José J. Veiga, por Almir |
José J. Veiga, Ano 100
O dia, há 99 anos,
transcorria como sempre numa humilde casa no meio rural entre Pirenópolis e
Corumbá de Goiás, a rotina quebrada apenas porque um choro novo tomou conta do
espaço. Nascia José, filho de Luís Pereira Veiga e Maria Marciana Jacinto
Veiga. No registro civil, o nome é simplesmente José Veiga.
Foi o escritor João
Guimarães Rosa quem calculou e sugeriu ao contista, que estreava naquele 1959
com o livro “Os Cavalinhos de Platiplanto”, adotar um nome literário mais
apropriado. É que Guimarães Rosa, festejado autor de obras marcantes na
literatura brasileira, era apreciador de numerologia; analisando o nome do
amigo goiano, concluiu que faltava algo; mas José respondeu-lhe que aquele era
seu nome todo: José Veiga.
O autor de “Grande Sertão:
Veredas” pegou os nomes completos do pai e da mãe de José e pôs-se a calcular.
Não aproveitou o Pereira do pai, nem o Jacinto da mãe – mas a letra J somava-se
bem aos valores de j-o-s-e-v-e-i-g-a. E assim, literariamente, José passou a
assinar tal como todos sabemos – José J. Veiga.
Em alguma de nossas
conversas, ele destacou que suas obras deviam sempre ter títulos com quatro
letras; e exemplificou com “A máquina extraviada”, que não se revelou na
primeira edição, mas ao ter o nome acrescido – “A estranha máquina extraviada”
– caiu bem no gosto dos leitores.
José J. Veiga não gostava
quando alguém dizia “José Jacinto Veiga”; e há algum site na Internet que o dá
como José Jacinto Pereira da Veiga, informações essas improcedentes. Também não
gostava que abreviassem seu nome para J. J. Veiga – e estava certo: se o nome
José J. Veiga obedecia a uma equivalência numeral, que se mantenha assim...
Bem: hoje, domingo, 2 de
fevereiro (claro que escrevo de véspera e esse “hoje” é virtual, pois!), é o
aniversário de 99 anos do meu saudoso amigo e referencial como escritor e ser
humano. Recordo meu bisavô Donato Ríspoli, que contava sempre “a casa do ano”
que transcorria, e não os anos completos; por essa medida, José estaria contando,
a partir do dia 3, seus 100 anos (que se completam, obviamente, em 2015).
Veiga morreu aos 84 anos,
justo no dia do aniversário de minha mãe, 19 de setembro, em 1999. Coincidência
sim; mas há uma outra: no dia em que José completou 20 anos nasceu minha tia
Miriam, irmã caçula de minha mãe. Por isso, este é um domingo de dupla festa
para mim, festa que faço no meu íntimo porque a tia querida está lá no Rio de
Janeiro e eu aqui, limitado a afazeres e condições que impedem-me de comemorar
com ela...
Ao comemorar o primeiro dos
quatro grandes escritores goianos de 1915, anuncio, um ano antes, o ano próximo
como aquele que as entidades literárias e toda a rede escolar de Goiás deverá
marcar em seus programas de modo feliz e grave: José J. Veiga (2 de fevereiro),
Eli Brasiliense (18 de abril), Bernardo Elis (15 de novembro) e Carmo Bernardes
(2 de dezembro) completam seu centenário.
E a festa é nossa!
* * *
2 comentários:
Amigo Aquino:
Bom saber da faceta de numerólogo do Guimarães Rosa. Antes de ler sua crônica, postei a minha, coincidentemente, falando de jogos da imaginação, no meu caso, do tarot.
Meu pai, Antônio Demerval Dutra, é de 20/05!1915. Só que continua vivo e o passatempo preferido dele é ler.
Abrações
Os três últimos estão vivos, decerto. Os imortais não devem nunca ser esquecidos. Boa crônica ao trazer fato curioso da biografia do escritor José J. Veiga. Bom saber.
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