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A mais bonita dentre todas as estações do Rio de Janeiro; aí, por seis anos, tomei o trem diariamente para ir às aulas. |
Marechal
Hermes, 100 anos
Era março, dia 11, 1956. Deixamos Caldas Novas, numa
carona aérea, rumo ao Campo de Marte, em São Paulo, por volta de nove horas da
manhã – comigo, as tias Leda e Vitala. O avião era de uso do comandante da base
aérea de destino, e o convite fez-nos o então tenente Augusto Rodrigues da
Cunha.
Pernoite em São Paulo, na
casa do “tio” Augusto. Na madrugada do dia 11, um ônibus para o Rio de Janeiro.
Eu, aos dez anos, gostava de ler revistas e jornais, além de livros e gibis.
Conhecia, pelas propagandas em O Cruzeiro – a revista mais nacional de todos os
tempos – a marca (logo) da famosa companhia de ônibus Cometa – um cachorro
galgo, simbolizando rapidez.
Depois, um táxi da Praça Mauá (onde era a rodoviária
do Rio) até a Central do Brasil, e, finalmente, Marechal Hermes! As duas
palavras, que significavam nada, isoladamente, para o menino do interior de
Goiás, viraram paisagem. E ali vivi até julho de 1963, o que equivale a um
conceito final: minha adolescência tem as formas e cores de Marechal Hermes e
do Colégio Pedro II, com a Escola Evangelina Duarte Batista a lembrar-me os
tempos de preparatório para o Ginásio – um empenho que, para mim, exigia mais
que os vestibulares que prestei anos depois.
Era o tempo da minha nova família – a família de
minha mãe. Dona Lilita decretara, eu iria morar com a Vó, ser tutelado pelo tio
Ângelo e sempre norteado, também, pelas tias: Vitala, Wanda, Norma, Leda e,
fora do ambiente daquele sobrado 1.495 da Rua João Vicente, a tia Míriam.
Restam-me duas dessas mães que faziam as vezes de Dona Lilita – Vitala, que
mora em Porto Alegre, ainda lúcida e saudável aos 96 anos, e Míriam (as demais
reúnem-se com minha mãe no Plano Superior).
Fora de casa, Marechal era aquela estação de trens –
a mais bela do Rio de Janeiro. E é também o bairro dos sobrados “do lado de cá”
– e, do “lado de lá”, a fábrica de vagões e o largo onde se montava o coreto a
cada carnaval. No quotidiano, a Escola Evangelina (na praça frontal, no próximo
Dia do Trabalhador, 1º de maio, haverá a festa do Centenário); o cursinho de
Dona Líbia, na Rua 7 (Eng. Assis Ribeiro) e, aos domingos, a reunião na tropa
de escoteiros sob o comando do Chefe Cidade, no pátio da Igreja Nossa Senhora
das Graças – perto do Teatro Armando Gonzaga, do Hospital Carlos Chagas e da
Delegacia que, na época era, se bem me lembro, do 20º DP.
Por arremate destas lembranças, o trem – condutor
diário até São Cristóvão, perto do Morro da Mangueira e do Maracanã – e o
caminhar de dez minutos até o colégio. O cinema Lux, “o redondo” na Praça
Montes; o “footing” na praça – que, a rigor, não era a praça, mas a avenida
General Osvaldo Cordeiro de Faria –, as lindas meninas que representavam o Clube
Marã (algumas tornaram-se vitoriosas nos concursos de misses). E o palacete
onde, por uns tempos ainda, viveu a famosa Nair de Tefé, a segunda mulher do
Marechal que criou o bairro e presidiu o Brasil.
Não posso ir à festa do Centenário, mas um amigo
daqueles tempos – o tenente-coronel Paulo Pedro Pinto, da FAB, menino dos meus
tempos iguais, morador do conjunto habitacional junto ao Colégio José Accioli –
há de contar-me de tudo, para meu deleite, pois a informação, ao seu modo,
supre carências.
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