Castro Alves |
Um dia
de Poesia
Lá pelos idos dos anos
80, um poeta jovem daqui da terrinha, Tagore Biram, conseguiu que a Câmara
Municipal de Goiânia aprovasse uma decisão bonita: todos os anos, em dia mais
próximo a 14 de marco, haveria uma sessão especial daquela Casa de Leis voltada
exclusivamente para a Poesia. Tagore Biram mudou-se, foi morar no Chile, foi
morrer no Chile (precocemente, aos 40 anos, em 1998). E desde que ele se foi, a
Câmara Municipal de Goiânia e nós, os poetas goianienses, esquecemo-nos daquela
decisão legal.
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As casas de leis (já que
citei a Câmara Municipal de Goiânia), todas elas, contratam “experts” da Língua
para finalizar os textos de seus “diplomas legais”; as empresas e repartições
públicas procuram conhecedores
(redatores) para não fazer feio em seus textos oficiais. E muitos são os
gestores, públicos e da iniciativa privada, que não disfarçam o orgulho por
contar com um profissional literato em seus quadros (bem podiam pensar em
remunerar melhor tais profissionais; mas o comum é pagar bem a uns raros
profissionais e aos fornecedores de drogas, não é mesmo?).
Os poetas, em resumo,
servem bem é à história dos povos. Isso, desde a antiga Grécia, séculos antes
de Cristo. São inesquecíveis os poetas romanos e os que pontearam os fatos e
feitos da humanidade ao longo também das chamadas Idade Média e Idade Moderna;
foi Luís de Camões quem consolidou a nação lusitana com sua profícua produção
poética, e seu contemporâneo Guilherme Shakespeare imortalizou a Língua Inglesa
com seus poemas e peças teatrais, em textos igualmente imortais.
Shakespeare |
No Brasil do Século XIX,
o moço Castro Alves, nascido em 14 de Marco de 1847, expressou-se com força a
maestria, a ponto de ser cognominado O Poeta dos Escravos. A partir dele, o
movimento abolicionista ganhou corpo entre os intelectuais brasileiros. E em
Cuba, José Martí surgiu, atuou e morreu marcado pela poesia e pela bravura de
seus atos em combates pela liberdade. Neruda simboliza o Chile; Jorge Luís
Borges, a Argentina; Pessoa, o Portugal destes tempos...
Gilka Machado |
Eugênia Moreira |
O Século XX, no Brasil,
foi o período em que as mulheres despontaram também no fazer poético, e
reporto-me a Gilka Machado, poetisa que, ao lado da jornalista Eugênia Moreira,
escandalizavam a Capital Federal da década de 20, totalmente renovada pelas ações
do prefeito Pereira Passos. Gilka escrevia poemas atrevidos até mesmo para os
conservadores de agora; e Eugênia Moreira fumava charutos, falava palavrões e
contava piadas “masculinas”... Era o Brasil do primeiro pós-guerra, aquele.
Outro viria vinte anos após e renovaria o surto de novidades chocantes. A
proliferação da Poesia no Brasil estava determinada e era irreversível.
Até eu me tornei poeta
(desde 1961). Os primeiros poemas, felizmente, perderam-se no tempo, eram
concebidos pela inocência de um adolescente ginasial, desde sempre um “menino
apaixonado”, como me define, para aquela época, minha amiga Laurita da Luz, que
escolheu para marido o meu melhor amigo, Paulo Fernando. E foi ela que, lá
pelos idos de 1976, com uma curta frase ao telefone, cobrou-me a voltar à
escrita dos versos.
E nunca mais parei.
* * *
5 comentários:
Está bonita, cheirosa e saborosa a sua crônica Luiz, ou seja, atendendo a todos os cinco sentidos, pois enquanto vou escrevendo vou presenteando ao meu tato. Descreveu a coisa poética com a maestria dos entendidos. Eu não faço reparo nenhum, e afirmo que acrescentou muito a esse metiê (fr: métier). Palmas aos poetas.
Poeta,
Fazendo agora um post especial sobre o Tagore, noto que a foto do seu post é do "inimigo cordial"dele, Tagore, o sr. Pio (ícone?!) Vargas...
Obrigado por avisar-me, querido poeta Adalberto de Queiroz - como vê, já providenciei a troca!
O poeta Pio Vargas foi outro que nos deixou muito cedo, em 1990, aos 26 anos.
Laurita da Luz, parabéns por sua inciativa de ligar para Luiz e cobrar-lhe sua produção!
Hoje somos privilegiados por termos em nosso repertório cultural goiano e brasileiro o artista
Luiz de Aquino, que a cada momento nos surpreende com uma nova poesia ou ainda nos faz refletir
criticamente a cada semana com suas crônicas tão bem pensadas e escritas!
Obrigada Luiz!
De fato, Luiz de Aquino, dois jovens poetas mortos.
Sobre o TAGORE BIRAM, escrevi hoje; sobre o Vargas, nem um PIO.
Convido seus leitores a visitar o post sobre o Tagore goyano.
https://betoq55.wordpress.com/2016/07/31/tagore-biram-1958-1998/
Abraços,
Beto.
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