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quinta-feira, março 07, 2013

A verve mulher

Mais um belo texto feminino nesta semana em que as sociedades machistas, em seu cinismo coletivo, definem um dia para que, ao menos nesse dia, as mulheres sejam reverenciadas. 
Agora, a autora é outra da minha especial estima: Clara Dawn. 
Confiram!  
(L.deA.) 



A verve mulher

por Clara Dawn


Que sorte a minha! Nascer mulher, brasileira e, melhor que isto: nascer em Goiás... Mas é verdade que eu tenho ido muito á Inglaterra, aprontar seriais travessuras com Agatha Christie. A Portugal, a fim de me emocionar com a poesia feminina e gritante de Florbela Espanca. Mas quando  dou por mim, estou eu, cá no Brasil, a passear com Nélida Piñon numa praia do Rio de Janeiro e embarco com ela em seu romance “Madeira Feita Cruz” que não é outra coisa senão a irradiação do espírito feminino, rompendo os limites do mundo. Num repente entrarmos na “Ciranda de Pedra” de Lígia Fagundes Teles em São Paulo... e constatar que Lígia transcendeu a frieza daquela cidade - tanto faz, a luz de São Paulo é a verve de Lídia.

Avanço alguns passos e defronto-me com a obra superlativa de Raquel de Queiroz, traduzida em vários idiomas, que leva ao mundo o estilo denso de uma mulher à frente, muito à frente de seu tempo...

Quero ir além, mas o meu amor dissoluto me chama -  meu Goiás - e me prende  aos “Elos da Mesma Corrente” de Rosarita Freury. É aqui que eu sou forte e inoxidável. É neste chão goiano que flutuo na bolha de sabão de Yêda Shumaltz, conto causos  cômicos com Lêda Selma; embarco nas aventuras infantis de Augusta Faro; mergulho nas palavras líricas e saudosas  de Heloísa Helena e me cativo com gosto à prosa poética de Malú Ribeiro. Resta-me ainda energia para comprar bilhetes, só de ida, ao universo incomparável de Darcy Denófrio, e nos poemas de Ana Braga e Alcione Guimarães serei eternamente voluntária a mercê de suas quimeras.

Neste cerrado meu, neste Goiás tão meu, tão eu, existo a confabular reflexiva. Numa reflexão que, perdoe-me a ressalva, leva-me a precisar que a França nos deu Simone de Beaouvoir, a Inglaterra deu ao mundo Agatha Christie e Virgínia Woolf, a Ucrânia deu-nos Clarisse Lispector para ser brasileira. Do Ceará brotou Raquel de Queiroz, São Paulo deu-nos “A Muralha” de Dinah Silveira e “As meninas” de Lígia Fagundes Teles. Mas Goiás rendeu  escritoras, cujo talento poético e narrativo transcende o que eu posso descrever em 3.500 caracteres. Mulheres, como eu, que amam o seu Estado e o leva consigo em seus escritos. Por isso, incondicionalmente encerro esta crônica com a singela descrição de uma verve-mulher-goiana: “A gleba está dentro de mim. Eu sou a terra/(...) A gleba me transfigura, sou semente, sou pedra./Em mim a planta renasce e floresce, sementeia e sobrevive./Sou a espiga e o grão fecundo que retornam à terra./Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios./Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada e fecundada/No ventre escuro da terra”(CORALINA, 1985, p. 107-109).  

* * *

Clara Dawn e Luiz de Aquino

9 comentários:

Mara Narciso disse...

Talentosa, bonita e mulher.

Anônimo disse...

Perfeita...

Anônimo disse...

Perfeita...

Anônimo disse...

Bravo! Bravo, Clarinha. Uma homenagem singela como a luz que emana de sua natureza. Mulheres valorosas de Goiás e é claro, Clara entre elas. Por isso e por muito mais, louvo-te. Nick Massaud

Unknown disse...

A verve das mulheres tem mesmo que ser sempre exaltada, pois são elas que criam o mundo mentalmente e ele se torna tal qual a força do seu pensamento. São essas grandes escritoras, formadoras de opinião, que ditaram e ditam os rumos deste nosso Brasil.

Parabéns, escritora Clara, pelo belíssimo texto. Parabéns, poeta Luiz, pelo espaço disponibilizado à nossa goiana talentosa.

Mirian Silva Cavalcanti disse...

Que beleza de Clara, Luiz! a gente vai lendo como se levada pela mão, Leve, comovente. Pra nos deparar, ao final, com Cora. Abençoada mulheres.

Fátima Souza, a Pérola Neggra disse...

Caro amigo, poeta Luiz de Aaquino, bendito és entre as mulheres! E que mulheres! Parabéns a ti e a elas, maravilhosas divas!

Leda Selma disse...

Li o texto da Clarinha, gostei e sou-lhe grata por citar-me.

Que bom, Luiz, você acolher em seu bonito blog os textos de suas amigas. É isso aí, a mulher faz a diferença. Beijão. Lêda

Noemi Almeida disse...

Poeta,
Assim como Clara Down, sou goiana, ou melhor, goianiense da gema, plantada neste pedaço de chão, amo o "meu" cerrado e daqui só saio a passeio, e por poucos dias. Sou grata a nossas tradições, a nossa cultura, aos nossos poetas e as nossas escritoras. O nosso folclore é rico e pouco valorizado. Me acho no direito de achar, que o 08 de março é válido sim, que devemos ter um dia especial para nós mulheres, um dia para refletirmos e sermos mimadas e homenageadas. Abraços.

“todos os dias, sobre todos os pontos de vista, eu vou cada vez melhor”
Noemi Almeida.