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sexta-feira, março 28, 2014

Segurança na ditadura é a paz nos cemitérios


Cemitério militar brasileiro em Pistoia, Itália. Aqui, os heróis brasileiros da II Guerra foram sepultados. Os militares remanescentes daquela campanha não concederam essa dignidade às suas vítimas, inimigos do regima de arbítrio. Foto: http://peledebufalo.blogspot.com.br/

Segurança na ditadura é a paz nos cemitérios


O comediante Marcelo Madureira, do Casseta & Planeta, tem atuado como, digamos, um analista de variedades na Rádio CBN, em entrevistas semanais ao âncora Milton Yung, e na última sexta-feira, 28/3, ele falou do corte de cabelo que o ditador da Coréia do Norte impôs aos homens de lá.

É preciso explicar: as mulheres norte-coreanas podem escolher entre 18 modelos de corte de cabelos; os homens, entre oito tipos. Agora, estes têm que seguir apenas um padrão – o corte que usa o supremo mandachuva do país (não esperem que eu escreva o nome dele; além de complicado, acho que ele não merece essa homenagem).

O humorista ironizou, disse estar usando o novo corte coreano e  definiu ditaduras e ditadores. Contou que era muito jovem no final da ditadura no Brasil (1985), atuava na política universitária (“também pus o meu na reta”) e disse tentar, sempre, esclarecer aos mais moços que, nas redes sociais, evocam o retorno dos militares, “para impor a ordem”.

E é ele, Madureira, quem adverte os moços: “Olha! A segurança dos militares é a paz dos cemitérios”. Ou não – digo eu, lembrando: existe a enorme lista de desaparecidos, ou seja, daqueles corpos que jamais foram entregues. Há quem conte que eles foram lançados ao mar ou sepultados em locais impensáveis, como a massa de compactação de rodovias ou mesmo nas muralhas de concreto de hidrelétricas.

O que eu digo não é invencionice. O Brasil inteiro viu, na tevê, a fala segura e sem medo do coronel Malhães ante a Comissão da Verdade, falando sobre o sumiço do deputado Rubem Paiva e das atividades na Casa da Morte (Petrópolis, 1971/78): “Acho que eu cumpri com meu dever”, e ainda afirmou que não sabe quantos matou e não se arrepende...

Também desta semana foram as tentativas de realizarem uma nova edição da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, como a que promoveu a classe dominante (entenda-se lideranças financeiras) de São Paulo, apoiando os golpistas, civis e militares, em 1964. Um fiasco atrás do outro, demonstrando que a memória não é tão falha quanto se diz.

Aos desavisados é sempre bom lembrar que, se o PT e seus apoiadores não servem, há escolhas, há meios e providências democráticas a se tomar. A volta do arbítrio só cabe nas cabeças dos mal-informados e dos mal-intencionados.

De minha parte, fica a estupefação ante a cara-de-pau desse coronel Malhães. Como ele, os idealizadores e praticantes das falcatruas desmascaradas nos últimos anos, os matadores de aluguel e os traficantes “cumprem seus deveres”.

Fosse pouco tudo isso, o deputado goiano João Campos quer tirar 1/3 (sim: um terço) da cota da Educação na partilha do Pré-Sal para a Segurança Pública. Que é isso, deputado?! Essa parcela será, sim, muito melhor aplicada na Educação, para ensinar humanidade ao policial e a criança e o jovem a respeitar policiais – como se respeitam bombeiros; isso afastará crianças e jovens da prática de crimes e do uso de drogas como o craque; isso valorizará a escola, evitando a necessidade de se construir presídios.

Ou você, deputado, quer que continuemos gastando mal com a Educação, a ponto de vermos desviados de função como esse coronel Malhães e seus 1íderes, hem?

Prefiro a Liberdade. Prefiro a Educação!


* * *



4 comentários:

Pedro Du Bois disse...

Parabéns, caro Luiz, pelo texto. Uma ressalva em relação ao Madureira: viu-se que a tal "notícia" era apenas um factóide, decorrente, aí, sim, de que o pai do referido mandatário, enquanto vivo (óbvio), ter recomendado aos homens coreanos-do-norte não deixarem seus cabelos compridos. O restante, ponto a ponto: está sendo difícil aos brasileiros (desacostumados) fazerem a transição entre o período ditatorial e a democracia, até por que a dita grande mídia faz de tudo para atrapalhar. Entre tantos males da ditadura foi ter criado esse lapso entre as gerações: o Brasil perdeu seu sentido cívico e ético e ficou (como herança maldita) apenas a "lei de gerson", exacerbada nas vantagens individuais-consumistas. A democracia exige responsabilidade pelos atos, muitos gostariam de permanecer inermes e jogar a responsabilidade sobre seus carcereiros. Forte abraços. Pedro.

Mara Narciso disse...

Palmas para a sua análise, sensata e equilibrada.Igual eu não saberia fazer.

VDS PRODUÇOES disse...

Belo texto, Luiz de Aquino! É deprimente ver que existem pessoas querendo a ditadura no país!

VDS PRODUÇOES disse...

Belo texto, Luiz de Aquino! É deprimente ver que existem pessoas querendo a ditadura no país!