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sexta-feira, maio 17, 2013

Aos de casa, as batatas


O Beatle remanescente, em Goiânia, a 6 de maio, tietado por gafanhotos. A foto é de Dina Sousa (colhi na Internet)

Aos de casa, as batatas


Ah, a velha cantilena! Que vocação estranha é essa nossa, de alcance quase unânime no país, de ovacionar o que vem de fora e condenar ao ostracismo o que é nosso, hem? É histórico isso. Não fui ver Paul Macar… como é mesmo que se escreve? Ah!  McCartney – achei no Google. É que nunca fui chegado a idolatrar estrangeiros (aprendizado da adolescência rebelde com grande dose de consciência), salvo grandes e graves exceções, como Sabin, Gandhi, Sinatra, Armstrong, Da Vinci etc. e tal.


Amauri Garcia, talento goiano na música e na notícia
Mas, voltando ao tema, adoramos dobrar colunas  cervicais  (neste caso, deviam ser serviçal, ou servil mesmo) ao adventícios e visitantes. Lembro-me que, no final da década de 70 – há mais de 30 anos, pois – passou por aqui, com espetáculo no Estádio Serra Dourado vazio, um xou com o sugestivo nome de “Sabor bem Brasil” em que atuavam Grande Otelo, Clara Nunes, Caçulinha, Luiz Gonzaga, Valdir Azevedo, João Bosco e Altamiro Carrilho. Pois esse elenco de virtuosos da nossa música não conseguiu pôr uns poucos milhares de pessoas na plateia. Mas o ex- Beatle, ah!... Como dizia Tom Jobim: “Não vale! São quatro e falam inglês desde que nasceram”.

Dois baluartes: o poeta e crítico literário Gilberto Mendonça Teles com o cantor e compositor Pádua. Só podia ser em Pirenópolis!

A coisa se repete na esfera doméstica. Quero dizer, em Goiás, basta vir de fora para fazer sucesso.

Paro por aqui, já que a Leda Selma ameaça vir aqui, à minha casa, puxar-me as orelhas. Ela está certa: somente eu me exponho. Os “líderes” culturais da cidade, de todos os segmentos, posam, alinhados, de subservientes súditos, cabisbaixos, olhos semicerrados, sem coragem de sequer balbuciar: “O rei está nu”. Estão nus o rei e toda a sua corte, mas não serei eu, pois, quem mostrará o umbigo fosco e sujo de Sua Majestade, nem a verruga nas nádegas de alguma princesa, a fimose de algum conde ou... Sim, deixemos pra lá!


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COBRANÇA

Alguns "afilhados" agiram como manda a regra de bem-viver, presenteando-me com sua obra. Aguardo o mesmo dos outros...

E é por deixar pra lá que marquei uma linha com o pontilhado. Tenho aqui, comigo, uma meia-dúzia de livros recém saídos das prensas da Editora Kelps, permutados com colegas escribas de prosa e verso. Alguns, de “afilhados”, quero dizer, de escritores amigos, a maioria estreantes, a quem mostrei o caminho, emprestei a lamparina e apontei o rumo no emaranhado de túneis. No todo, entre os 204 novos livros com o mesmo conceito de capas, indiquei pelo menos oito, nos quais escrevi prefácios e comentários para orelhas e contracapas. Fico muito feliz com isso –  a missão intransferível de orientar os que procuram rumos.

Mas, gente, nem todo “afilhado” é bem educado para, num gesto comum que equivale a bom-dia, ofertar-me seu livro – e são livros de estreia! E não é mero esquecimento, pois cobrei de cada um deles, pois, se lhes proporcionei um texto, é importante que eu tenha, em estante especial, seus exemplares publicados.

Portanto, queridos “afilhados”, ajam! O “padrinho” está enciumado – e com razão, logicamente.


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5 comentários:

Sônia Elizabeth disse...

É, poeta Aquino, nós outros aqui dos Goyazes parece que não fazemos falta mesmo no gosto das platéias. Por essas e outras a gente desanima de exercer a arte em nosso Estado. E isso é a nível de Brasil mesmo. Mas vamos indo, porém.

Mara Narciso disse...

Montes Claros não é importante e nem tem gente o bastante para ser palco de show de um Paul McCartney, porém Roberto Carlos vem cá, dia 9 de junho, depois de décadas. Interessante que esse senhor, que eu sei que você abomina, foi meu ídolo dos 11 aos 18 anos, e depois não mais. De longe fui acompanhando suas músicas. Agora está de volta. Eu não vou. Considero um feito, esses senhores fazerem sucesso por mais de 50 anos. Para concorrer com eles só mesmo Carlos Gardel. Concordo que os de dentro deveriam ter também seu direito ao sucesso e os estreantes precisam enviar-lhe os livros com urgência. "Povinho sem costume", como diria meu mau-humorado pai.

Sueli Soares disse...

Somos menos brasileiros entre muitos "brazileiros"! Os que falam demasiadamente em globalização estão esquecendo suas raízes e desvalorizando tudo o que produzimos. Quanto aos seus afilhados, puxe-lhes as orelhas, mesmo, porque estão dormindo em berço nem tão esplêndido (mantendo a acentuação), porque invadido por usurpadores. Minha avó dizia que a ingratidão mata a afeição Os cubanos estão chegando!

malu disse...

Grata meu amado padrinho!Sem você este livro só estaria nos sonhos....Não me abandone ,estou indo para o segundo....

Papepi disse...

Caro amigo Poeta, concordo com suas palavras. Acabei de enviá-lo um email sobre a apresentação da Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil, se apresentando no festival Edimburgh Military Tottoo 2011, na Escórcia, inclusive utilizando a gaita de Foles. Um xou (gostei)espetacular! Precisamos valorizar o que é nosso. Eu, sempre que possível e dentro das minhas limitações, procuro incentivar os eventos de iniciativa popular. Lá em Caravelas-Ba (aproximadamente 20 mil habitantes) ,onde tenho uma casinha, a maioria dos eventos culturais são sustentados por alguns abnegados de origem simples, com ajuda de uns poucos com mais recursos. É importante dizer, que, infelizmente, mesmo com a dedicação dessa pessoas muitos eventos da cultura local foram esquecidos através do tempo. Uma pena! Por isso o meu apoio às suas palavras: temos que aprender a valorizar o que é nosso, das nossas raízes... Um grande abraço do amigo marechalense. Paulo Pedro Pinto