Mais um belo texto feminino nesta semana em que as sociedades machistas, em seu cinismo coletivo, definem um dia para que, ao menos nesse dia, as mulheres sejam reverenciadas.
Agora, a autora é outra da minha especial estima: Clara Dawn.
Confiram!
(L.deA.)
A verve mulher
por Clara Dawn
Que sorte a
minha! Nascer mulher, brasileira e, melhor que isto: nascer em Goiás... Mas é
verdade que eu tenho ido muito á Inglaterra, aprontar seriais travessuras com
Agatha Christie. A Portugal, a fim de me emocionar com a poesia feminina e gritante
de Florbela Espanca. Mas quando dou por mim, estou eu, cá no Brasil, a passear com Nélida
Piñon numa praia do Rio de Janeiro e embarco com ela em seu romance “Madeira
Feita Cruz” que não é outra coisa senão a irradiação do espírito feminino,
rompendo os limites do mundo. Num repente entrarmos na “Ciranda de Pedra” de
Lígia Fagundes Teles em São Paulo... e constatar que Lígia transcendeu a frieza
daquela cidade - tanto faz, a luz de São Paulo é a verve de Lídia.
Avanço alguns
passos e defronto-me com a obra superlativa de Raquel de Queiroz, traduzida em
vários idiomas, que leva ao mundo o estilo denso de uma mulher à frente, muito
à frente de seu tempo...
Quero ir além,
mas o meu amor dissoluto me chama -
meu Goiás - e me prende aos
“Elos da Mesma Corrente” de Rosarita Freury. É aqui que eu sou forte e
inoxidável. É neste chão goiano que flutuo na bolha de sabão de Yêda Shumaltz,
conto causos cômicos com Lêda
Selma; embarco nas aventuras infantis de Augusta Faro; mergulho nas palavras líricas
e saudosas de Heloísa Helena e me
cativo com gosto à prosa poética de Malú Ribeiro. Resta-me ainda energia para
comprar bilhetes, só de ida, ao universo incomparável de Darcy Denófrio, e nos
poemas de Ana Braga e Alcione Guimarães serei eternamente voluntária a mercê de
suas quimeras.
Neste cerrado
meu, neste Goiás tão meu, tão eu, existo a confabular reflexiva. Numa reflexão
que, perdoe-me a ressalva, leva-me a precisar que a França nos deu Simone de
Beaouvoir, a Inglaterra deu ao mundo Agatha Christie e Virgínia Woolf, a
Ucrânia deu-nos Clarisse Lispector para ser brasileira. Do Ceará brotou Raquel
de Queiroz, São Paulo deu-nos “A Muralha” de Dinah Silveira e “As meninas” de Lígia
Fagundes Teles. Mas Goiás rendeu escritoras, cujo talento poético e narrativo transcende o que
eu posso descrever em 3.500 caracteres. Mulheres, como eu, que amam o seu
Estado e o leva consigo em seus escritos. Por isso, incondicionalmente encerro
esta crônica com a singela descrição de uma verve-mulher-goiana: “A gleba está
dentro de mim. Eu sou a terra/(...) A gleba me transfigura, sou semente, sou
pedra./Em mim a planta renasce e floresce, sementeia e sobrevive./Sou a espiga
e o grão fecundo que retornam à terra./Eu sou a terra milenária, eu venho de
milênios./Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada e fecundada/No ventre
escuro da terra”(CORALINA, 1985, p. 107-109).
* * *
9 comentários:
Talentosa, bonita e mulher.
Perfeita...
Perfeita...
Bravo! Bravo, Clarinha. Uma homenagem singela como a luz que emana de sua natureza. Mulheres valorosas de Goiás e é claro, Clara entre elas. Por isso e por muito mais, louvo-te. Nick Massaud
A verve das mulheres tem mesmo que ser sempre exaltada, pois são elas que criam o mundo mentalmente e ele se torna tal qual a força do seu pensamento. São essas grandes escritoras, formadoras de opinião, que ditaram e ditam os rumos deste nosso Brasil.
Parabéns, escritora Clara, pelo belíssimo texto. Parabéns, poeta Luiz, pelo espaço disponibilizado à nossa goiana talentosa.
Que beleza de Clara, Luiz! a gente vai lendo como se levada pela mão, Leve, comovente. Pra nos deparar, ao final, com Cora. Abençoada mulheres.
Caro amigo, poeta Luiz de Aaquino, bendito és entre as mulheres! E que mulheres! Parabéns a ti e a elas, maravilhosas divas!
Li o texto da Clarinha, gostei e sou-lhe grata por citar-me.
Que bom, Luiz, você acolher em seu bonito blog os textos de suas amigas. É isso aí, a mulher faz a diferença. Beijão. Lêda
Poeta,
Assim como Clara Down, sou goiana, ou melhor, goianiense da gema, plantada neste pedaço de chão, amo o "meu" cerrado e daqui só saio a passeio, e por poucos dias. Sou grata a nossas tradições, a nossa cultura, aos nossos poetas e as nossas escritoras. O nosso folclore é rico e pouco valorizado. Me acho no direito de achar, que o 08 de março é válido sim, que devemos ter um dia especial para nós mulheres, um dia para refletirmos e sermos mimadas e homenageadas. Abraços.
“todos os dias, sobre todos os pontos de vista, eu vou cada vez melhor”
Noemi Almeida.
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