Belíssima e justa homenagem a Oscar Niemeyer. Não é fácil falar novos novos dados, a história de um homem tão reverenciado. Parabéns aos dois.