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sexta-feira, março 21, 2014

A Poesia enlutada



A Poesia enlutada


Notícia triste: morreu Belini, o capitão da Seleção Brasileira que, em 1958, trouxe da Suécia o Caneco de Ouro – que conquistamos definitivamente em 1970 e que foi roubado e, dizem, derretido para ser vendido por peso… E o repórter esportivo diz na tevê: “Belini estava com Alzheimer havia dez anos”. Putz! ESTAVA e HAVIA – os dois verbos no passado. Essa gente conseguiu se formar numa profissão que exige bom português! E, o que me soa pior, consegue emprego muito bem remunerado, ainda assim...

Morreu uma mulher pobre, mulata, moradora numa favela de Madureira, no Rio; ela foi atingida por uma bala de fuzil e conduzida, de modo desumano, por três policiais graduados – dois subtenentes e um sargento da PM – no porta-malas da viatura. Além de colocarem-na de modo incorreto no carro, nenhum respeito demonstraram para com a mulher ferida – ela que tinha quatro filhos e cuidava de quatro sobrinhos!

Em Luziânia, nada menos que três ônibus foram assaltados num mesmo dia, a intervalos de poucas horas. Bandidos audaciosos, atrevidos, que atiram para matar (nos últimos quatro meses, a Polícia Rodoviária Federal prendeu 39 bandidos, mas quase todos já estão soltos e, certamente, de volta à ativa, pois isso de ser preso já não os incomoda mais). Um motorista de ônibus interestadual foi morto por esses meliantes. Estamos de volta à barbárie!

Em Goiânia, foi julgado o sujeito que furou, a faca, os olhos da ex-mulher; no Rio, um tenente-coronel foi apenado com 36 anos de prisão em regime fechado por ter mandado executar uma juíza que “incomodava” maus policiais militares. E em Goiânia, outro tenente-coronel foi absolvido pelo júri popular. Ao menos aconteceu o julgamento e em todos os casos podem haver recursos, sempre.

Nas redes sociais, alguns maus brasileiros pregam o retorno dos militares a um regime de exceção no país. Engraçado: são pessoas insatisfeitas com o governo do PT e aliados, mas essa gente só enxerga dois segmentos – o PT e seus apoiadores de um lado, e os sanguinários militares e seus áulicos do outro.

O áulicos do regime militar que infernizou a vida brasileira de 1964 a 85 justificam, para Renato Dias, a qualificação daquele período como “ditadura civil e militar”. Ora: se a sociedade é dividida entre civis e militares, basta suprimir a expressão “militar” e a coisa fica no genérico, não? Mas o que esperar... Hoje, há que se referir sempre a dois gêneros – nas solenidades, os “politicamente corretos” saúdam “todas e todos”, sempre. Para mim, é outra baboseira, tal como dizerem “ESTAVA doente HAVIA dez anos”.

Nas minhas andanças por escolas fundamentais, médias e superiores, constato que o alunado, de qualquer nível, quer aprender, quer fazer sempre o melhor. Mas incomoda-me concluir que os professores andam com preguiça de bem ensinar. Vai ver, também nos meios policiais militares existem professores e instrutores que preferem ensinar a prática da truculência – como jogar uma mulher ferida no porta-malas da viatura – que a respeitar o ser humano. E, pelo que vemos nas cenas de tevê, o remorso é um sentimento desprezível entre as “autoridades” fardadas. Será? Essa gente precisa aprender, também, a praticar o pedido de perdão. Até porque, quando colocados “do outro lado”, eles gostam de receber perdões e indulgências – ou absolvições.

Uma semana dolorosa, essa que passou... E foi justamente a Semana da Poesia, para o poetariado brasileiro (obrigado, poeta Valdivino Braz, pelo coletivo que nos qualifica), a semana de 14  a 21 de março, os dois dias da Poesia (no Brasil e no Mundo, respectivamente). Podia ter havido mais amor, mais respeito, mais sorrisos e flores. Mas tivemos, ainda, a denúncia constrangedora da compra, a preços super elevados, de uma refinaria sucateada (dizem), pela Petrobrás, nos Estados Unidos.

Que triste, hem, amigos?


* * *


2 comentários:

Sônia Elizabeth disse...

Em sua crônica, amigo poeta, você discorreu sobre acontecimentos amargos de nosso cotidiano. E fechou com a menção ao Dia Mundial da Poesia. Então ficamos até um pouco "envergonhados" de falar dessa arte num mundo tão hostil. Mas resta continuar navegando nos braços poéticos da existência. Um abraço

Mara Narciso disse...

Noticiário indigesto e meio. É inconcebível que se jogue num porta-malas uma pessoa ferida. Melhor se tivesse deixado a mulher ao relento, mas para os militares daquele plantão, ela já não era uma pessoa, era unicamente um trambolho.