A Poesia
enlutada
Notícia triste: morreu
Belini, o capitão da Seleção Brasileira que, em 1958, trouxe da Suécia o Caneco
de Ouro – que conquistamos definitivamente em 1970 e que foi roubado e, dizem,
derretido para ser vendido por peso… E o repórter esportivo diz na tevê:
“Belini estava com Alzheimer havia dez anos”. Putz! ESTAVA e HAVIA – os dois
verbos no passado. Essa gente conseguiu se formar numa profissão que exige bom
português! E, o que me soa pior, consegue emprego muito bem remunerado, ainda
assim...
Morreu uma mulher pobre,
mulata, moradora numa favela de Madureira, no Rio; ela foi atingida por uma
bala de fuzil e conduzida, de modo desumano, por três policiais graduados –
dois subtenentes e um sargento da PM – no porta-malas da viatura. Além de
colocarem-na de modo incorreto no carro, nenhum respeito demonstraram para com
a mulher ferida – ela que tinha quatro filhos e cuidava de quatro sobrinhos!
Em Luziânia, nada menos que
três ônibus foram assaltados num mesmo dia, a intervalos de poucas horas.
Bandidos audaciosos, atrevidos, que atiram para matar (nos últimos quatro
meses, a Polícia Rodoviária Federal prendeu 39 bandidos, mas quase todos já
estão soltos e, certamente, de volta à ativa, pois isso de ser preso já não os
incomoda mais). Um motorista de ônibus interestadual foi morto por esses
meliantes. Estamos de volta à barbárie!
Em Goiânia, foi julgado o
sujeito que furou, a faca, os olhos da ex-mulher; no Rio, um tenente-coronel
foi apenado com 36 anos de prisão em regime fechado por ter mandado executar
uma juíza que “incomodava” maus policiais militares. E em Goiânia, outro
tenente-coronel foi absolvido pelo júri popular. Ao menos aconteceu o
julgamento e em todos os casos podem haver recursos, sempre.
Nas redes sociais, alguns
maus brasileiros pregam o retorno dos militares a um regime de exceção no país.
Engraçado: são pessoas insatisfeitas com o governo do PT e aliados, mas essa
gente só enxerga dois segmentos – o PT e seus apoiadores de um lado, e os
sanguinários militares e seus áulicos do outro.
O áulicos do regime militar
que infernizou a vida brasileira de 1964 a 85 justificam, para Renato Dias, a
qualificação daquele período como “ditadura civil e militar”. Ora: se a
sociedade é dividida entre civis e militares, basta suprimir a expressão
“militar” e a coisa fica no genérico, não? Mas o que esperar... Hoje, há que se
referir sempre a dois gêneros – nas solenidades, os “politicamente corretos”
saúdam “todas e todos”, sempre. Para mim, é outra baboseira, tal como dizerem
“ESTAVA doente HAVIA dez anos”.
Nas minhas andanças por
escolas fundamentais, médias e superiores, constato que o alunado, de qualquer
nível, quer aprender, quer fazer sempre o melhor. Mas incomoda-me concluir que
os professores andam com preguiça de bem ensinar. Vai ver, também nos meios policiais
militares existem professores e instrutores que preferem ensinar a prática da
truculência – como jogar uma mulher ferida no porta-malas da viatura – que a
respeitar o ser humano. E, pelo que vemos nas cenas de tevê, o remorso é um
sentimento desprezível entre as “autoridades” fardadas. Será? Essa gente
precisa aprender, também, a praticar o pedido de perdão. Até porque, quando
colocados “do outro lado”, eles gostam de receber perdões e indulgências – ou
absolvições.
Uma semana dolorosa, essa
que passou... E foi justamente a Semana da Poesia, para o poetariado brasileiro
(obrigado, poeta Valdivino Braz, pelo coletivo que nos qualifica), a semana de
14 a 21 de março, os dois dias da
Poesia (no Brasil e no Mundo, respectivamente). Podia ter havido mais amor, mais
respeito, mais sorrisos e flores. Mas tivemos, ainda, a denúncia constrangedora
da compra, a preços super elevados, de uma refinaria sucateada (dizem), pela
Petrobrás, nos Estados Unidos.
Que triste, hem, amigos?
* * *
2 comentários:
Em sua crônica, amigo poeta, você discorreu sobre acontecimentos amargos de nosso cotidiano. E fechou com a menção ao Dia Mundial da Poesia. Então ficamos até um pouco "envergonhados" de falar dessa arte num mundo tão hostil. Mas resta continuar navegando nos braços poéticos da existência. Um abraço
Noticiário indigesto e meio. É inconcebível que se jogue num porta-malas uma pessoa ferida. Melhor se tivesse deixado a mulher ao relento, mas para os militares daquele plantão, ela já não era uma pessoa, era unicamente um trambolho.
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